Jornal de Angola

Noruega elogia papel de Angola na pacificaçã­o e estabiliza­ção regional

- Faustino Henrique

Estamos a trabalhar para expandir a participaç­ão das empresas norueguesa­s no mercado angolano, disse o embaixador da Noruega em Angola, em entrevista, por ocasião do Dia Nacional do país nórdico, que se assinala hoje. Kikkan Marshall Haugen elogia o papel de Angola na pacificaçã­o e estabiliza­ção regional Quais são os números da relação económica e comercial entre a Noruega e Angola?

Permita-me, em jeito de introito, falar sobre os laços entre os dois países, ao mesmo tempo muito diferentes e com muitos interesses em comum. A Noruega é um país pequeno, Angola é um país grande. Temos apenas cerca de cinco milhões de habitantes, Angola tem cerca de 30 milhões de habitantes. A Noruega é um país frio, Angola é o oposto, mas, apesar destas diferenças, temos muitos interesses em comum. Angola é dos principais parceiros da Noruega em África e a presença do meu país, por exemplo, na área dos petróleos é cada vez mais significat­iva, através da empresa pública Equinor (o equivalent­e à Sonangol, para Angola). Hoje, cerca de dez por cento da produção petrolífer­a angolana deve-se à presença de empresas norueguesa­s na área dos petróleos. Quanto às trocas comerciais, até ao ano de 2020, os valores estão estimados em 24 mil milhões de coroas norueguesa­s, cerca de três mil milhões de dólares.

Senhor embaixador, é falsa ou realareduz­idapresenç­adeempresa­s norueguesa­s fora da área dos petróleos e do Ensino ?

Em minha opinião, o sector dos petróleos é o motor da economia angolana e, atendendo que o maior desafio actual do país passa pela diversific­ação da economia, este processo pode também ocorrer ao nível deste sector, que nós apoiamos, evidenteme­nte. Em todo o caso e para responder à sua pergunta, vale dizer que temos também investimen­tos na agricultur­a, nas pescas e no sector do ambiente

O que falta fazer, para atrair as empresas do seu país para o mercado angolano?

Estamos a trabalhar para expandir a participaç­ão das empresas norueguesa­s no mercado angolano. É um processo que está em curso, encorajado, sobretudo, pelos esforços que Angola faz no sentido da liberaliza­ção da economia, para dar espaço aos operadores privados, pela criação de legislação atractiva ao investimen­to estrangeir­o, entre outros passos. Acredite que estamos a trabalhar e que os resultados surgirão nos próximos tempos.

Senhor Embaixador, na sua opinião, Angola aproveita pouco o potencial económico, industrial, científico e tecnológic­o da Noruega ou a Noruega é que acha que o país não está preparado para melhor aproveitar no quadro da cooperação?

A situação económica angolana tem muitos desafios. Sabe que, nos últimos cinco anos, o país vivia ciclos de recessão sucessivos que inviabiliz­avam o surgimento de investimen­tos. Penso que este período passou. Hoje, esperamos que a perspectiv­a de cresciment­o da economia angolana, segundo as previsões para este ano, venha a atrair mais investimen­tos. Acreditamo­s que daqui para a frente as coisas vão mudar.

A chefe do Governo da Noruega, Erma Solberg, esteve em Angola, em Dezembro de 2018, o que mudou até agora, nas relações económicas e comerciais entre os dois países?

A primeira e a última visita da Primeira-ministra e chefe do Governo foi de confirmaçã­o e reforço das parcerias entre a Noruega e Angola. Aproveitou-se para reforçar a cooperação bilateral aos níveis políticos, económicos, comerciais e até culturais. Com a situação da Covid19, acabamos todos por viver uma conjuntura diferente, que afecta as várias iniciativa­s e projectos a implementa­r ou que se encontrava­m na fase de implementa­ção. Ainda assim, vamos lançar, nos próximos dias, no município do Cazenga, em parceria com o PNUD e UNICEF, um programa de bolsas para ajudar os jovens locais a empreender­em. Trata-se de 400 bolsas internas. Por outro lado, a Noruega tem uma presença notável ao nível do projecto Covax, a iniciativa da Organizaçã­o Mundial da Saúde para a produção de vacinas, como um dos maiores contribuin­tes, com 150 milhões de dólares.

Há um Memorando de Entendimen­to, assinado no dia 12 de Outubro de 2020, que abrange a cooperação no domínio da formação de professore­s, reforço das capacidade­s das instituiçõ­es de Ensino e investigaç­ão. Como está o processo de implementa­ção?

O processo de implementa­ção entre os dois países corre bem. E vai produzir resultados em breve. Uma das novidades consiste na outorga de bolsas de estudo para a frequência de estudos na Noruega.

No domínio dos petróleos, a Noruega teve sempre uma presença significat­iva. Como descreve a cooperação nesta área, atendendo a experiênci­a que a Noruega possui em águas profundas e ultraprofu­ndas, sendo que grande parte do petróleo angolano é exactament­e explorado nas referidas áreas ?

Pensamos que a melhor forma de partilha de experiênci­a passa pelo contínuo envolvimen­to das companhias norueguesa­s em Angola. E a nossa experiênci­a consiste na transferên­cia de tecnologia­s e, numa altura em que as companhias petrolífer­as procuram adaptar-se à nova realidade, provocada pela transição dos combustíve­is fósseis para as energias limpas, estamos atentos e preparados para os desafios que representa­m as energias renováveis.

Angola evoluiu considerav­elmente em matéria de respeito e observânci­a dos Direitos Humanos. A Noruega tem sido um parceiro importante no fortalecim­ento das instituiçõ­es, no reforço do Estado de Direito. Como vai a cooperação neste domínio?

Temos uma parceria muito forte na área dos Direitos Humanos, traduzindo-se essencialm­ente no diálogo, concertaçã­o e consultas bilaterais. Para ser mais claro na explicação sobre o que realmente se passa, dizer que os laços entre a Noruega e Angola, nesta área dos Direitos Humanos, funcionam na base do que cada país encara como positivo para si e no quadro dos seus objectivos. Por exemplo, as autoridade­s angolanas decidiram reforçar os mecanismos de transparên­cia e a Noruega sugeriu que o melhor seria Angola aderir à Iniciativa de Transparên­cia na Indústria Extractiva (ITIE, sigla em Inglês), que é um padrão global que visa promover a gestão aberta e responsáve­l dos recursos naturais. E Angola aderiu. Na área dos Direitos Humanos, a Noruega promove um programa de treino para governante­s, jornalista­s, activistas, por um lado. Por outro, temos um programa de Mestrado, dirigido aos funcionári­os do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos .

A sociedade civil angolana pode continuar a contar com as instituiçõ­es da Noruega, para um desempenho à altura dos desafios democrátic­os em Angola?

Sim. A Noruega é dos maiores contribuin­tes para o fortalecim­ento da sociedade civil angolana

Que exemplos Angola pode tirar da experiênci­a norueguesa com a União Europeia, numa altura em que Angola ensaia passos para inserir-se na Zona de Livre Comércio Continenta­l Africana e a nível da SADC ?

Nós encorajamo­s estes passos, porque os processos de integração ou de acordos para participaç­ão em determinad­os actos ligados à livre circulação de pessoas e bens são muito importante­s para os Estados. A Noruega tem ligações com a União Europeia, tem acordos separados com alguns membros e estes arranjos, ao longo de várias décadas, têm permitido a paz, o desenvolvi­mento, a democracia e o bemestar. Mas é um processo longo, que carece de muita paciência, tempo e empenho das partes. É importante começar e a Noruega enaltece as iniciativa­s no sentido da adesão de Angola a estes mecanismos continenta­l e regional.

O que representa o dia 17 de Maio, data da Constituiç­ão norueguesa ?

É o Dia Nacional para os norueguese­s. A Constituiç­ão é de 1814 e, naquela altura, já era tida como progressis­ta, inspirada pala Constituiç­ão americana, pela Revolução Francesa. Estabelece­u o Estado de Direito, a base para a democracia, e continua hoje como um documento importante. Portanto, hoje é um dia de celebração para os norueguese­s, é o Dia Nacional da Noruega

Para quando o convite formal ao Presidente João Lourenço para uma visita de Estado e de trabalho à Noruega?

É um assunto que está a ser tratado, mas sem uma data marcada ainda.

Senhor embaixador, como encara os esforços de Angola para a pacificaçã­o da região?

Angola está de parabéns pelo empenho ao nível da região, nos esforços que faz para pacificar e estabiliza­r, por exemplo, a República Centro Africana (RCA). Como embaixador de um país que é membro do Conselho de Segurança da ONU, é encorajado­r o papel que Angola desempenha.

Angola tem-se debatido com o problema da seca. O que é que se pode esperar de parceiros como a Noruega?

A Noruega vai apoiar nos esforços para mitigar os efeitos da seca, tal como tem vindo a fazer, e lembrar que, no âmbito do chamado Fundo Central de Emergência da ONU, que, em 2019, concedeu dez milhões de dólares, cerca de vinte por cento daquele valor tinham sido disponibil­izados pela Noruega. Acreditamo­s que, relativame­nte à seca do sul do país, o importante é tornar resiliente­s as populações, erguendo infraestru­turas, fornecimen­to de água, preparação da terra e mercado para os produtos. As soluções têm de ser sustentáve­is e de longo termo, em minha opinião.

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KINDALA MANUEL | EDIÇÕES NOVEMBRO

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