“Pretendemos levar as comunicações com qualidade às zonas rurais”
Em alusão ao Dia Mundial das Telecomunicações que hoje se assinala, o ministro Manuel Homem fala, em entrevista ao Jornal de Angola, dos projectos em curso no sector.
Para melhorar a Internet no nosso país é também importante permitir que os grandes operadores de conteúdos de Internet possam estar ligados a Angola. Neste particular, temos uma relação com a Google e com o Facebook. O Facebook está a participar na construção do maior cabo submarino de fibra óptica do mundo e Angola está nesse projecto, porque vai passar por aqui
No Dia Internacional das Telecomunicações e Sociedade de Informação, Manuel Homem afirmou que o país não tem défice de Internet. Admitindo que isso possa parecer um paradoxo, o ministro das Telecomunicações Tecnologias de Informação e Comunicação Social indicou que, do ponto de vista da utilização da Internet, Angola tem apenas seis milhões de usuários, dos 20 milhões de capacidades que chegam ao país, ou seja, 14 milhões são “recursos ociosos” (que sobram sem utilização) com operadores que não chegam a ser utilizados. Neste exclusivo ao Jornal de Angola, Manuel Homem justificou que a relação preço - qualidade no serviço de Internet tem muito a ver com a forma como cada operadora licenciada gere o que lhe é atribuído Angola tem um histórico de mais de um século no subsector das Telecomunicações com a encomenda dos primeiros 50 telefones para uso público em 1885. Como o país tem acompanhado o ritmo mundial da evolução das Telecomunicações?
É muito importante e estratégico o histórico que o nosso país tem nas Telecomunicações, porque as Telecomunicações surgem muito no contexto, ainda, dos correios, telégrafos… Desde aquela altura, o país sempre se preocupou com a comunicação. As comunicações foram sempre consideradas como um recurso estratégico. Portanto, com a evolução dos tempos e, sobretudo no período da guerra civil, as comunicações foram sempre estratégicas. Por isso, o Estado sempre teve uma preocupação no investimento e na protecção das infra-estruturas das Telecomunicações. Com isso, podemos dizer que, durante o percurso histórico da evolução mundial das Telecomunicações, o nosso país também vem acompanhando esse desenvolvimento que o mundo tem registado. Senão vejamos, já na década de 1990, quando se deu o advento do consumo das comunicações de Internet, o nosso país aderiu, sem medo, à inovação. Ouvimos falar no “Bug do Milénio” e o país preparou-se para este fenómeno que o mundo viveu naquela altura fruto do acompanhamento que viemos fazendo às Telecomunicações.
Em que segmento concreto foi feito esse acompanhamento?
Por questões estratégicas, esse acompanhamento foi muito feito nas infra-estruturas de Telecomunicações porque, até um determinado período do desenvolvimento das Telecomunicações, o importante era manter infraestruturas estáveis, capazes de responder às necessidades dos cidadãos. Numa única palavra, o nosso país tem seguido aquelas que são as etapas do desenvolvimento das Telecomunicações, porque entendemos que, por causa do valor que elas têm e do ponto de vista estratégico que representam para o país, o Governo tem prestado a atenção que se impõe ao sector. Podemos também incluir aqui o acompanhamento na evolução tecnológica. O nosso país foi dos primeiros no continente a fazer, no âmbito das telecomunicações móveis, a migração para a rede 3G (Terceira Geração). Isto porquê? Porque os operadores no nosso mercado entenderam que era preciso acompanhar essa dinâmica. Portanto, o nosso país também já está a abordar questões, neste momento em que o mundo avaliava qual e como será feita a implementação da tecnologia 5G.
Temos todo esse processo evolutivo no museu instalado no antigo bairro dos CTT, em Luanda. Até que ponto este acervo tem inspirado novas gerações? Temos invenções angolanas no ramo das Telecomunicações?
Estamos num contexto de inovação. As telecomunicações enquadram-se num contexto de inovação permanente que demanda capital intensivo constante. O sector tem essa preocupação também há já muitos anos. Nós, a dada altura do nosso percurso histórico, entendemos que era preciso capacitar quadros angolanos para dar resposta às iniciativas dos investimentos tecnológicos que o país fazia e, por via da Angola Telecom, que tinha um centro de formação, criámos um instituto médio técnico. Este instituto deu lugar a uma aproximação entre a academia e o sector empresarial do desenvolvimento das telecomunicações no nosso país. O Instituto de Telecomunicações (ITEL) passou a ser, então, o nosso “berço”, onde passamos a forjar quadros que, durante esses anos, têm vindo a dar cartas no sector das Telecomunicações. É aqui que devemos olhar para o surgimento de inovações e tecnologias que resultam de tentativas de quadros angolanos virados para esta área da ciência.
O modelo de desenvolvimento das tecnologias hoje é mais fácil?
Naturalmente que hoje está muito mais fácil, tendo em conta o modelo de desenvolvimento das tecnologias de informação, porque há aqui uma passagem que dilui as telecomunicações nas tecnologias de informação, e o país também acompanha este fenómeno. Daí que podemos dizer que, apesar de não termos ainda um grande reconhecimento internacional sobre o desenvolvimento de ferramentas, soluções e serviços novos, o país tem essa felicidade de também poder participar do processo de construção de novas soluções tecnológicas. E temos exemplos, um deles é o aplicativo “App Saúde”, uma solução tecnológica angolana construída por jovens angolanos.
E há jovens angolanos que têm dado cartas, no âmbito do desenvolvimento de aplicações informáticas. A “App Saúde” venceu prémios internacionais. Temos outras soluções como a Kubinga. Portanto, temos várias ideias de incubadoras de projectos tecnológicos que têm permitido ao país criar a sua primeira nata de produtos desenvolvidos em Angola.
É uma realidade nova que representa um bom aproveitamento do avanço da ciência?
Isso não é de hoje. Vem também um pouco de todo este trajecto que temos vindo a fazer. Porque, vejamos, quando foi criado a Comissão Nacional de Tecnologias de Informação, em 2002 – 2003, começámos a instalar indústrias para desenvolver softwares, porque foi naquela altura que criámos o primeiro software aberto angolano. Então, só viemos incrementando esse conhecimento e, hoje, com o crescimento das novas tecnologias, passou a ser mais fácil, e o país está, de facto, no bom caminho, apesar de que podemos ter melhores resultados. Devemos continuar a fazer este investimento. A abertura também da academia para a formação nas áreas da inovação nas novas tecnologias tem permitido dar passos nesse sentido.
Na altura da Independência, Angola possuía uma das redes de comunicações mais modernas da região Austral do continente africano. Até então, a definição das regras e exploração dos serviços eram assegurados pelos CTT. Como é que estamos hoje?
Devemos segmentar esta questão. É importante dizer que, desde 2006, o subsector tem apostado na sua liberalização e esta aposta resulta de documentos estratégicos que vêm permitindo que isto aconteça. Em 2006, foi feito o primeiro Livro Branco das Telecomunicações, que é o documento orientador que, já naquela altura, conduzia o país para uma liberalização do sector das Telecomunicações. Mas também defendia que Angola devia continuar a ser um “hub”, um co-líder na nossa região, no que toca a investimentos nas infraestruturas das Telecomunicações. Temos, neste momento, em todo o território nacional, perto de 22 mil quilómetros de fibra óptica instalados. Estamos a falar de uma malha de serviços muito grande que permite uma melhor interligação nacional e essa abordagem deve sempre ser feita à dimensão do território nacional. O país tem uma dimensão territorial que exige um investimento considerável para que se consiga manter uma rede nacional interligada. Esse exercício tem sido feito. Temos toda a nossa zona Litoral coberta por infra-estruturas de fibra, temos parte da zona Centro e Oeste do país também coberta, mas ainda temos desafios de assegurar esta ligação também na zona Leste do país, onde temos a necessidade de poder levar, com melhor qualidade e com maior persistência, essas infra-estru