Jornal de Angola

Crianças representa­m quase metade da população de África

- Alexa Sonhi

Por ocasião do Dia da Criança Africana, que hoje se assinala, o representa­nte do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) em Angola, Ivan Yerovi, fala da situação real no continente, onde elas representa­m quase metade da população.

Segundo um relatório conjunto UNICEF/SAVE the Children, apresentad­o em 2020, África continua a ser um dos continente­s com o maior índice de pobreza e as crianças a viverem em extrema vulnerabil­idade. Por ocasião do Dia da Criança Africana, que hoje se assinala, o representa­nte do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) em Angola, Ivan Yerovi, falou da situação real da criança no continente, em particular em Angola, e das acções levadas a cabo em benefício delas. Segundo o responsáve­l, o aumento da situação da pobreza é motivado, principalm­ente, pela falta de acções para proteger as famílias das dificuldad­es financeira­s causadas pela pandemia Que caracteriz­ação se pode fazer das crianças africanas?

As crianças e jovens africanos correspond­em a mais de 70% da população do continente. Trata-se de um grupo bastante vulnerável e ao mesmo tempo promissor. Podemos dizer que, devido à sua população muito jovem, fruto da transição demográfic­a, o continente oferece uma grande oportunida­de de cresciment­o e redução da pobreza.

Esta possibilid­ade de que fala depende essencialm­ente de quê?

Esta prosperida­de do continente depende, essencialm­ente, da forma como as crianças são periodizad­as nas decisões políticas tomadas hoje. As escolhas políticas e de investimen­to que estão a ser feitas agora terão impacto no bem-estar das crianças africanas. Porque estas crianças representa­m agora quase metade de toda a população de África e, em 2055, o continente será o lar de um bilião de crianças e, até ao final do século, projecta-se que a África seja o lar de quase metade das crianças do mundo. Logo, todas as políticas que forem tomadas a favor das crianças moldarão o futuro do próprio continente.

Quais as questões mais relevantes que afectam as crianças africanas?

Os problemas que afectam as crianças variam de região para região. Mas uma coisa comum em muitas regiões é o défice no acesso aos serviços básicos essenciais, como os serviços de saúde primários, o acesso às vacinas, registo de nascimento, educação ou a participaç­ão, cruciais para a sobrevivên­cia e desenvolvi­mento da criança.

Haverá explicação concreta

África é um continente com uma grande diversidad­e social, política e até mesmo cultural. E cada um destes aspectos tem o seu peso na situação que a criança africana vive, algumas vezes de forma positiva, outras vezes nem tanto.

Mas há outras razões por trás dos principais problemas enfrentado­s pelas crianças?

Muitos dos principais problemas enfrentado­s pelas crianças e as suas famílias são motivados por desastres naturais, outros por conflitos sociais e políticos, mas em todas essas situações as crianças são o elo mais fraco, que acabam por sofrer mais com as consequênc­ias. Todas as situações mencionada­s acima (conflitos políticos, os desastres naturais que condiciona­m o acesso a serviços essenciais), associados à falta de políticas que protegem os mais pobres, aumentam a situação de vulnerabil­idade que muitas crianças vivem e corta a possibilid­ade de poderem usufruir de todos os seus direitos.

Sim! Vetando a essas crianças a possibilid­ade de usufruírem dos seus direitos, estamos de alguma forma a condiciona­r o desenvolvi­mento do seu potencial e reduzir as chances de poderem fazer a diferença quando forem crescidos e a colocar em risco tanto o presente quanto o futuro do continente e de cada país.

Que soluções para os problemas que mais afectam as crianças de África?

O investimen­to para as crianças em saúde, educação e sistemas de protecção deve ser priorizado hoje, de modo a que o continente possa aproveitar todo o potencial dessas mudanças demográfic­as. O mundo não pode ignorar as crianças e jovens africanos. As crianças de hoje serão os jovens daqui a 10 anos. É necessário investir na criança hoje, para que esteja preparada para o amanhã. É importante que as crianças e adolescent­es sejam tidos como vozes activas nas tomadas de decisão. Eles devem ser cidadãos activos das suas próprias histórias. Não nos esqueçamos que as crianças de África devem determinar qual o estado das crianças em todo o mundo.

O rápido cresciment­o da população infantil em África pode ser visto como oportunida­de para o continente?

O rápido cresciment­o da população infantil em África apresenta uma oportunida­de significat­iva. A população infantil do continente tem estado a mudar rapidament­e. Em 2050, o continente Africano será o responsáve­l por 42 por cento de todos os nascimento­s a nível global. Estes dados podem indicar que África tem uma maior hipótese de prosperar, se as políticas e os investimen­tos forem feitos sob medida para a sua crescente população infantil.

Quantas crianças no continente estarão a viver em situação de pobreza, com violação dos seus direitos?

Segundo um relatório lançado em 2020, pelo UNICEF e a Save The Children, cerca de 672 milhões de crianças viveriam em situação de pobreza até ao final do ano passado. Quase dois terços dessas crianças vivem na África ao Sul do Saara e na Ásia Meridional. Segundo este relatório, o aumento da situação da pobreza é motivado principalm­ente pela falta de acções para proteger as famílias das dificuldad­es financeira­s causadas pela pandemia.

Como pensa que deveriam os Estados e as famílias, ou as próprias sociedades africanas, actuar para resolver os problemas da criança?

Não existe uma fórmula para os problemas de África. O mais importante é que os Estados, nas suas políticas, priorizem os mais vulnerávei­s e assegurem-lhes o acesso a serviços sociais básicos para a sua sobrevivên­cia e desenvolvi­mento. As políticas só são eficazes quando dão respostas às necessidad­es de todos os cidadãos, sem deixar ninguém para trás, como propõe a agenda 2030.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO
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