Guterres exige respeito pelos “capacetes azuis”
O secretário-geral da ONU, António Guterres, reclamou, ontem, o fim imediato das “acções hostis” contra os capacetes azuis na Republica Centro Africana (RCA) cometidas “pelas forças de segurança nacional” e as desdobradas de forma bilateral.
Num relatório entregue ao Conselho de Segurança, António Guterres não identifica as referidas forças. Segundo a AFP, o líder da ONU evoca também “outro pessoal de segurança", parecendo referir-se aos “instrutores” russos e às centenas de paramilitares do grupo privado russo Wagner, desdobrados na RCA.
No documento, o alto mandatário da ONU diz-se profundamente preocupado com as inaceitáveis e sem precedentes ameaças e incidentes hostis das forças nacionais, o pessoal de segurança desdobrado bilateralmente e outro pessoal de segurança que atacam a Missão da ONU (MINUSCA), na RCA.
Na sua perspectiva, tais ameaças e incidentes “dificultam a execução do mandato e são grandes riscos para a segurança dos capacetes azuis”, sendo ainda uma contravenção aos compromissos do Governo no quadro do acordo sobre o estatuto da MINUSCA. Para o efeito, convidou o Presidente Faustin Archange Touadéra a continuar a fazer com que tais acções hostis cessem imediatamente, pedindo contas aos seus autores.
O documento que fala dos quatro últimos meses detalha vários incidentes entre os capacetes azuis e as forças incriminadas, como a destruição, a 23 de Maio, de um drone da MINUSCA, em Bacouma (Sudeste), tentativas de revistas nos seus veículos e residências, e a limitação dos seus movimentos.
Quanto à violação dos direitos humanos, a MINUSCA “documentou 140 incidentes perpetrados pelo pessoal de segurança desdobrado no país, e de forma bilateral, abrangendo 249 vítimas, sejam um aumento respectivamente de 278,4% e 289% em relação ao precedente período, sublinha.
"Os confrontos entre os grupos armados e as forças de defesa nacional apoiadas pelo pessoal desdobrado de forma bilateral e outros membros do pessoal de segurança aumentaram o número de civis mortos” ", sublinha, indicando que houve "82 contra 41 do período anterior, seja, um aumento de 100%".
O relatório informa também que a maioria das mortes dos civis resultam do uso indiscriminado, desproporcional e excessivo da força pelos militares centro africanos e pelo pessoal de segurança desdobrado de forma bilateral.
Por fim, o chefe da ONU critica aquilo que considera uma vasta campanha de desinformação levada ao cabo desde Março contra a MINUSCA e os seus responsáveis, incluindo acusações de colaboração com os grupos armados, e apelando a manifestações visando a retirada da MINUSACA, idas, entre outros, dos próximos do partido político do Presidente da República.