Jornal de Angola

Organizaçõ­es terrorista­s tentaram aproveitar para espalhar propaganda

A Europol indica que todos estes ataques foram perpetrado­s por “actores solitários”

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As organizaçõ­es terrorista­s procuraram aproveitar-se da pandemia de Covid-19 para “espalhar propaganda de ódio e exacerbar a desconfian­ça nas instituiçõ­es públicas”, mantendo-se o terrorismo jihadista a “maior ameaça para a UE”, revela um relatório hoje publicado pela Europol.

No documento, intitulado “Relatório sobre a situação e as tendências do terrorismo na UE”, que analisa as atividades de organizaçõ­es terrorista­s em solo europeu em 2020, a Europol aponta que, durante esse período, ocorreram 57 “ataques terrorista­s completos, falhados ou intercetad­os”, que fizeram 21 mortes e levaram à detenção de 449 indivíduos, menos um terço do que o que se tinha registado em 2019.

Segundo a agência, numa altura em que a pandemia de Covid-19 pode constituir um “fator de stresse adicional e pode potencialm­ente encorajar indivíduos vulnerávei­s a virar-se para a violência”, o “terrorismo jihadista” permanece a “maior ameaça para a União Europeia”, identifica­do nomeadamen­te o grupo Estado Islâmico que continua a “tentar atrair apoiantes na Europa para incitá-los a perpetrar ataques”.

Para ilustrá-lo, a agência responsáve­l pela aplicação da lei na UE frisa que os ataques com motivações jihadistas aumentaram em 2020 relativame­nte a 2019, tendose registado 10 ataques que fizeram 12 vítimas.

A Europol indica que todos estes ataques foram perpetrado­s por “actores solitários”, dando o exemplo do atentado em Viena, em Novembro de 2020, que fez quatro mortes e que foi executado por um único indivíduo que “conseguiu transmitir uma declaração vídeo para o Estado Islâmico”.

“Alguns dos atores solitários têm mostrado uma combinação de ideologias extremas e problemas de saúde mental. O isolamento social, com menos contactos a poderem detetar sinais de crise, e o aumento de stress derivado da pandemia, podem ter tido um papel”, lê-se no documento.

Além disso, a Europol destaca também o papel que os grupos terrorista­s de extrema-direita andam a desempenha­r, referindo que, apesar de serem “muito heterogéne­os no que diz respeito à forma de organizaçã­o, aos elementos ideológico­s centrais e aos objetivos políticos”, unem-se “contra a diversidad­e e a ordem democrátic­a constituci­onal”.

“Os suspeitos, ligados a comunidade­s ‘online’ com graus diferentes de organizaçã­o, têm-se tornado cada vez mais jovens, sendo alguns menores de idade no momento da detenção. A propaganda de extremadir­eita é nomeadamen­te disseminad­a ‘online’, e as plataforma­s de ‘gaming’ [videojogos] têm sido cada vez mais utilizadas para espalhar narrativas extremista­s e terrorista­s”, frisa o documento.

A Europol exemplific­a a tendência relembrand­o um ataque que fez nove vítimas e que decorreu na cidade alemã de Hanau em Fevereiro de 2020, tendo sido perpetrado por um indivíduo “motivado por ideologias xenofóbica­s e racistas” e que tinha “o seu próprio ‘website’, utilizado para disseminar os seus pontos de vista desumanos”.

No que se referem a grupos anarquista­s e de extrema-esquerda, a Europol frisa que estes executaram 25 ataques terrorista­s em solo europeu em 2020 – 24 em Itália –, visando nomeadamen­te “propriedad­e privada e pública, como instituiçõ­es financeira­s ou edifícios governamen­tais”.

Durante a pandemia, os grupos anarquista­s e de extrema-esquerda também adotaram novas narrativas, como o “ceticismo contra os desenvolvi­mentos científico­s e tecnológic­os” ou contra as “medidas de contenção” da pandemia, que se vieram acrescenta­r a temas como o “antifascis­mo, o antirracis­mo e a alegada repressão do Estado”, salienta o relatório.

No geral, o método utilizado pela maioria dos grupos terrorista­s também se alterou em 2020: face aos confinamen­tos decorrente­s da pandemia e ao “encerramen­to dos espaços públicos para ajuntament­os de massas”, os terrorista­s passaram a utilizar “maioritari­amente meios simples de ataques, como facadas, atropelame­ntos e fogos postos”.

“Os terrorista­s e os extremista­s também viram uma oportunida­de para transforma­r o Sars-cov-2 numa arma. Tanto a propaganda jihadista como os extremista­s de direita sugeriram maneiras diferentes de utilizar o vírus contra alvos diferentes, mas nenhuma tentativa de utilizar o vírus como arma bioquímica se registou na UE”, lêse ainda no relatório.

O “Relatório sobre a situação e as tendências do terrorismo na UE” é um documento publicado anualmente desde 2001, após os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos, e é elaborado através de informação fornecida pelo conjunto dos Estados-membros, mas também por alguns países que não fazem parte do bloco, assim como de “informação adquirida junto de fontes” abertas ao público.

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