Ex-moradores de rua partilham experiências
Mau ambiente no seio familiar é apontado como uma das causas que faz centenas de crianças abandonar os lar e partir para a rua
Leonardo Paulo e Nilton Divaldo, ambos com 21 anos, eram duas crianças moradoras de rua. Hoje, são residentes em centros de acolhimento Dom Bosco, onde frequentaram cursos profissionais.
Os dois estão a viver na Casa de Autonomia (onde são colocados depois de atingir a maioridade antes de serem inseridos na comunidade). Para eles, uma das formas de se acabar com o fenómeno “criança na rua” é o Estado apostar em levá-las aos lares de acolhimento, mas de forma pacífica e por meio de uma boa sensibilização.
“As autoridades devem acabar com os focos de venda de estupefacientes, pois, essas drogas levam muitos menores a praticar crimes”, também defendeu Samuel, outro jovem, que sonha ser engenheiro agrónomo.
Adoptado por uma família, Samuel disse que o seu enquadramento no seio da nova família não foi fácil, mas, hoje, sente-se feliz por ter um tecto para morar e abandonar os vícios da rua.
Os três jovens disseram que a violência no seio familiar foi uma das causas que os levou à rua. Aliás, é quase a mesma experiência que a maioria das 850 crianças que vive na rua e controlada pela Rede Salesiana de Dom Bosco viveu.
Os meninos na rua dizem que abandonaram a casa por causa de factores ligados à desestruturação familiar, vulnerabilidade social e acusação de feitiçaria, como confirmou Adjaime de Freitas, coordenador da Rede Salesiana de Dom Bosco, instituição que tem internadas em cinco centros 300 crianças.
O responsável falava, na quinta-feira, durante o encontro de auscultação de antigos adolescentes e jovens moradores de rua, que aconteceu numa parceria com o Instituto Nacional da Criança (INAC) e a Organização Internacional VIS, que visou incentivar outras crianças que se encontravam em situação de rua, com testemunhos vividos na primeira pessoa sobre os benefícios em deixar essa vida e voltar à família.
Adjaime de Freitas referiu que estas acções devem ser feitas nas famílias, para se desencorajar a ida das crianças à rua. Salientou, ainda, que a instituição encontra dificuldades em lidar com esses menores, devido à sua constante mobilidade.
“Os lares Dom Bosco, em Luanda, têm um processo montado para a reinserção familiar e social das crianças e adolescentes em situação de rua. Quando não conseguimos enquadrá-la, procuramos alternativas com a formação profissional, para que ele possa ter uma vida autónoma”, lembrou.
A secretária de Estado da Família e Promoção da Mulher, Elsa Bárber, encorajou o trabalho que tem sido feito para retirar crianças em situação de rua, uma obrigação constitucional que visa trabalhar para a protecção das mesmas.
Elsa Bárber disse ter consciência de que as crianças que estão na rua fazem tudo para sobreviver num meio bastante hostil, o que as leva a serem mais violentas do que no meio do qual se encontravam.
O director-geral do INAC, Paulo Kalesi, considerou importante que se trabalhe para a retirada dos menores em situação de rua, tendo acrescentado que a instituição que dirige tem envidado esforços para diminuir o número de menores mendigos na rua.