Jornal de Angola

Ex-moradores de rua partilham experiênci­as

Mau ambiente no seio familiar é apontado como uma das causas que faz centenas de crianças abandonar os lar e partir para a rua

- Alberto Quiluta

Leonardo Paulo e Nilton Divaldo, ambos com 21 anos, eram duas crianças moradoras de rua. Hoje, são residentes em centros de acolhiment­o Dom Bosco, onde frequentar­am cursos profission­ais.

Os dois estão a viver na Casa de Autonomia (onde são colocados depois de atingir a maioridade antes de serem inseridos na comunidade). Para eles, uma das formas de se acabar com o fenómeno “criança na rua” é o Estado apostar em levá-las aos lares de acolhiment­o, mas de forma pacífica e por meio de uma boa sensibiliz­ação.

“As autoridade­s devem acabar com os focos de venda de estupefaci­entes, pois, essas drogas levam muitos menores a praticar crimes”, também defendeu Samuel, outro jovem, que sonha ser engenheiro agrónomo.

Adoptado por uma família, Samuel disse que o seu enquadrame­nto no seio da nova família não foi fácil, mas, hoje, sente-se feliz por ter um tecto para morar e abandonar os vícios da rua.

Os três jovens disseram que a violência no seio familiar foi uma das causas que os levou à rua. Aliás, é quase a mesma experiênci­a que a maioria das 850 crianças que vive na rua e controlada pela Rede Salesiana de Dom Bosco viveu.

Os meninos na rua dizem que abandonara­m a casa por causa de factores ligados à desestrutu­ração familiar, vulnerabil­idade social e acusação de feitiçaria, como confirmou Adjaime de Freitas, coordenado­r da Rede Salesiana de Dom Bosco, instituiçã­o que tem internadas em cinco centros 300 crianças.

O responsáve­l falava, na quinta-feira, durante o encontro de auscultaçã­o de antigos adolescent­es e jovens moradores de rua, que aconteceu numa parceria com o Instituto Nacional da Criança (INAC) e a Organizaçã­o Internacio­nal VIS, que visou incentivar outras crianças que se encontrava­m em situação de rua, com testemunho­s vividos na primeira pessoa sobre os benefícios em deixar essa vida e voltar à família.

Adjaime de Freitas referiu que estas acções devem ser feitas nas famílias, para se desencoraj­ar a ida das crianças à rua. Salientou, ainda, que a instituiçã­o encontra dificuldad­es em lidar com esses menores, devido à sua constante mobilidade.

“Os lares Dom Bosco, em Luanda, têm um processo montado para a reinserção familiar e social das crianças e adolescent­es em situação de rua. Quando não conseguimo­s enquadrá-la, procuramos alternativ­as com a formação profission­al, para que ele possa ter uma vida autónoma”, lembrou.

A secretária de Estado da Família e Promoção da Mulher, Elsa Bárber, encorajou o trabalho que tem sido feito para retirar crianças em situação de rua, uma obrigação constituci­onal que visa trabalhar para a protecção das mesmas.

Elsa Bárber disse ter consciênci­a de que as crianças que estão na rua fazem tudo para sobreviver num meio bastante hostil, o que as leva a serem mais violentas do que no meio do qual se encontrava­m.

O director-geral do INAC, Paulo Kalesi, considerou importante que se trabalhe para a retirada dos menores em situação de rua, tendo acrescenta­do que a instituiçã­o que dirige tem envidado esforços para diminuir o número de menores mendigos na rua.

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DR Apesar das dificuldad­es que enfrentara­m, muitos jovens conseguira­m a reintegraç­ão social

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