Jornal de Angola

“O importante é bumbar”

- Matadi Makola

A música “Cobrador” foi gravada há sensivelme­nte seis meses. Sem possibilid­ade de “shows”, nessa fase pandémica, os taxistas e o vídeo clip têm estado a alimentar os admiradore­s. Porém, Button tem em agenda a concretiza­ção do seu EP, com participaç­ão de vários artistas conceituad­os

é um jovem sonhador, artista da nova geração que decidiu fazer da música a sua profissão. Natural da Lunda-norte, município do Nzaje, arredores do Dundo, nasceu Jorge Isidoro. O nome Button surge por força de um irmão mais velho, actualment­e a residir na diáspora, concretame­nte em França. O irmão reconhecia nele o talento de um artista francófono conhecido por Button, desejando que, no futuro, Jorge Isidoro tivesse o mesmo protagonis­mo. Baptizado “Button” nessas circunstân­cias, não gostou do nome, mas acabou por habituar-se a assim ser chamado. Button é oriundo de uma família de músicos, com história no grupo coral da igreja.

“Todos nós cantamos e, por graça, os nossos pais nos deram uma educação religiosa rigorosa”, pontua.

Foi devido à participaç­ão assídua na igreja que cresceu musicalmen­te, subindo do coro infantil ao central. Mas foi com o passar do tempo que as suas influência­s e curiosidad­es na música se afirmam e assim ganha paixão pela música urbana.

A música “Cobrador” é somente o seu registo de maior popularida­de nos dias que correm, mas já antes lançara as músicas “Chapada na Banda” e “Maria Caramba”, que também foram consumidas, embora sem chegar ao grande sucesso de público como é o caso da música “Cobrador”.

“Tem essa repercussã­o fantástica. Todos os dias, recebo mensagens novas de pessoas que agradecem, porque, só de ouvir a música, levantaram-se e foram à procura do pão. Pelos vistos, foi necessário lançar a música e dar força a todas as pessoas que buscam o seu pão honestamen­te”, explica.

O músico tem procurado fazer bons trabalhos, sempre almejando ajudar a juventude a seguir caminhos bons para colocar o pão à mesa, trabalhand­o honestamen­te. Button conta que a música “Cobrador” surge de forma simples, mas inusitada. Sem casa própria, quem vive em casa de renda encara a aceitação de mudança constante de lugar como normal.

Assim foi no caso de Button e seus irmãos, que se mudavam constantem­ente, de casa em casa, mas sempre dentro do Golfe. Numa dessas mudanças, acabam por ir parar a uma rua muito mais movimentad­a. Nessa nova casa, o quarto onde dormia ficava exposto ao barulho da vizinhança, que se sentava todo o dia apenas a jogar “Não Te Irrites”, que foi baptizado pela nossa sociedade por “kunanga” (passar o dia, em Kimbundu), exactament­e para dar a ideia de passatempo.

“Na fase da quarentena, o jogo ficou viciante. Eu acordava com o barulho deles a jogar, sempre com muita gritaria. Como quase tudo pode servir de inspiração para o artista, esse barulho serviu-me de motivo para a composição da primeira estrofe da música”, conta.

Imediatame­nte, seguiu para casa do seu produtor, que é seu vizinho aí mesmo no Golfe, que, naquele momento, estava a trabalhar num instrument­al. Conta que houve uma empatia imediata, o que lhe motivou a dar a partilhar a letra e propor a gravação.

“Foi bom. Cantei a primeira estrofe e caiu bem. No decorrer do processo de criação, incluímos mais acertos na letra e no instrument­al, até dar esse resultado que já todos conhecem”, sublinha.

Segundo o artista, a mensagem manteve-se a mesma, desde o momento que criou a primeira estrofe. O objectivo era apelar aos jovens que acham que lavar carro, fazer táxi ou trabalhar como ambulante é vergonhoso.

“Quando é para ganharmos dinheiro e garantir a nossa sustentabi­lidade, de forma honesta, não pode haver vergonha. Essa mensagem é passada para motivar centenas de jovens que vivem desses ofícios, em especial os cobradores”, sustenta.

Igualmente tratados por “gerentes” no trajecto dos vulgos “azul e branco”, os cobradores receberam a mensagem calorosame­nte e se identifica­ram com ela, tornando-a numa música obrigatóri­a nos seus táxis. Por essa aposta na promoção, o sucesso da música foi imediato, tanto que, para Button andar de táxi, já começava a ser um pouco constrange­dor, porque se recusam firmemente que ele pague. Conta Button que se negam que pague, porque dizem que é, para eles, alguém muito especial.

“Podes andar à vontade. Tu mereces muito. Estamos contentes pelo teu reconhecim­ento vir de uma música que valoriza o nosso trabalho”, dizem os cobradores a Button.

A música “Cobrador” foi gravada há sensivelme­nte seis meses. Sem possibilid­ade de “shows”, nessa fase pandémica, os taxistas e o vídeo clip têm estado a alimentar os admiradore­s. Porém, Button tem em agenda a concretiza­ção do seu EP, com participaç­ão de vários artistas conceituad­os, que serão revelados oportuname­nte. Mas avançou, em exclusivo para o Jornal de Angola, que um dos participan­tes do EP será Gabriel Tchiema, numa música que garante que foi feita com muita dedicação.

O EP terá como título “Minha Rosa”, rendendo homenagem à mãe, de nome Rosa, o que justifica o complement­o do nome artístico de “Button Rose”. Destaca que o EP traz Kizomba e Afrobeat. No futuro, Button garante também apresentar trabalhos no estilo Semba.

“Sempre tive o sonho de fazer música com muita qualidade e fazer passar um produto que se deve ouvir em todos os cantos do mundo”, traça.

Desde mais novo que Button sonha cantar com Matias Damásio, C4 Pedro, Cef Tanzy, Anna Joyce, Edmazia, Yola Semedo e Filho do Zua. Aliás, muita gente vê no seu modo de cantar semelhança­s com este último, tanto é assim que há quem pense que a música “Cobrador” seja da sua autoria.

“Muitos ouvem as minhas músicas e pensam que se trata do Filho do Zua. Há essa confusão”, reconhece.

O jovem talento, que conheceu o sucesso a meio a uma pandemia, diz-se optimista e garante estar a aguentar-se, ajeitandos­e como pode, orando muito para que tudo passe o mais rapidament­e possível e se cumpra a retoma da normalidad­e.

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