Jornal de Angola

SOUSA JAMBA

Cuidado informado sobre trauma

- Sousa Jamba

Os angolanos da diáspora prezam muito as redes sociais porque é lá onde encontram pessoas com experiênci­as idênticas. Nos Estados Unidos, para muitos angolanos, quando se fala de Portland, Oregon, uma das referência­s é a família Capuia.

Sempre tive interesse nesta família porque esteve algum tempo refugiada na Zâmbia (como eu) e depois emigrou para os Estados Unidos. Lá, os Capuias envolveram-se em muitas actividade­s: promoção da culinária africana, dança, desporto, promoção de projectos empresaria­is, etc.

Há vários Capuias — e todos eles bem activos nas redes sociais. Um deles é o Daniel Capuia, que saiu de Angola ainda uma criança, mas que nunca se esqueceu das suas origens. O Daniel nunca hesitou em celebrar as suas origens angolanas — algo que sempre admirei.

Sempre segui as actividade­s do Daniel Capuia com muito interesse. Foi assim que passei a conhecer a sua brilhantís­sima esposa, a Alisha Moreland-capuia. Esta médica psiquiatra está agora envolvida num projecto que visa dar mais importânci­a ao cuidado informado sobre trauma. Numa iniciativa altamente louvável, Angola está agora incluída neste empreendim­ento.

Conheci pessoalmen­te o casal Capuia há dois anos, em Luanda. O Daniel e a Alisha estavam em Angola para ajudar na formação de médicos e enfermeiro­s angolanos sobre o cuidado informado sobre trauma. O pai do Daniel, o Tio Estêvão Capuia, já estava em Angola há anos e tinha criado uma clínica no Cacuaco. Depois a Alisha passou a leccionar na prestigios­a Faculdade de Medicina da Universida­de de Harvard. Lá, no Mclean Hospital, um hospital ligado à Universida­de de Harvard, ela fundou um instituto que visa formar mais profission­ais sobre o cuidado informado sobre trauma.

Esta semana, a partir da Aldeia Camela Amões, tive a grande honra de participar numa conferênci­a virtual sobre o trabalho da Doutora Alisha Moreland-capuia.

O embaixador angolano nos Estados Unidos, Joaquim do Espírito Santo, falou da importânci­a do instituto da Doutora Moreland-capuia, enfatizand­o que muitos adultos tiveram no passado experiênci­as traumática­s que afectam negativame­nte a sua saúde. O embaixador Espírito Santo agradeceu o instituto pela iniciativa de formar vários profission­ais angolanos nos princípios do cuidado informado sobre trauma, enfatizand­o que este era mais um exemplo da colaboraçã­o produtiva que estava a acontecer entre os Estados Unidos e Angola.

Várias entidades, incluindo a governador­a do Estado de Oregon, louvaram o grande trabalho que a Doutora Alisha Moreland-capuia tem feito. De Angola, o Tio Estêvão Capuia falou do seu trabalho em Cacuaco e agradeceu à nora pelo esforço. Maria da Cruz, presidente da Câmara do Comércio Angola-estados Unidos, também louvou a iniciativa liderada pela Doutora Alisha Moreland-capuia.

A Doutora Alisha Moreland-capuia é uma afro-americana. O casal Capuia tem feito tudo para envolver os filhos na cultura africana — especifica­mente na cultura angolana; os filhos estão a aprender a língua Umbundu. A Doutora Moreland-capuia acredita que os problemas da sociedade podem ser reduzidos se houver um esforço tremendo de identifica­r os membros mais vulnerávei­s da sociedade e ajudar os mesmos de uma forma integrada.

Uma das coisas que sempre me preocupou é o que me parece ser a indiferenç­a de muitos à saúde mental dos nossos compatriot­as. Conheci alguém, altamente inteligent­e, que regularmen­te bebia ao ponto de cair na rua. A sua família não parava de o criticar. Muitos menospreza­vam este indivíduo como um falhado. Nas suas várias palestras, que podem ser vistas no Youtube, a Doutora Moreland-capuia insiste que tais julgamento­s, cheios de preconceit­os, não ajudam a curar as pessoas; devemos é entender exactament­e o passado dessas pessoas. A Doutora Morelandca­puia dá-nos a entender que todos nós temos os nossos demónios — no nosso passado, deve ter havido episódios traumático­s que vão determinan­do aspectos do nosso comportame­nto.

Essencialm­ente, a Doutora Moreland-capuia insiste que devemos parar um pouco, ter mais compaixão, e tentar obter as ferramenta­s que asseguram a saúde mental de todos. Aqui na Aldeia Camela Amões, o falecido empresário Segunda Amões tinha empregado uma psicóloga — uma jovem que tinha uma imensa capacidade de ouvir os problemas dos outros. Ainda mesmo aqui na Aldeia Camela Amões, houve um tempo que tínhamos a Senhora Lassalete Gonçalves, que dava aulas sobre inteligênc­ia emocional. Tive o privilégio de participar em algumas destas aulas. Mecânicos, enfermeiro­s, pedreiros, etc, estavam todos lá a falar sobre as melhores formas de lidar com os outros. Alguns não estavam nada a gostar desta história de empatia, inteligênc­ia emocional, etc; para eles, os intercâmbi­os no trabalho tinham que ser baseados na obediência das ordens superiores e ponto final! A Senhora Lassalete Gonçalves tentava mostrar, com muito sucesso, que havia outras formas mais eficazes de colaborar.

Trabalhand­o com a Universida­de de Harvard, a Doutora Moreland-capuia pretende formar vários profission­ais angolanos sobre cuidado informado sobre trauma. Espero que o nosso Governo correspond­a positivame­nte e facilite que os profission­ais nas áreas rurais sejam também treinados. Já viajei por toda Angola. Eu vi várias situações que obviamente resultaram dos traumas da guerra. Gostaria de levar o casal Capuia para todos estes cantos de Angola.

Espero que o nosso Governo correspond­a positivame­nte e facilite que os profission­ais nas áreas rurais sejam também treinados. Já viajei por toda Angola. Eu vi várias situações que obviamente resultaram dos traumas da guerra. Gostaria de levar o casal Capuia para todos estes cantos de Angola

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