Presidente visita no Cunene projectos de impacto social
As obras, cujo nível de execução física se situa em 38 por cento, devem ser constatadas pelo Presidente da República, que inicia, hoje, uma visita de dois dias ao Cunene
O Presidente da República, João Lourenço, inicia, hoje, em Ondjiva, uma visita de trabalho de dois dias à província do Cunene, durante os quais vai constatar a evolução do programa do Executivo que visa a construção de um vasto sistema de transferência de água a partir do rio Cunene, na zona de Cafu, para abastecer as localidades de Cuamato, Namacunde e Ndombondola. Durante a visita, o Chefe de Estado vai reunir-se, também, com os governadores das quatro províncias da região Sul fortemente afectadas pela seca, nomeadamente, Cunene, Cuando Cubango, Huíla e Namibe.
O impacto da seca na província do Cunene pode reduzir, consideravelmente, a partir de Dezembro deste ano ou Fevereiro do próximo ano, revelou, ontem, ao Jornal de Angola, em Ondjiva, o director-geral do Instituto Nacional de Recursos Hídricos.
Manuel Quintino, que falava na véspera da chegada do Chefe de Estado àquela parcela do território nacional, referiu-se ao programa do Executivo que visa a construção de um vasto sistema de transferência de água, a partir do rio Cunene, na zona de Cafu, para abastecer as localidades de Cuamato, Namacunde e Ndombondola.
Esta empreitada, enquadrada nas obras estruturantes de combate à seca no Sul do país, faz parte de um leque de três projectos de combate aos efeitos da estiagem, aprovados para a província do Cunene.
De acordo com dados do Serviço Provincial de Protecção Civil e Bombeiros, a província tem 102.970 famílias afectadas pela seca e fome, o que perfaz 514.800 pessoas. Curoca, Cahama e Ombadja são os municípios da província mais afectados.
As obras para a transferência de água, a partir do rio Cunene, estão numa execução física de 38 por cento. O Presidente João Lourenço vai constatar, amanhã, o andamento da empreitada, durante a visita de dois dias à província.
O primeiro lote do projecto compreende a construção de um sistema de captação de água, a partir do rio Cunene, sistema de bombagem, conduta pressurizada e do canal, a céu aberto, a partir da localidade de Cafu, até à zona de Cuamato. Consta desta operação a construção de dez chimpacas.
O lote dois compreende a construção do canal adutor, a partir de Cuamato até Ndombondola, bem como de outro, adutor, que vai sair de Cuamato até Namacunde. Aqui está prevista a construção de 20 chimpacas, mas no total devem ser preparadas mais 30, para o abeberamento do gado. Chimpaca é o termo usado, na zona Sul do país, para referir um reservatório de água.
Numa primeira fase, vai abrir-se, do rio Cunene, um caudal de dois metros cúbicos (dois mil litros) por segundo, mas a ideia é que, mais lá para frente, tão logo as condições hidrológicas do rio Cunene permitam, se retirem seis metros cúbicos (seis mil litros) por segundo.
A rede de canais adutores vai dispor de uma extensão, aproximada, de 160 quilómetros. Instalado numa área de cinco mil hectares, este primeiro projecto, o único em execução neste momento, vai abarcar os municípios de Cuanhama, Ombadja e Namacunde. Quando concluído, vai beneficiar 235 mil habitantes e 250 mil bovinos.
O projecto número 1, incluindo o lote 1 e 2, está orçado em 135.748.374,7 dólares, estando o lote 1 avaliado em USD 165.701.274,85 e o 2 em 70.047.009,85. Até Abril deste ano, as obras do lote 1 registaram uma execução financeira de 29 por cento e o 2 de 28 por cento. A empreitada, iniciada em 2019, está a cargo da construtora Sinohydro Corporation Limitada, Sucursal em Angola.
O director-geral do Instituto Nacional de Recursos Hídricos esclareceu que este projecto não surge para acabar com a seca nas zonas afectadas, mas para mitigar os seus efeitos na vida das populações.
“A seca é uma calamidade natural que pode surgir em cada dois ou quatro anos”, realçou Manuel Quintino, para quem os projectos estruturantes de combate aos efeitos da seca, aprovados para a província do Cunene, não podem ser vistos como panaceia.
O responsável disse que o primeiro projecto deve estar concluído em Dezembro deste ano ou, na pior das hipóteses, em Fevereiro do próximo. Manuel Quintino sublinhou que esta empreitada conta com o financiamento único do Governo de Angola.
Reserva hídrica
O director-geral do Instituto Nacional de Recursos Hídricos disse haver um conjunto de soluções que vão concorrer para a criação de uma reserva hídrica.
Tendo em conta que só se está, por enquanto, a aproveitar a água do rio, o engenheiro defendeu o uso da água subterrânea.
Disse haver, “no Cunene e não só, um aquífero com forte potencial de água, partilhado com a Namíbia”. Referiu que o país vizinho, por razões históricas e ter sido protectorado da Alemanha, já começou a utilizar esta água na rede pública, no norte do país. O processo teve o apoio técnico e financeiro do Instituto Federal da Alemanha, que trata das pesquisas das águas subterrâneas.
Manuel Quintino revelou que o país também poderá usar esta água, “mais lá para frente”. Através do Instituto Geológico de Angola, disse, foi assinado um protocolo de cooperação com a instituição alemã,paraarealizaçãodomesmo estudo feito na Namíbia.
Um dos fins deste estudo, referiu, passa por aferir a qualidade da água para o consumo. “Acredito que será, também, injectada na nossa rede pública, concretamente na bacia do Cunene e Cuvelai”, disse Manuel Quintino, prevendo que, “com aquele estudo, haverá mais água disponível para as populações, gado e agricultura”.
O projecto número dois de combate aos efeitos da seca na província do Cunene, ainda sem execução, consiste na construção da barragem de Calucuve, também conhecida pela 128, e o canal adutor associado, que parte da Mupa até Ondjiva.
Chefe de Estado reúne com governadores
Uma nota da Casa Civil do Presidente da República refere que, na linha da resposta do Executivo aos desafios colocados pela seca, o Chefe de Estado preside, em Ondjiva, a uma reunião com os governadores das quatro províncias fortemente afectadas por aquele fenómeno natural: Cunene, Cuando Cubango, Huíla e Namibe.
Outras acções a desenvolver pelo Presidente João Lourenço na deslocação ao Cunene são audiências a figuras representativas da sociedade civil, nomeadamente autoridades tradicionais, religiosas, empresários e jovens.