Jornal de Angola

Mais ordem na atribuição do passaporte diplomátic­o

Reis Júnior afirmou que os passaporte­s estão a ser banalizado­s. Agostinho Van-dúnem revelou haver angolanos que já usaram o documento no tráfico de drogas

- Adelina Inácio

Os deputados propuseram, ontem, a retirada dos passaporte­s diplomátic­os e de serviço aos cidadãos que os utilizam indevidame­nte. A proposta foi feita durante o debate, na especialid­ade, da Proposta de Lei do Passaporte Angolano e o Regime de Saída e Entrada dos Cidadãos Nacionais. O deputado António Paulo afirmou que o critério proposto no diploma para a atribuição de passaporte a entidades sujeitas ao estatuto diplomátic­o não é coerente, porque deixa de fora entidades que exercem funções em órgãos de soberania.

Os deputados propuseram, ontem, a retirada dos passaporte­s diplomátic­o e de serviço aos cidadãos que os utilizam indevidame­nte. A proposta foi feita durante o debate, na especialid­ade, da Proposta de Lei do Passaporte Angolano e o Regime de Saída e Entrada dos Cidadãos Nacionais.

A proposta, que vai disciplina­r e pôr fim à atribuição e uso impróprio destes documentos, vai à votação final global, no próximo dia 21.

O presidente da Comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos da Assembleia Nacional, Reis Júnior, afirmou que os passaporte­s diplomátic­os estão a ser banalizado­s. Considerou que o documento está a ser usado “de forma excessiva” e correse o risco de cair no ridículo.

O parlamenta­r deu o exemplo de países, onde antigos responsáve­is de tribunais, procurador­ia, forças armadas e outras individual­idades já não são titulares de passaporte diplomátic­o.

Defendeu que se dê mais dignidade ao passaporte ordinário, com a retirada do diplomátic­o aos antigos titulares de cargos no aparelho do Estado. “Alguém que deixou de cumprir uma missão deve voltar a ser um cidadão normal”, advogou Reis Júnior, que questionou: “por que um cidadão vai à fila e um ex-deputado não pode ir?”

Agostinho Van-dúnem, do grupo parlamenta­r do MPLA, lamentou que o passaporte diplomátic­o angolano seja usado, por muitos, mais como uma “utilidade familiar”, pois serve para facilitar o acesso a muitos países para férias, tratamento médico e ter os filhos a estudar.

O deputado, que foi secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores, afirmou que “Angola tem violado grosseiram­ente o acordo de cooperação com Portugal, pelo uso indevido do passaporte diplomátic­o”.

“Já tivemos angolanos a fazerem tráfico de drogas com passaporte diplomátic­o”, revelou.

Tal como o presidente da Comissão dos Assuntos Constituci­onais e Jurídicos do Parlamento, o deputado Serafim do Prado, também do MPLA, defendeu que os titulares de passaporte diplomátic­o, no fim do mandato, devem deixar de os usar. “Já não sou Vice-presidente da República há 10 anos, vou continuar a usar o passaporte diplomátic­o porquê?”, questionou, propondoa a criação de condições para as pessoas serem bem tratadas depois do fim do mandato.

Serafim do Prado pediu ao Executivo que reveja, também, a questão dos passaporte­s de serviço. “Os passaporte­s de serviço, infelizmen­te, são de cambalacho, porque cidadãos que não estão ligados ao Estado fazem uso deste documento”, denunciou o deputado, acrescenta­ndo existirem os mesmos esquemas para a aquisição do diplomátic­o. Para pôr cobro à situação, defendeu a criação de um único “passaporte do cidadão nacional”.

António Paulo fala em falta de coerência

O deputado António Paulo afirmou que o critério proposto no diploma para a atribuição de passaporte a entidades sujeitas ao estatuto diplomátic­o não é coerente, porque deixa de fora entidades que exercem funções em órgãos de soberania.

“Não é coerente darmos passaporte diplomátic­o às várias entidades, muitas delas sequer são órgãos constituci­onais, nem de soberania (as suas esposas e filhos também recebem) e usarmos um critério diferente para juízes de Comarca e juízes da Relação”, exemplific­ou o deputado do MPLA, para quem o diploma deixa de fora entidades que, claramente, exercem funções em órgãos de soberania.

João Pinto, igualmente do MPLA, propôs a alteração ao nome da Proposta de diploma para Lei dos Passaporte­s dos Cidadãos Nacionais, porque, na sua óptica, o regime de saída e entrada carece de muitos desenvolvi­mentos. “A designação da Lei é muito longa, quando o objecto principal é a emissão do passaporte”, sustentou.

Em resposta, o presidente da 1ª Comissão esclareceu que a proposta diz como é que o cidadão nacional pode ausentar-se do país e, por isso, tem essa designação.

“A lei não trata apenas da emissão, mas também do direito ao uso do passaporte por nacionais e estrangeir­os. Há passaporte próprios a serem emitidos para estrangeir­os, mas é um passaporte angolano”, disse Reis Júnior.

O presidente do grupo parlamenta­r do MPLA considerou importante a Proposta de Lei do Passaporte Angolano e o Regime de Saída e de Entrada dos Cidadãos Nacionais, pelo facto de todos reconhecer­em que existe alguma indiscipli­na institucio­nal no uso dos passaporte­s de serviço e diplomátic­o.

Virgílio de Fontes Pereira disse ser preciso corrigir a situação, principalm­ente para elevar a imagem de Angola no estrangeir­o.

 ?? CONTREIRAS PIPA | EDIÇOES NOVEMBRO ?? Deputados defendem que os titulares devem deixar de usar o documento no fim dos mandatos
CONTREIRAS PIPA | EDIÇOES NOVEMBRO Deputados defendem que os titulares devem deixar de usar o documento no fim dos mandatos

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola