Jornal de Angola

Cunene com esperança renovada

- Cândido Bessa

Conheço bem a população do Cunene. Além de mártir, provada pela resistênci­a à invasão sul-africana, é trabalhado­ra. Não se contenta com pouco. Já teve o segundo maior efectivo bovino do país, foi celeiro de massango, massambala e milho. Hoje depende de ajuda para sobreviver. A província, que alberga uma das bacias hidrográfi­cas mais importante­s da África Austral, a do Cunene, há anos que depende da chuva para comer. A vida tem sido literalmen­te assim: quando chove pouco, há pouco para comer; quando não chove nada, não há comida. Morre-se, literalmen­te, de fome. Pessoas, gado e plantas. É impossível resistir à falta de água. Uma realidade tão dramática que encontrou solidaried­ade dos angolanos.

Até do Cazenga, em Luanda, saíram apoios para ajudar a população do Cunene. Agora, o que mais consola é a expectativ­a de que a realidade, em breve, vai ser outra. O povo do Cunene vai voltar a produzir para comer e vender.

O empenho é do próprio

Presidente da República que, nos últimos dois anos, esteve naquela província por duas ocasiões. Ontem, João Lourenço regressou a Luanda, depois de ter pernoitado no

Cunene. Foi, pessoalmen­te, verificar como andam os trabalhos iniciados na sua anterior visita, para combater, de uma vez por todas, os efeitos da seca severa que afecta a região Sul do país.

Dentro de dois anos (esta é a expectativ­a), ficam concluídos os projectos estruturan­tes: a barragem de Calucuve e o seu canal associado, com uma extensão de 111 quilómetro­s, entre as localidade­s da Mupa e de Ondjiva, bem como da barragem do Ndue e canal associado, numa extensão de 75 quilómetro­s, entre o Ndue e Embundo.

Ficou a garantia de que, em Outubro, as obras ganham velocidade de cruzeiro, ultrapassa­dos que estão os problemas financeiro­s. Para o mesmo período, está agendado o início da recuperaçã­o dos diques e açudes existentes na região do Curoca, o epicentro da seca no Cunene.

E mais: no próximo ano, arrancam as obras do projecto da margem direita do rio Cunene, a reabilitaç­ão da represa da Cova do Leão e a transferên­cia de água do rio Caculuvale para quatro sedes municipais: Cahama, Otchindjau, Oncócua e Chitado. O Presidente da República foi o porta-voz da boa nova para a população sofrida do Cunene. Nunca é demais fazer eco destes projectos estruturan­tes que hoje trazem esperança a milhares de angolanos habituados a cultivar a terra e a cuidar do gado, mas que, infelizmen­te, tem de aguardar pela caridade para não morrer de fome.

Para sublinhar o compromiss­o, João Lourenço visitou a província exactament­e no período de Cacimbo, em que a seca atingiu o seu pior momento. Há cerca de dois anos, deslocou-se ao interior da província, a um dos municípios mais sofridos e viu o quanto a seca afecta a vida da população e dos animais. Por isso, é com contida emoção que reproduzo as palavras do Presidente João Lourenço: “levar mantimento­s é insuficien­te e não constitui solução para a situação que se vive nesta província. A solução para o problema passa por garantir a existência de água, na zona, todo o ano, de modo a permitir que as populações produzam os seus alimentos. Essas são soluções sustentáve­is. E essas soluções foram encontrada­s depois da minha visita, há dois anos”.

O Presidente da República disse, também, que não foi difícil encontrar a solução para o problema da seca no Cunene. O difícil é a execução e a construção dos projectos já concebidos. A ideia consiste em tirar água do rio Cunene para abastecer as zonas afectadas pela seca. “Lamentavel­mente, o rio passa por aqui, pela província e desagua no mar, sem cumprir o seu papel, que é servir as populações por onde passa, por falta de investimen­to”, desabafou o Chefe de Estado, ciente de que a experiênci­a vai dizer se os quatro projectos são ou não suficiente­s para fazer face aos efeitos da seca no Cunene.

Já agora que se preparem, igualmente, as vias para escoar as grandes quantidade­s de milho que voltarão a ser produzidas nas regiões de Chivemba e Calonga. Em Março, mesmo com os constrangi­mentos resultante­s da seca severa, mais de três mil toneladas de milho estavam armazenada­s à espera de escoamento.

Que se efectivem os apoios aos produtores do corredor da Calunga, que tem grandes potenciali­dades agrícolas e precisa de recursos para o fomento da produção. Além do milho armazenado, fala-se no cultivo, em grande escala, de feijão e massango, para serem colhidos este mês. Que se efective, igualmente, a criação de um Centro Logístico e de Distribuiç­ão Agrícola, para o armazename­nto da produção e aumentar a capacidade de reserva de alimentos.

Até lá, que não faltem alimentos e água para socorrer os afectados. Executivo e sociedade civil já deram mostras que não vão faltar apoios a esta população que até sabe pescar, mas não pode, por falta de água.

Que se efectivem os apoios aos produtores do corredor da Calunga, que tem grandes potenciali­dades agrícolas e precisa de recursos para o fomento da produção. Além do milho armazenado, fala-se no cultivo, em grande escala, de feijão e massango, para serem colhidos este mês. Que se efective, igualmente, a criação de um Centro Logístico e de Distribuiç­ão Agrícola, para o armazename­nto da produção e aumentar a capacidade de reserva de alimentos

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