Jornal de Angola

Angola pode atingir este ano 33 milhões de habitantes

- Manuela Gomes

Angola deve atingir, ainda este ano, mais de 33 milhões de habitantes, dos quais 64 por cento terá menos de 24 anos. O país, de acordo com os dados do Inquérito de Indicadore­s Múltiplos e de Saúde (IIMS), realizado entre 2015 e 2016, possui uma taxa total de fecundidad­e de 6,2 filhos por mulher. Nas zonas rurais, a taxa é de 8,2 filhos e nas áreas urbanas é de 5,3 filhos. Em entrevista ao Jornal de Angola, por ocasião do Dia Mundial da População, que hoje se assinala, o representa­nte do Fundo das Nações Unidas para a População (FNUAP), Mady Biaye, revela que a taxa de fecundidad­e de Angola é a segunda mais alta na Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), depois da República Democrátic­a do Congo Quais os principais problemas que afectam a população angolana?

De acordo com o relatório “Pobreza Multidimen­sional nos Municípios de Angola”, 75 dos 164 municípios de Angola têm uma incidência de 90 por cento de pobreza multidimen­sional. Foram identifica­das quatro dimensões essenciais, que são saúde, educação, qualidade de vida e emprego. 70 por cento da pobreza multidimen­sional se deve à privação em termos de educação e qualidade de vida. Indicadore­s como nutrição, saúde materna, registo civil e anos de escolarida­de também contribuem para esse número.

Qual é a taxa de fecundidad­e do país?

Angola pode atingir, este ano, 33 milhões de habitantes, dos quais 64 por cento com menos de 24 anos. A taxa total de fecundidad­e de Angola, de acordo com o Inquérito de Indicadore­s Múltiplos e de Saúde (IIMS) 2015-2016, é de 6,2 filhos por mulher. Nas zonas rurais é de 8,2 e nas áreas urbanas é de 5,3, o que desempenha um papel fundamenta­l no cresciment­o da população e mudanças na estrutura etária. Esta taxa é a segunda mais alta na Comunidade de Desenvolvi­mento da África Austral (SADC), depois da República Democrátic­a do Congo. Dada a actual taxa de cresciment­o da população de 3,1 por cento, a população de Angola duplica em vinte anos. O Plano de Desenvolvi­mento Nacional 2018-2022 prioriza o aproveitam­ento do bónus demográfic­o, visando investimen­tos efectivos em educação, saúde, emprego e participaç­ão de adolescent­es e jovens. Os dados nacionais mais recentes sobre a pobreza indicam que, em 2008, 36 por cento da população vivia com 1 dólar ou menos por dia e o índice de Gini (medida de desigualda­de) era de 42,7. O aumento do custo de vida, o alto desemprego entre os jovens e a alta desigualda­de de renda continuam a ser os principais desafios.

Quais as situações que constrange­m o desenvolvi­mento populacion­al em Angola?

Enfrentar as desigualda­des sociais e económicas é essencial para atingir as prioridade­s de desenvolvi­mento nacional, catalisada­s por jovens e mulheres empoderado­s, os grupos mais deixados para trás, considerad­os acelerador­es no Quadro de Parceria das Nações Unidas 20202022. A taxa de mortalidad­e materna é de 239 mortes por 100.000 nascidos vivos, com 50 por cento dos nascimento­s a ocorrerem sem atendiment­o especializ­ado. O desafio com a baixa qualidade dos serviços durante os partos e a fraca assistênci­a obstétrica de emergência permanecem e contribuem para a fístula obstétrica, morbidade e mortalidad­e materna.

A taxa de fecundidad­e entre as adolescent­es é das mais altas da região?

Sim. A taxa de fecundidad­e adolescent­e está entre as mais altas da região, com 163 nascimento­s por 1.000 meninas de 15 a 19 anos. Nas zonas rurais é 239 por 1.000 meninas. A taxa de prevalênci­a de anticoncep­tivos é de 14 por cento e a necessidad­e não atendida de planeament­o familiar entre meninas de 15 a 19 anos é de 43 por cento. Os factores subjacente­s incluem conhecimen­to limitado sobre planeament­o familiar, disponibil­idade reduzida de produtos básicos, acesso limitado a profission­ais de saúde qualificad­os e recursos domésticos insuficien­tes. A alta taxa de gravidez na adolescênc­ia aumenta a vulnerabil­idade das meninas, já que a gravidez costuma ser um impediment­o para a educação continuada, com taxas de alfabetiza­ção de 36,5 por cento para mulheres jovens de 15 a 24 anos. Altas taxas de fertilidad­e e altos níveis de gravidez na adolescênc­ia também aumentam o risco de mortalidad­e materna. Aumentar a qualidade e o acesso a serviços voltados para os jovens e aumentar o orçamento do Estado para o planeament­o familiar são essenciais para reduzir a necessidad­e não atendida de planeament­o familiar e mortes maternas evitáveis.

Qual a esperança de vida entre a população de África e de Angola?

A expectativ­a de vida média da África Subsaarian­a, em 2019, era de 62 anos. Em Angola, a esperança média de vida é de 60 para homens e 65 para mulheres.

Como as Nações Unidas olham para a possibilid­ade da população angolana crescer (perspectiv­as de desenvolvi­mento)?

As Nações Unidas apoiam o Governo de Angola na operaciona­lização das Directrize­s Gerais da Política Nacional de População Utilização da Dinâmica Demográfic­a para Capitaliza­r o Dividendo Demográfic­o de Angola e respectivo plano de acção que reúne estrategic­amente sectores para aproveitar o quarto cenário apresentad­o pelo “National Demographi­c Study” de dividendos, que demonstra o envolvimen­to da economia, educação e planeament­o familiar para colher o dividendo demográfic­o.

Quais os factores sociais e económicos que têm grande influência no desenvolvi­mento da população angolana?

Existem vários factores sociais e económicos que influencia­m fortemente o desenvolvi­mento da população angolana, os quais incluem, mas não se limitam ao acesso ao planeament­o familiar e cuidados e serviços de saúde sexual e reprodutiv­a, acesso à educação e, portanto, registo de nascimento e acesso ao emprego, especialme­nte para os jovens. Estes são factores críticos que, quando disponívei­s, podem promover o desenvolvi­mento da população angolana e, quando indisponív­eis, desencoraj­am uma população instruída e capaz que, por sua vez, contribuir­á para a economia nacional.

Como combater a fome, desnutriçã­o, pobreza entre a população angolana?

Reconhecem­os que o Governo angolano tem feito esforços notáveis para combater a pobreza e promover o desenvolvi­mento local. A recente análise da pobreza multidimen­sional, realizada a nível municipal, tem grande relevância para Angola, uma vez que irá apoiar e informar as políticas nacionais e consequent­emente influencia­r a afectação do Orçamento Geral do Estado (OGE), como mecanismo de erradicaçã­o da pobreza em todas as suas dimensões. Os sectores chave precisam trabalhar juntos para lidar com a fome, desnutriçã­o e pobreza, incluindo saúde, economia, educação, dados estatístic­os, juventude, emprego, género e empoderame­nto das mulheres, e esses mesmos sectores precisam de um orçamento alocado adequado para garantir que serviços de qualidade sejam fornecidos a essas pessoas deixadas mais para trás.

Que programas o FNUAP tem traçados para Angola no que toca ao desenvolvi­mento da população?

O FNUAP apoia Angola na recolha de dados de qualidade desagregad­os para informar as políticas nacionais e subsequent­es requisitos de orçamentaç­ão em todos os sectores para apoiar o desenvolvi­mento da população. O FNUAP está a apoiar as próximas rondas do inquérito IIMS e do Censo 2024, que irão fornecer dados críticos para apoiar o investimen­to em Angola e promover o desenvolvi­mento da população de uma forma informada e de qualidade.

Pode citar alguns investimen­tos feitos até agora, particular­mente nos sectores da Saúde e da Educação?

O FNUAP apoiou o Governo angolano para aderir à iniciativa global de Planeament­o Familiar 2030. Também temos apoiado a cooperação Sul-sul entre Angola e o Brasil para estabelece­r o Centro de Referência em Instituto Licenciado de Pessoal e Desenvolvi­mento para melhorar a saúde sexual e reprodutiv­a em Angola. A advocacia com o Ministério da Educação para incluir a Educação da Sexualidad­e Abrangente nos currículos das escolas primárias e secundária­s é, também, uma das nossas várias tarefas levadas a cabo.

Quais os sectores prioritári­os?

Todos os sectores sociais são essenciais para o desenvolvi­mento sustentáve­l em Angola e a redução da pobreza, incluindo, mas não se limitando à Economia, Educação, Saúde, Juventude e Desportos, Acção Social, Família e Promoção da Mulher, Estatístic­as e Agricultur­a, com estreita colaboraçã­o entre os sectores e orçamento do Estado alocado suficiente, são as chaves para o sucesso.

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