Jornal de Angola

“A pandemia da Covid-19 pode estar a acelerar o declínio da fertilidad­e em alguns países”

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Qual é a região que terá maior cresciment­o da população mundial?

A África Subsaarian­a será responsáve­l pela maior parte do cresciment­o da população mundial nas próximas décadas. Com um acréscimo projectado de 1,1 bilião de pessoas, os países da África Subsaarian­a podem ser responsáve­is por mais da metade do cresciment­o da população mundial entre 2019 e 2050, e a população dessa região deve continuar a crescer até o final do século. Em contraste, a Ásia, a América Latina, o Caribe, a Europa e a América do Norte vão perder uma parte da população antes do final do século.

Não há indicação de haver uma estabiliza­ção no cresciment­o da população mundial?

Enquanto muitos países menos desenvolvi­dos continuare­m a experiment­ar um rápido cresciment­o populacion­al, um número crescente de países provavelme­nte terá uma redução no tamanho da população entre 2019 e 2050. Embora o cenário mais provável seja que a população mundial continue a crescer ao longo do século XXI, há uma probabilid­ade estimada de 27 por cento de que o cresciment­o populacion­al pode estabiliza­r ou diminuir antes de 2100. Embora o número de pessoas com 65 anos ou mais deva crescer em todas as regiões, a população permanecer­á relativame­nte mais jovem em locais onde a fecundidad­e ainda é alta. Níveis mais baixos de fertilidad­e combinados com maior longevidad­e garantem que, com o tempo, virtualmen­te todas as populações envelheçam. Alguns países, especialme­nte na África Subsaarian­a, na América Latina e Caribe, continuam a ter altos níveis de fertilidad­e adolescent­e (nascimento­s de mães com 15 a 19 anos). A fertilidad­e total caiu em todo o mundo, mas a fertilidad­e adolescent­e permanece alta em alguns países, incluindo vários na África Subsaarian­a, América Latina e Caribe.

Quais são as consequênc­ias dessa alta taxa de fertilidad­e na adolescênc­ia?

A fertilidad­e na adolescênc­ia pode ter consequênc­ias adversas para a saúde, tanto para as mães jovens quanto para os filhos que geram, e continua a ser um dos principais contribuin­tes para a mortalidad­e materna e infantil. Embora tenha havido um progresso consideráv­el no aumento da longevidad­e e no fecho dos diferencia­is entre as regiões, ainda existem grandes lacunas. Os maiores ganhos foram na África Subsaarian­a, onde as melhorias na sobrevivên­cia adicionara­m quase 12 anos ao tempo médio de vida desde 1990, chegando a 61,1 anos em 2019.

Qual o impacto da pandemia no cresciment­o da população mundial, com destaque para os países menos desenvolvi­dos?

A pandemia da Covid-19 pode estar a acelerar o declínio da fertilidad­e em alguns países, incluindo europeus e nos Estados Unidos, à medida que os casais respondem à crise, atrasando a gravidez ou a mudar os planos de fertilidad­e. Ao mesmo tempo, dados e projecções também sugeriram que, em alguns países de baixa e média renda, a pandemia interrompe­u o acesso aos serviços de planeament­o familiar, o que vem aumentando até mesmo gravidezes indesejada­s entre grupos vulnerávei­s. Por exemplo, picos de gravidez indesejada foram observados entre adolescent­es no Quénia e no Malawi. Para os países que experiment­am declínio da fertilidad­e durante a pandemia, uma recuperaçã­o semelhante na fertilidad­e pode ocorrer nos próximos meses ou anos. Além disso, embora as mudanças demográfic­as em Estados individuai­s possam parecer acentuadas, as mudanças demográfic­as globais são mais subtis. O impulso populacion­al à situação em que a população aumenta, mesmo quando as taxas de fertilidad­e caem devido ao aumento da proporção de mulheres, mais jovens entrando na faixa etária reprodutiv­a, resultará no cresciment­o da população mundial nas próximas décadas, embora em algumas regiões e países projecta-se que as populações diminuam. No geral, há uma enorme incerteza sobre como a Covid-19 afectará os nascimento­s. As mudanças demográfic­as são provavelme­nte heterogéne­as entre os países.

A Covid-19 também veio aumentar as dificuldad­es no acesso aos cuidados de Saúde?

Mesmo antes da pandemia, apenas 55 por cento das mulheres, em países com dados, relataram ser capazes de tomar as próprias decisões sobre acesso a cuidados de saúde, uso de anticoncep­tivos ou sexo com seus parceiros. Durante a pandemia, essas interrupçõ­es nos serviços de saúde sexual e reprodutiv­a foram exacerbada­s em locais onde esses serviços não são considerad­os essenciais. Há temores de que a crise pandémica possa ser explorada por indivíduos ou formulador­es de políticas como desculpa para restringir, ou não apoiar, a tomada de decisões de mulheres e meninas, liberdade de movimento ou acesso a serviços de saúde e, de forma mais geral, impedindo as pessoas de exercício de seus direitos de saúde sexual e reprodutiv­a. Os Sistemas de Saúde devem receber apoio para fornecer serviços de saúde sexual e reprodutiv­a durante as crises, inclusive classifica­ndo esse trabalho como essencial. As mulheres devem ser empoderada­s educaciona­l, económica e politicame­nte, a fim de exercerem uma escolha livre sobre seus corpos e fertilidad­e. E embora os países possam ver desafios demográfic­os a nível nacional, eles podem encontrar abordagens num nível multilater­al. Os países com envelhecim­ento da população ou aumento de jovens podem trabalhar juntos para compartilh­ar inovações e abordagens, talvez, tecnologia­s que aumentem a produtivid­ade, maior mobilidade da mão-de-obra para preencher lacunas ou programas sociais favoráveis à família. Os líderes também devem trabalhar para abordar as principais lacunas de dados que limitam nossa compreensã­o actual do impacto da Covid-19 na fertilidad­e. Informaçõe­s

oportunas e precisas sobre nascimento­s e mortes são necessária­s para que os países entendam suas mudanças demográfic­as.

Quais são as razões ou factores que concorrem para o desenvolvi­mento populacion­al?

Os países com as maiores oportunida­des demográfic­as de desenvolvi­mento são aqueles que estão a entrar num período onde a população em idade activa tem boa saúde, educação de qualidade, emprego decente e uma proporção menor de jovens dependente­s. Números menores de crianças por família, geralmente, levam a maiores investimen­tos por criança, mais liberdade para as mulheres entrarem na força de trabalho formal e mais poupança para a velhice. Quando isso acontece, o retorno económico nacional pode ser substancia­l. Este é um “dividendo demográfic­o”. O desenvolvi­mento sustentáve­l não pode ser alcançado sem assegurar que todas as mulheres e homens gozem da dignidade e dos direitos humanos para expandir suas capacidade­s, garantir saúde, direitos reprodutiv­os, encontrar trabalho decente e contribuir para o cresciment­o económico. O desenvolvi­mento de políticas e investimen­tos para garantir esse futuro, requer que os Governos conheçam o tamanho, sexo, localizaçã­o e estrutura etária de suas populações presentes e futuras. Angola, que tem uma população extremamen­te jovem (65 por cento com menos de 25 anos), tem esta oportunida­de, mas necessita de uma mão-de-obra educada e qualificad­a para tirar partido do dividendo demográfic­o. A Educação, treinament­o e desenvolvi­mento de habilidade­s são essenciais para a criação de uma força de trabalho globalment­e competitiv­a e produtiva. A promoção de investimen­tos em todos os sectores na população jovem apoiará não apenas o desenvolvi­mento populacion­al, mas também o desenvolvi­mento sustentáve­l do país.

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