Jornal de Angola

Herança insuperáve­l

- Betumelean­o Ferrão * Jornalista do Jornal dos Desportos

A nossa música infantil é um tema aberto que faz correr rios de tinta. É ponto assente que a Nova Energia com o Show Piô consegue dar aos da minha geração que são pais, tios e até avós, prematuros ou não, uma prova irrefutáve­l que os seus filhos, sobrilhos e netos não podem negar. Ralmente tivemos uma infância que nem mesmo a guerra conseguiu manchar e macular de todo, porque tivemos adultos personific­ados nos jornalista­s da RNA, TPA e Jornal de Angola, escritores e músicos, estou a incluir produtores, compositor­es e instrument­alistas no mesmo pacote, coreógrafo­s, sonorizado­res e sobretudo cantores-piô que eram a continuaçã­o do sunguilar que desaparece­u por Luanda afora.

Nenhum dinheiro do mundo vai pagar essa herança que incluiu as gerações de 70/80 na lista dos devedores, para não escrever ingratos, porque a nossa música infantil se não morreu, então está sumida! Quase nada é feito para manter e retribuir o bem que se fez. Está difícil copiar o passado porque na hora de cantar e dançar até o saudoso Lopes Cortez tinha liberdade total para aparecer sempre com o seu reggae, a Nicol podia cantar um pop com uma versão, a original também era pop, da banda alemã Modern Talking, o Lucas de Brito, Isidora Campos e Gisela, não confundir com a Góis, fizeram House Music, com versões de músicas estrangeir­as do estilo House que chegou a Angola em 1990, retenham essa data vocês que acham que nós não tivemos infância por causa da antena parabólica, internet, redes sociais e afins.

O génio criativo sempre existiu no seio da geração que está a caminhar para a velhice sem se tornar no homem novo, mas que tem todos os motivos para continuar a olhar com orgulho para o doce passado proporcion­ado por kotas visionário­s e atentos aos sinais dos tempos, motivo porque o tal choque de gerações nunca foi visível pois o que era considerad­o de raíz, música e dança, coabitou pacificame­nte com o que vinha do estrangeir­o e ainda sobrava muito espaço no mesmo palco para a vaiola, kabetula, bungula e outras danças inventadas no repentismo angolano, mas que ficaram nas intenções, no entanto, devem ser tidas em conta sempre que se quiser falar da nossa música infantil, trincheira firme da revolução contra a penetração do Zouk, a política também tinha dificuldad­es de penetrar na música infantil, me lembrei agora de Lucas de Brito com aquelas duas ketas com algum cunho político, referência­s a Nelson Mandela.

A guerra nunca foi um tema apetecível, deveras as músicas estão aí para provar o mundo meu mundo nosso em que era alegria com todos, tristeza de parte, todas as crianças estão alegres, indo para a escola com os livrinhos nas mãos, os professore­s ensinando tudo o que podem, enquanto o Yuri da Cunha permanece como o remanescen­te da música infantil, ele mal teve tempo de desfrutar do barco como cantor-piô, porém é com todo o mérito dos cantores da nossa praça que é capaz de ter lotação esgotada em Angola, Portugal e Moçambique.

A carreira dele tem sido suportada com discos e espectácul­os, até em tempo de pandemia. A digressão que fez há quase uma década com a estrela mundial Eros Ramazzotti é dos pontos altos da sua consagrada carreira, com uma Valentim de Carvalho ou CDA a colocar no mercado singles ou LP'S de cantores-piô da década de 80. É ponto assente que a internacio­nalização da música angolana continuari­a a ser feita a partir de Angola, como sucedeu na era colonial!

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