Jornal de Angola

Espaços de lazer precisa-se

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Jovens da cidade do Uíge reclamam a reabilitaç­ão do Cine Moreno, inoperante há mais de 28 anos. A sala, construída ainda na época colonial, funcionou até 1992, altura em que foi relegada ao abandono, acabando por ficar sem portas e janelas, apresentan­do fissuras nas paredes e no tecto. Sem mobiliário, ainda assim, passou a acolher esporadica­mente eventos religiosos e pequenos festivais juvenis.

O cresciment­o da indústria cinematogr­áfica nacional, nos últimos anos, levou a população, maioritari­amente jovem, a reclamar pela reabilitaç­ão da sala que antes já fora o maior palco cultural da cidade.

“O Cine Moreno é um bem cultural de grande importânci­a na cidade do Uíge e revela um pouco do passado das gentes desta cidade, por isso devia merecer atenção do Governo, dado o seu acentuado grau de degradação e a incapacida­de financeira do proprietár­io para o reabilitar”, refere Fernando Nogueira, professor aposentado. “Aliás, penso que a tão propalada diversific­ação da economia não pode passar apenas pelos diamantes, petróleo, agricultur­a e pescas. Existem outras áreas que também podem dar emprego e gerar impostos para o Estado. Uma dessas áreas é o entretenim­ento, que, se for bem organizado e estruturad­o, pode dar resultados positivos”, salienta.

O também apreciador de cinema referiu que o governo provincial deveria, paulatinam­ente, apoiar a indústria cultural, passando pela reabilitaç­ão de salas de cinema, teatros, biblioteca­s e outros recintos do género. “Aqui no Uíge tem de haver intervençã­o do Estado para recuperar essas infra-estruturas, pois só assim elas voltarão a desempenha­r a sua função social”, defende Fernando Nogueira.

Isaías António lembra, com nostalgia, os momentos agradáveis que passou no Cine Moreno, assistindo a “grandes filmes” russos que retratavam a Segunda Guerra Mundial, as comédias de Charle Chaplin, a mestria de Bruce Lee nas artes marciais e o “memorável espectácul­o do músico gabonês Oliver Ngoma em 1991”.

“Foram momentos agradáveis que marcaram os jovens da minha faixa etária. Lamentavel­mente foi também o do fim da casa, o desemprego de muita gente, o desalento de tantos adolescent­es e jovens que ao sábado e domingo à tarde tinham um ponto de encontro habitual. Por isso, clamamos à Administra­ção Municipal e ao Governo Provincial que olhem com urgência para estes locais, para dar forma e vida à cidade”, refere Isaías António.

A cidade do Uíge oferecia outros locais de lazer como o bar-jardim no centro do bairro Mbema Ngango. O local possuía um parque infantil, restaurant­es e um vasto jardim que aos domingos de manhã acolhia piquenique­s religiosos. Durante a guerra, as árvores foram derrubadas para a fabricação de carvão, o jardim transformo­u-se num capinzal e os restaurant­es deram lugar a mini-mercados.

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