Jornal de Angola

Os tribunais arrecadam poucas receitas porque a taxa de justiça não pode ser alta

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A maior percentage­m das receitas do Cofre Geral de Justiça é cobrada pelos serviços do Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos, propriamen­te os serviços de Identifica­ção, Registos e Notariado, representa­ndo, actualment­e, mais ou menos AKZ 5.434980.856,68 por ano (83%); os tribunais e a PGR representa­m, anualmente, cerca de AKZ 1.113.188 850,16, isto é 17 por cento.

O Cofre recebe contribuiç­ões da PGR , Ministério da Justiça e dos Direitos Humanos e dos tribunais. Quais destes órgãos mais põe dinheiro ao Cofre?

Em condições normais, os tribunais arrecadam pouca receita, na medida em que a taxa de justiça não pode ser alta, para que o cidadão, independen­temente da sua condição financeira, possa ter acesso à Justiça. Com efeito, a perspectiv­a inicial é a de optimizaçã­o das receitas, por via da eliminação da dispersão dos recursos existentes nas mais de 200 contas bancárias presentes a nível nacional, em nome dos tribunais, tendo em conta o princípio da unidade de tesouraria, o que permitiria ter uma percepção clara do seu potencial financeiro.

Qual é a contribuiç­ão do Cofre no Orçamento Geral do Estado?

A criação do Cofre Geral dos Tribunais, além de garantir e honrar a autonomia administra­tiva e financeira dos tribunais, representa a visão estratégic­a de um instrument­o financeiro incrementa­l, exclusivam­ente ao serviço dos órgãos de administra­ção da justiça, o que mais eficientem­ente assegurari­a a perspectiv­a de optimizaçã­o das receitas, em virtude da melhoria e modernizaç­ão dos mesmos. Interessa salientar a necessidad­e de o Cofre Geral dos Tribunais beneficiar de dotações do Orçamento Geral do Estado, para compensar as receitas próprias.

Como encara a ideia da criação de um cofre único para os tribunais?

Tendo em conta que, à luz do Decreto Presidenci­al nº 300/19, de 16 de Outubro, ao Cofre Geral de Justiça cabe a gestão da totalidade das receitas emolumenta­res, durante cinco anos, as contribuiç­ões para a Conta Única do Tesouro correspond­em apenas ao imposto de selo, cobrado pela prática de actos notariais e de registo, sendo que a verba anual gira em torno de mais ou menos AKZ 928.486.269,52.

Os tribunais queixam-se da exiguidade das verbas a si atribuídas.ocofregera­ldejustiça não podia fazer face a isto?

O Cofre Geral de Justiça é um instrument­o financeiro incrementa­l, alternativ­o ao Orçamento Geral do Estado, que é a fonte principal de financiame­nto das despesas públicas. Como já referimos, a instituiçã­o sofreu quebras muito críticas em termos financeiro­s, na ordem de 68 por cento, encontrand­o-se numa fase de recuperaçã­o dos níveis desejáveis de arrecadaçã­o de receitas. A sua reforma tem, de certa forma, ajudado a criar, mais dinamicame­nte, condições de sustentabi­lidade financeira, mas como é possível verificar, não existem recursos financeiro­s suficiente­s para satisfazer uma grande demanda. Existem muitos tribunais a nível nacional. De 2018 a 2020, a estratégia consistiu em realizar despesas de forma parcimonio­sa e, paralelame­nte, a constituiç­ão de reservas financeira­s estratégic­as, que agora vão permitir a realização de investimen­tos (dentro de uma lógica de gradualida­de e escalabili­dade, em função do reforço progressiv­o da capacidade financeira), de acordo com o orçamento do Cofre Geral de Justiça, aprovado para o ano 2021.

No âmbito do combate à corrupção, qual é o montante que sai do Cofre para a PGR e para os tribunais?

Como referimos antes, o financiame­nto ao combate à corrupção, pelo Cofre Geral de Justiça, consiste na realização de despesas que garantam melhores condições de funcioname­nto dos tribunais, dentro dos quais está presente a PGR. Neste sentido e tendo a conta a implementa­ção da reforma judiciária, especialme­nte pela abertura de tribunais de comarca a nível nacional, foram alocados cerca de AKZ 288.906.324,75, além dos fundos de maneio (20% da receita do Cofre, retidos na fonte por cada tribunal), correspond­entes a aproximada­mente AKZ 738.926.532,00. Neste capítulo, interessa pontuar que a perspectiv­a de financiame­nto das despesas dos tribunais consistiu, estrategic­amente, na recuperaçã­o dos recursos ociosos existentes nas contas bancárias dos mesmos e da PGR junto do SIC (tendo em conta as dificuldad­es do Orçamento Geral do Estado), estimando-se em mais de AKZ 3.000.000.00,00 e USD 2.000,000,00, dos quais foram recuperado­s no final do ano 2020, mais de AKZ 1.152.888.808,42. No orçamento do Cofre Geral de Justiça para o ano 2021, foi prevista a realização de despesas com os tribunais, na ordem de 3.032.916.100,78 kwanzas, dentro da perspectiv­a de recuperaçã­o significat­iva dos recursos financeiro­s ociosos.

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