Fuga à paternidade
Provavelmente, por causa da crise sanitária e dificuldade que alguns progenitores enfrentam para manter os agregados, muitos enveredam pela fuga às responsabilidades paternais. Acho que temos muitos problemas, mas nada justifica o problema da fuga à paternidade. E o facto de passarmos por situações menos boas na medida em que as dificuldades aumentaram, efectivamente, na medida em que as restrições se acentuaram um pouco por todo o mundo. Embora tenhamos uma situação mais ou menos controlada, nada melhor que continuar a observar as leis que obrigam aos pais na observância das responsabilidades paternais. Nesta fase em que todos precisamos mais do que nunca de nos mantermos informados sobre o que se passa no país e no mundo, faz toda a diferença prestar atenção aos meios de comunicação social. Fruto da mediatização excessiva, as questões de fuga à paternidade ganham contornos nunca antes vistos. Lembro-me de que, na década de 80, apenas para referir esta etapa, não havia o fenómeno crianças de rua e, embora seja verdade que a fuga à paternidade, camuflada com a ida à tropa e outras práticas, já existia, ainda assim penso que hoje as coisas se inverteram muito profundamente. Ao contrário da realidade anterior, em que as eventuais causas tivessem que ver com a guerra e o elevado índice de desestruturação das famílias, hoje grande parte das pessoas envolvidas nos casos de fuga à paternidade são empregadas e com rendimento que, em condições normais, teriam como sustentar os filhos de que fogem.
Acho que a lei e as penalizações para os casos de fuga à paternidade dá azo a que as pessoas persistam neste procedimento. Não são eficazes, os mecanismos que responsabilize os “fugitivos”. Todos os dias surgem novos casos de fuga à paternidade. O que falta para que os faltosos sintam a “doer”, com penalizações que os deixem com as contas bancárias em baixo por força das penalizações ? O fenómeno fuga à paternidade apenas persiste porque não temos sabido agir de forma que se erradique essa prática que nos envergonha a todos enquanto sociedade. Espero que as instituições façam alguma coisa, numa altura em que a minha esperança reside nos esforços que foram feitos no sentido da reforma da Justiça e no novo Código Penal.
FRANCISCO COSTA KM30