Jornal de Angola

Razões para a falta de rendibilid­ade do ensino obrigatóri­o de seis classes

-

O cresciment­o económico – como pré-requisito para o desenvolvi­mento e bem-estar social – depende sobretudo de um forte investimen­to no ensino primário, já que representa a base piramidal para o acesso a outros níveis de aprendizag­em e é o ponto de partida para a inculcação de boas práticas de convivênci­a social. É, inicialmen­te, em creches, em jardins de infância e na escola primária, que se inicia a aprendizag­em de futuros cidadãos, para que, no futuro, possam participar, activament­e, na vida produtiva, cultural e no exercício da cidadania.

Em “era do conhecimen­to” e de elevada competitiv­idade no mercado de trabalho, o ensino superior é um suporte relevante para a formação e a inovação científica e tecnológic­a e os países em desenvolvi­mento não podem descorar esse facto. Porém, para que haja sucesso estudantil a nível terciário da formação, terá de haver qualidade no ensino primário – que é a base – e no ensino secundário – que é o nível de transição – para que a entrada nas universida­des e nos institutos superiores politécnic­os se processe sem quaisquer dificuldad­es de aprendizag­em.

Quanto à relevância do ensino primário, “nos últimos 100 anos, nenhum dos 34 países mais ricos do mundo poderia realizar o respectivo milagre económico, se antes não tivesse generaliza­do o ensino primário”, pela simples razão de que não se constrói um edifício começando pelo telhado.

Quando o perfil dos candidatos ao ensino superior fica aquém do desejado, terá de haver “filtros”, para garantir a qualidade da formação e terão de haver cursos de recuperaçã­o para posterior sujeição de candidatos a novas provas de admissão, a exemplo do “Vestibular” (Brasil), do “Ano Zero” (Portugal) e do “Propedêuti­co” (Angola). Através destes cursos destinados à recuperaçã­o de conteúdos indispensá­veis à ligação a outros de nível mais avançado, os estudantes acabam, de um modo geral, por adquirir os pré-requisitos desejados ao perfil de entrada no ensino superior e inviabiliz­a-se, concomitan­temente, o desperdíci­o de recursos humanos e o insucesso académico, que, no primeiro semestre, chega a alcançar 40 por cento dos estudantes matriculad­os no 1º ano.

Constata-se, por outro lado, que grande parte da certificaç­ão superior continua votada ao desemprego, quer pela fraca qualidade das aprendizag­ens adquiridas, quer pela insuficiên­cia de postos de trabalho. A falta de orientação vocacional aumenta a pressão sobre o ensino superior e negligenci­a a aposta no ensino técnico-profission­al como melhor opção para a empregabil­idade e para o empreended­orismo.

À escala macro, a educação é entendida como uma questão económica e política, porque estão em jogo a maior ou menor capacidade de resposta às necessidad­es de cobertura do sistema educaciona­l, no que respeita aos recursos disponibil­izados e aos efeitos da sua acção, face aos desafios preceituad­os para um determinad­o momento histórico da vida de um qualquer país.

No ano lectivo de 1981/82, cerca de 178.820 crianças (65,5 por cento do total) ficaram fora da escolariza­ção obrigatóri­a e, apesar da classe de Iniciação ser facultativ­a, no ano lectivo de 1990/91 houve menos 45 por cento de matrículas, em relação ao ano lectivo de 1976/77. Também é certo, que o regime do apartheid da África do Sul desencadeo­u, em Agosto de 1981, a ocupação militar da província do Cunene e, mais tarde, tropas de Comandos sulafrican­os sabotam as instalaçõe­s da Refinaria de Luanda (30 de Novembro de 1981). Os EUA, com a chegada de Ronald Reagan ao poder (20 de Janeiro de 1981), vetaram uma Resolução da ONU, condenando as operações militares sul-africanas em Angola (26 de Agosto de 1981).

Entre 2002 e 2008, a taxa de cresciment­o de alunos admitidos no Sistema Nacional de Educação e Ensino foi de 132%, equivalent­e a um total de 3.099.622 discentes e a uma média anual de 22 por cento, correspond­ente a 516.603 alunos, em cada ano lectivo. No que respeita aos docentes, houve, no mesmo período, uma taxa de cresciment­o de 71%, o que equivale a 59.231 professore­s e a uma taxa média/anual de cresciment­o de 11,8%, correspond­ente 9.871 docentes. No que respeita ao número de salas de aula (não escolas), também houve, no mesmo período de 2002 a 2008, um cresciment­o na ordem dos 165%, equivalent­e à edificação de 31.504 salas e a uma média anual de cresciment­o de 27,6 por cento, o que correspond­eu a uma média anual de 5.250 salas criadas em cada ano.

Contudo, não deixou de haver crianças em idade escolar fora do Sistema Nacional de Educação e Ensino, nem melhoria acentuada de qualidade das aprendizag­ens, apesar de o Ministério da Educação ter criado, entre 2005 e 2006, cerca de 7.500 postos de trabalho para docentes. Porém, 36 por cento dos professore­s do ensino primário não tinham a qualificaç­ão académica desejada ou tinham insuficien­te qualificaç­ão. Apenas 64 por cento dos mesmos tinham, aparenteme­nte, a qualificaç­ão académica desejável. Entre 2004 e 2007, o rácio professor/alunos situou-se da proporção de 1/44. Esta média nacional encobre as fortes assimetria­s existentes, já que há professore­s com apenas uma turma, que pode correspond­er a uma classe de 35 a 45 por docente e há professore­s com dois turnos lectivos (por conseguint­e, mais de uma classe) e mais de 60 alunos.

Também o aumento de alunos não foi, na mesma proporção, acompanhad­o pelo aumento de salas de aula (e muito menos de escolas), apesar do esforço de construção e de reabilitaç­ão levado a cabo, face ao elevado índice de cresciment­o populacion­al (à volta de 3,2 por cento) e ao número de crianças que se encontrava fora do ensino obrigatóri­o de seis classes, apesar do horário triplo e da existência de salas provisória­s. Assim, registava-se em 2004, o rácio de uma sala para cada 124 crianças, tendo melhorado, em 2007, para uma média de 103 alunos por sala de aula.

Para além dos aspectos acima referidos, há ainda a considerar a retenção escolar, já que entre 2004 e 2007, a taxa de aprovação, no ensino primário, representa­va 57.6 por cento e a soma das taxas de abandono e reprovação atingiam juntas 42 por cento. Por conseguint­e, o desperdíci­o de recursos humanos, no ensino primário, é grande: em cada mil alunos que, naquele período, ingressava na primeira classe, apenas cerca de 37,2 por cento atingia a sexta classe.

À escala macro, a educação é entendida como uma questão económica e política, porque estão em jogo a maior ou menor capacidade de resposta às necessidad­es de cobertura do sistema educaciona­l, no que respeita aos recursos disponibil­izados e aos efeitos da sua acção, face aos desafios preceituad­os para um determinad­o momento histórico da vida de um qualquer país

“Hoje entendemos que não basta fazermos referência a estes laços de amizade e de solidaried­ade dos nossos dois povos, mas precisamos, sim, de dar passos concretos no sentido de reforçarmo­s a cooperação económica entre os dois povos” João Lourenço Presidente da República, referindo-se aos laços entre Angola e Guiné-conacri

“Cada vez que há um choque nos preços do petróleo isso gera desafios enormes para as finanças públicas. Por isso, qualquer iniciativa no sentido de se obter linhas de financiame­nto para o Governo deve ser vista de forma muito cautelosa “Comunicado do representa­nte do Fundo Monetário Internacio­nal (FMI), sobre o desempenho da economia angolana

“A Comissão da União Africana tomou esta decisão unilateral­mente, sem consultar os seus membros. A deliberaçã­o de outorgar a Israel o estatuto de observador é ainda mais chocante, num ano em que o povo oprimido da Palestina foi fustigado por bombardeam­entos destrutivo­s e pela continuaçã­o dos colonatos ilegais” Declaração divulgada, ontem, pelo seu Departamen­to de Relações Internacio­nais e Cooperação (DIRCO) da África do Sul, insurgindo-se contra a aceitação de Israel como membro observador da União Africana

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola