BNA quer bancos na Bolsa de Valores
José de Lima Massano fez este apelo no fórum organizado pelo jornal “Expansão” na mesma ocasião e palco em que a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, pediu a que o Aviso 10/20 sobre o financiamento à produção nacional seja reafirmado como um compro
do Banco Nacional de Angola, José de Lima Massano, quer que os bancos comerciais considerem a possibilidade da dispersão de acções na Bolsa da Dívida e Valores de Angola (BODIVA), para o reforço do escrutínio e da transparência das suas operações.
Ao discursar, ontem, em Luanda, no encerramento do fórum Banca, do jornal “Expansão”, que elegeu o tema “As Transformações do Sector Bancário Angolano a Curto e Médio Prazo”, José de Lima Massano disse ver na obrigatoriedade de prestar informação ao mercado em tempo útil e em observância das exigências de calendário estabelecido pelas bolsas um importante instrumento que deve ser maximizado pelos gestores bancários.
“A entrada para o mercado regulamentado de capitais pode também facilitar o reforço da própria estrutura de capitais por acesso ao financiamento através da emissão de acções a novos investidores ou mesmo accionistas existentes, ou de obrigações a investidores institucionais ou particulares, alcançando um leque mais alargado de investidores”, considerou.
Embora não se saiba de uma data efectiva para o início do mercado de acções, o último segmento da Bolsa de Valores a arrancar, o governador do banco central lembrou que o país vive tempos desafiantes e de mudança, sendo preciso mobilização total “para acompanhar e ser parte activa do processo de transformação da economia, através do desenvolvimento do sistema financeiro, que se quer credível, resiliente, sustentável e indutor de crescimento económico e bemestar social”.
De acordo com José de Lima Massano, os caminhos da inclusão financeira em Angola, actualmente com cerca de 50 por cento da população adulta já com acesso à oferta de serviços básicos bancários, coloca a banca nacional nos marcos do Banco Mundial e também alinhada com a média continental africana. Tal posição, defendeu, leva ao desenvolvimento dos sistemas de pagamento, onde pontificam as transferências instantâneas.
O governador entende que a regulação e a supervisão terão de assegurar que o processo de transformação digital do sistema financeiro ocorra sob critérios de segurança, eficácia e competitividade.
Assim, disse, em complemento ao alinhamento da regulamentação e supervisão às melhores práticas internacionais, está em consideração uma outra iniciativa que terá impacto significativo na forma de trabalhar do BNA no domínio da supervisão, que é a adopção da tecnologia para supervisão, também conhecida como Suptech (abreviação em inglês para Supervisory Technology).
“As bases de dados distribuídas, a robótica, a inteligência artificial e a capacidade, cada vez maior, de computação quântica, estão na base da transformação de muitos processos que propiciam a inovação no sistema financeiro, incluindo no domínio da supervisão”, apontou.
Numa clara migração tecnológica, anunciou, o BNA vai apostar na aplicação de “big data” e inteligência artificial às ferramentas utilizadas para a supervisão, que aumentam o volume, variedade, velocidade e validade dos dados sob gestão.
A inteligência artificial permite fazer análises de dados complexos e em volumes que ultrapassam a capacidade humana e, assim, substituir as abordagens actuais, baseadas no envio de relatórios e inspecções “on-site” morosas e frequentemente reactivas.
Na abertura do fórum, a ministra das Finanças, Vera Daves de Sousa, disse que o negócio bancário envolve muitas partes directamente interessadas, sendo as famílias e as empresas (na qualidade de depositantes e quando recorrem ao crédito), as administrações, os accionistas e os trabalhadores dos bancos, bem como o Estado (no papel estratégico de orientar a banca e o sistema financeiro para o adequado suporte do desenvolvimento económico e social).
Nessa base, Vera Daves incentiva os bancos a um total engajamento na materialização do Aviso 10/20 (documento do BNA que obriga os bancos a dedicarem 2,5 por cento do activo líquido a favor do financiamento à produção nacional), tendo em vista o fomento da produção interna por via do crédito, seja de matérias-primas, a aquisição de tecnologia, maquinaria e equipamentos.
“A banca é, portanto, vital para a economia. Torna-se, por isso, fundamental conhecer com a máxima profundidade e, em cada momento, o papel que lhe cabe, de identificar, atrair e financiar a capacidade empreendedora dos agentes económicos e de modo sustentável canalizar capitais para o crescimento económico, visando a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, uma vez que a robustez do sector privado está fortemente dependente também do papel da banca”, afirmou.
Considerou que o país está a verificar, gradualmente, a entrada em cena de novos operadores no sistema financeiro: as Tal realidade corresponde ao crescimento da economia da informação e contém ameaças e oportunidades com um enorme potencial disruptivo.
Vera Daves falou em desafios e oportunidades que persistem na banca, tendo citado a criação de uma oferta de produtos e serviços financeiros mais acessíveis, inclusiva e económica para os angolanos e para as empresas, suportadas por um sistema financeiro sólido.
Em matéria de bancarização da população, disse a ministra, o país está ainda muito longe do que seria razoável. “Dadas as circunstâncias geográficas e demográficas, é pela digitalização dos serviços bancários que, no médio prazo, lá chegaremos, na medida em que a expansão da bancarização é um desafio que temos de vencer pois é condição necessária para a inclusão financeira de toda a nossa população e tem externalidades positivas em todos os domínios da nossa economia”, afirmou.