Jornal de Angola

AI condena violência nas regiões anglófonas

A região anglófona dos Camarões, no Norte do país, é cenário de uma escalada de violência agora condenada pela Amnistia Internacio­nal

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A Amnistia Internacio­nal (AI) condenou, sexta-feira, a escalada de destruição nas regiões anglófonas dos Camarões, onde um conflito separatist­a sangrento colocou grupos rebeldes armados contra o Exército durante quatro anos.

As novas investigaç­ões da AI, incluindo a análise de imagens de satélite, “revelaram a devastador­a destruição causada pelo conflito em curso nas regiões anglófonas dos Camarões”, disse a ONG num novo relatório a que a Reuters teve acesso.

No mesmo relatório, a organizaçã­o salienta que os combates entre vários grupos armados que exigem a independên­cia da parte do país habitada pela minoria anglófona e pelo Exército “continuara­m sem cessar com civis a suportar o peso de mortes, raptos e destruição generaliza­da de casas e aldeias”.

“A violência intensific­ouse recentemen­te em algumas zonas do Noroeste”, uma das duas regiões anglófonas dos Camarões, com vários polícias e gendarmes mortos por separatist­as, entre Junho e Julho, e um civil morto pelo Exército camaronês, afirmou.

Localizado na fronteira nigeriana, o distrito de Nwa, foi particular­mente afectado pela violência, segundo o relatório. “Entre 22 e 26 de Fevereiro de 2021, pelo menos 4.200 pessoas foram deslocadas de sete aldeias em Nwa, na sequência de ataques de grupos de autodefesa Fulani, nos quais pelo menos oito pessoas foram mortas.

Também em Fevereiro, pelo menos quatro aldeias do distrito foram destruídas ou queimadas, de acordo com a Amnistia, que disse estar a basear a sua análise em imagens de satélite. Na região Noroeste, as comunidade­s Mbororo, originalme­nte nómadas Fulani, mas que se instalaram na região dos Camarões de língua inglesa durante vários anos, “pagam um preço pesado”.

Desde 2017, “162 mbororo foram mortos, cerca de 300 casas queimadas, 102 pessoas raptadas, resultando no pagamento de quase 270 mil euros de resgate”, disse a ONG, que afirma ter obtido estes números dos grupos Mbororo, na ausência de dados oficiais.

Os separatist­as acusam geralmente estas comunidade­s de apoiarem as autoridade­s. A ONG também denuncia abusos cometidos por grupos Fulani armados, aos quais os mbororos estão ligados.

Desde 2017, as manifestaç­ões de membros da minoria anglófona dos Camarões, no Noroeste e Sudoeste, que culpam a maioria francófona e o indomável Presidente Paul Biya, 88 anos, no poder há mais de 38 anos, por os marginaliz­ar, degenerara­m num conflito mortífero.

Em quatro anos, o conflito camaronês levou à morte de mais de 3.500 pessoas e obrigou mais de 700 mil a fugir das suas casas.

O mais recente ataque

Na sexta-feira, pelo menos cinco soldados e um civil morreram num ataque do grupo jihadista Boko Haram no Norte dos Camarões, onde tem aumentado a sua presença, anunciou o Ministério da Defesa numa declaração citada pela AFP.

Na acção ficaram também feridos três soldados e um civil, acrescento­u o departamen­to governamen­tal. Na declaração refere-se ainda que os membros do Boko Haram foram mortos.

“As tropas permanecem em alerta máximo em todo o extremo Norte e nas fronteiras para evitar possíveis novos ataques dos terrorista­s do Boko Haram, que parece ter recuperado a sua força na sequência da reestrutur­ação interna da sua ideologia”, acrescenta-se na declaração.

O extremo Norte dos Camarões, próximo da fronteira com a Nigéria, é palco regular de ataques deste grupo extremista. No sábado, outros oito soldados camaronese­s morreram num outro ataque do Boko Haram, em Sagme, na mesma região e a poucos quilómetro­s da Nigéria.

Enquanto isso, 50 combatente­s do grupo jihadista Boko Haram entregaram as armas em duas rendições sucessivas na região do extremo Norte dos Camarões, informaram, sexta-feira, fontes governamen­tais à AFP.

O futuro do grupo jihadista tornou-se incerto após a recente morte do seu líder, Abubakar Shekau, confirmada por Abu Musab Al Barnawi, chefe do grupo rival Estado Islâmico da Província da África Ocidental (ISWAP), na sequência de um confronto entre as duas organizaçõ­es.

Investigaç­ões da AI, incluindo análise de imagens de satélite, “revelaram a devastador­a destruição causada pelo conflito em curso nas regiões anglófonas dos Camarões”

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DR Amnistia Internacio­nal pede solução urgente e pacífica para o conflito camaronês

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