Jornal de Angola

Ondjaki: “Avó Dezanove e o segredo do soviético”

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“A explosão até acordou os pássaros adormecido­s nas árvores e os peixes devagaroso­s do mar — acontecera­m cores de um carnaval nunca visto, amarelo misturado com vermelho a fingir que é laranja num verde azulado, brilhos a imitar a força das estrelas deitadas no céu e barulho tipo guerra dos aviões Mig. Era afinal uma explosão bonita de ser demorada nos ruídos das cores lindas que os nossos olhos olharam para nunca mais esquecer.

Nós, as crianças, ficamos a olhar o céu se encher de umas maravilhas acesas como se todos os arcos-íris do mundo tivessem vindo a correr fazer um brinde no tecto da nossa cidade escura de Luanda.”

Kajim Ban-gala: “A Balconista de Windhoek”

“Outro dia, depois que desci do táxi, cheguei à Farmácia. Nada demais: andar de táxi numa cidade que não conhecemos é normal. É até agradável, e não custa suor algum. Isso foi na véspera do dia da Independên­cia da Namíbia. Conheci, então, uma senhorita que, à primeira vista, pareceu-me porreira. Atendia numa farmácia: logo à entrada, deu para perceber que falava com as outras colegas numa língua, para mim, estranha. Refiro-me ao africânder (a grafia é brasileira).”

Costa Andrade: “A Profecia”

“O rio Kuiva não é um rio. É uma lenda.

Também não é uma lenda. São muitas lendas cruzadas com a verdade. Tantas verdades, que a lenda do Kuiva é afinal uma verdade, que faz dele um rio, que devia ser igual aos outros, mas não é.

Às vezes torna-se um conto, outras vezes um mistério, a maior parte das vezes um caudal de enchentes, onde acontecem coisas estranhas, inesperada­s, que transforma­m o rio num conjunto de geografias, seres humanos e bichos, capazes de ser ontem e amanhã, mudar de repente.”

Luís Rosa Lopes:

“Os Knunca tinham ãviãojado”

“Havia um homem knunca tinha ãviãojado.

Então, um dia, resolveu fazer a experiment­ação:

- Vou ãviãojar katé na Lunda ver meus parente!...

O tal homem demorava de sair de Luanda desdke lhe tinham nascido. Os pais tinham saído das banda da Lunda e tinham ficado na capital. A troca de muita carta, lhobrigara­m a se decidir! Arranjou cunha num kamba da cumpanhia dos diamante e conseguiu que lhautoriza­ssem ir nas Lunda...”

(In livro “Uma Maria João e os Knunca”)

João Tala: “Viagem para o fim”

“É difícil explicar uma mulher em delírios. Mas de Solanhi dizia-se que ardia umas vezes, sufocavase outras, cada vez que cantavam os galos. Dos delírios progredia para paroxismos dolorosos, numa convulsão que a matava aos poucos. “Mas o que é mesmo que se passa com a consciênci­a e a estabilida­de da mana Solanhi?”. Inicialmen­te pensámos numa epilepsia, mas os mais radicais aventavam um xinguilame­nto. O certo mesmo é que ela gritava nas suas convulsões, ardia febril.”

(In livro “Surreambul­ando”)

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