Jornal de Angola

Viagem guiada pela literatura angolana

- Isaquiel Cori

É um momento decisivo, este: o poeta, o escritor, está diante do papel em branco, físico ou digital no écran do computador, do tablet ou do smartphone -, e uma confusão de pensamento­s desconexos, caóticos, enche-lhe a cabeça. Há muito que ele, ou ela, sentia-se embalado por essa confusão feita de lampejos intuitivos, sensações sem nome e uma lucidez que lhe abria as portas da memória construída com base nas experiênci­as e percepções próprias e nas dos outros com os quais se cruzara ao longo da vida. A tudo isso juntavase o mundo multidimen­sional dos livros que lera durante toda a sua existência.

Este é o momento inicial em que, através da escrita, todo esse caldo de cultura será transforma­do para dar lugar a algo absolutame­nte novo, a obra na forma do poema, do conto ou do romance. É o momento seminal da criação, a que se seguirão outros, até que o poeta, o escritor, na função de demiurgo, dê por terminada a obra.

Esse momento, cujo único e insubstitu­ível protagonis­ta é o autor – Luandino Vieira parece que pressente uma presença transcende­ntal inominável, quando diz: “Alguém passeia em mim” –, só pode ser palidament­e imaginado pelo leitor fazendo uma leitura profunda, reflectida, dos primeiros parágrafos da obra.

Num exercício lúdico de apelo e exaltação à leitura compilamos aqui os parágrafos de abertura de algumas obras literárias – romances e contos – de autores angolanos de várias gerações, para mostrar o quão diferentes e criativos podem ser.

Por razões de espaço ficamo-nos aqui pelas consideraç­ões, deixando o caro leitor inteiramen­te entregue ao prazer da leitura, esperando que a experiênci­a o leve a procurar as obras completas. E, em havendo quem o faça, parafrasea­ndo Ruy Duarte de Carvalho, “estará salva a ilusão”.

PS: A ordem em que as citações aparecem é perfeitame­nte aleatória. Numa próxima edição traremos citações de outros autores.

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