Vacinas enviadas à Europa vão ser devolvidas a África
Os países africanos vacinaram menos de 3% da sua população de 1,3 mil milhões de habitantes, o que contrasta com mais de 50% da população europeia já vacinada
O enviado especial da União Africana encarregue de angariar vacinas para África disse que a fábrica da Aspen, na África do Sul, já deixou de enviar vacinas para a Europa, devolvendo as que tinham seguido.
"Esses carregamentos estão suspensos, depois de uma reunião entre o Presidente da África do Sul e a presidente da comissão Europeia, que não estava a par desse acordo, e reverteu-o imediatamente", disse Strive Masiyiwa, durante a conferência de imprensa semanal do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da União Africana (África CDC).
Em causa, está o envio de vacinas produzidas pela Aspen na África do Sul, para a Europa, o que contraria todas as declarações dos responsáveis políticos europeus e africanos, que têm defendido o aumento da cobertura no continente africano, muito atrás do europeu na taxa de vacinação dos seus cidadãos.
"Von der Leyen reuniu-se em Berlim com Cyril Ramaphosa (Presidente da África do Sul) e falaram sobre as vacinas; as que foram enviadas serão devolvidas este mês e os europeus garantiram que iam dar 200 milhões de doses antes do final de Setembro", disse Strive Masiyiwa, defendendo que as relações entre os dois continentes são boas e que o problema surgiu devido ao modo de operar da fábrica sul-africana.
Em vez de um contrato de licenciamento da produção de vacinas pela Johnson & Johnson, a fábrica opera mediante encomendas, o que faz com que não tenha controlo relativamente a quem faz as encomendas e para onde as exporta, disse Masiyiwa. Acrescentou que esse problema foi "corrigido de uma maneira positiva" e que o modelo de funcionamento da fábrica sul-africana garante agora que "as vacinas produzidas em África sejam distribuídas em África".
Questionadopelosjornalistas sobre a quantidade de vacinas que África perdeu, o enviado especial da União Africana respondeu: "Eles devolveram o que estava no armazém, são menos de 20 milhões de doses, nãotemosonúmerocertoainda, mas o gesto de boa vontade está lá e serão devolvidas a África este mês".
Os países africanos vacinaram menos de 3% da sua população de 1,3 mil milhões de habitantes, o que contrasta com mais de 50% da população europeia já vacinada.
O director do Africa CDC, John Nkengasong, disse que o número de novos casos no continente na última semana teve um decréscimo de 12%.
"Entre 23 e 29 de Agosto, registámos 211 mil novos casos, o que representa um decréscimo de 12% face à semana anterior", disse o responsável, quinta-feira, na conferência de imprensa semanal sobre a evolução da pandemia de Covid-19 no continente africano.
No total, já houve 7,8 milhões de casos, dos quais 6,9 milhões recuperaram totalmente, havendo maior preocupação com a África Austral, que é responsável por 43% do total de novos casos.
"Na última semana, tivemos 5.345 mortes no continente, o que representa uma quebra de 4% face ao número da semana anterior", acrescentou o responsável, vincando que, relativamente ao número de testes, um instrumento essencial para aferir a evolução da pandemia, houve uma redução.
"Fizemos, no total, até agora, 66 milhões de testes no continente, dos quais 1,5 milhões foram na semana passada, e isso representa uma descida de 3% face ao número de testes realizado na semana anterior", disse John Nkengasong.