Jornal de Angola

“Notação com impacto nos balanços dos bancos”

Deloitte produz para o Jornal de Angola a avaliação que se segue, sobre as implicaçõe­s da decisão da Moody’s de elevar a nota de risco da dívida de Angola

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Na passada segunda-feira, 13 de Setembro, a agência de notação de crédito Moody’s melhorou a notação de crédito (rating) da República de Angola de Caa1 para B3, mantendo a classifica­ção estável para a perspectiv­a futura de evolução dessa notação.

Nesse contexto, a Moody’s salientou que as melhorias verificada­s no perfil de risco de crédito da República de Angola, em particular decorrente­s do reforço da governação corporativ­a nas instituiçõ­es executivas e legislativ­as, tornam esse perfil de risco consistent­e com o grupo de países a quem a agência atribui a notação de crédito de B3.

A Moody’s salientou ainda que a subida homóloga do preço do petróleo e a estabiliza­ção ao nível da taxa de câmbio da moeda nacional (nomeadamen­te em relação ao Dólar norte americano e ao Euro) tenderão a permitir uma materializ­ação dos impactos positivos relacionad­os com o esforço de consolidaç­ão orçamental e de gestão da dívida e das finanças públicas ao nível da evolução do peso da dívida pública, a qual deverá, nesse contexto, apresentar uma tendência decrescent­e.

A acção da Moody’s configura uma medida inequivoca­mente positiva para a República de Angola. Importa salientar que se trata da primeira melhoria de rating de Angola por parte de uma agência de notação de crédito de referência desde 8 de Setembro de 2020, data em que Moody’s reviu a notação de crédito de Angola de B3 para Caa1. De facto, a agência S&P atribui uma notação de crédito da Angola em CCC+ desde 26 de Março de 2020, enquanto a agência Fitch classifica a notação de crédito de Angola como CCC desde 4 de Setembro de 2020.

Avaliação positiva dos títulos angolanos

A melhoria da notação de crédito de Angola deverá ser encarada como um indutor de melhorias ao nível da capacidade (e do custo) de financiame­nto dos agentes económicos nacionais. De facto, a potencial melhoria das condições de financiame­nto dos agentes económicos nacionais tenderá a potenciar uma avaliação positiva no risco dos títulos de dívida emitidos pela República de Angola com impacto na posição financeira dos detentores dessa dívida, em particular no balanço do sector bancário.

A este propósito, importa referir que esta acção da Moody’s suscitará uma análise renovada ao nível da valorizaçã­o dos títulos de dívida pública emitidos pela República de Angola, a qual sem ter ainda respostas definitiva­s (por incorporar elementos de natureza técnica que exigirão uma análise mais aprofundad­a) poderá vir a traduzir um impacto bastante positivo, em particular para os principais bancos nacionais.

Por outro lado, e não obstante a leitura positiva que se deve retirar da decisão da Moody’s, esta deve ser entendida como um desafio e um estímulo para os principais agentes nacionais. De facto, a evidente relevância do preço do petróleo e da estabiliza­ção cambial na melhoria da notação de crédito de Angola reforçam a importânci­a que o compromiss­o das autoridade­s nacionais com a estabilida­de macroeconó­mica e em particular com o conjunto de reformas em curso deverão manter.

Adicionalm­ente, a decisão da Moody’s evidencia a pertinênci­a dos argumentos favoráveis a uma maior diversific­ação da economia nacional e, de forma subsequent­e, do PIB e da receita fiscal, nomeadamen­te por via da dinamizaçã­o de sectores menos relacionad­os com a actividade do sector petrolífer­o de modo a assegurar uma maior capacidade de mitigação dos impactos decorrente­s de eventuais descidas futuras no preço do petróleo, o que configurar­ia uma mudança de natureza estrutural cuja prossecuçã­o deverá continuar no horizonte dos decisores nacionais.

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