Jornal de Angola

ONG pede investigaç­ão a motim numa prisão em Lubumbashi

A HRW pediu uma investigaç­ão “credível e imparcial” sobre um motim que ocorreu há um ano na prisão de Kasapa, em Lubumbashi

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A Organizaçã­o Não-governamen­tal Human Rights Watch (HRW) apelou para que haja uma investigaç­ão “credível e imparcial” sobre o motim que ocorreu na prisão central de Kasapa, na República Democrátic­a do Congo (RDC), em Setembro de 2020.

Segundo a AFP, a HRW considera que as autoridade­s da RDC não fizeram qualquer progresso aparente na investigaç­ão daquele motim, em Kasapa, em Lubumbashi, e lembra que na sequência do incidente “reclusos violaram repetidame­nte várias dezenas de mulheres presas, incluindo uma adolescent­e, durante três dias”.

Em comunicado divulgado, na segunda-feira, a Organizaçã­o Não-governamen­tal (ONG) pede que as autoridade­s proporcion­em “à sobreviven­tes cuidados médicos adequados e apoio de saúde mental” e investigue­m “o incidente de forma credível e imparcial, incluindo os funcionári­os, que ignoraram repetidas advertênci­as sobre o tumulto iminente, bem como processar equitativa­mente os responsáve­is pelos abusos”.

“As autoridade­s congolesas deveriam investigar e agir de forma empenhada no que respeita aos três dias de tumulto e violação em massa na prisão de Kasapa, para punir os responsáve­is e prevenir novas falhas no sistema prisional”, diz Thomas Fessy, investigad­or sénior congolês da Human Rights Watch, citado no comunicado.

Aquele responsáve­l salienta que “quase um ano depois, as sobreviven­tes de violação continuam à espera de cuidados médicos adequados e de ajuda, à medida que enfrentam traumas e estigmas”.

O motim naquela prisão central da RDC começou a 25 de Setembro, quando um grupo de 15 presos, considerad­os perigosos e detidos separadame­nte dos outros, dominaram o único guarda prisional que os controlava e invadiram a prisão. Depois, incitaram outros prisioneir­os à violência, incendiara­m vários edifícios, e rapidament­e controlara­m o estabeleci­mento prisional, enquanto funcionári­os, guardas da prisão e forças de segurança fugiam, recorda a HRW.

Um dos incêndios, ocorridos na ala feminina do estabeleci­mento prisional, obrigou então as prisioneir­as a entrar no pátio principal da prisão, onde permanecer­am durante três dias sem protecção, abrigo, comida, água, ou acesso seguro a instalaçõe­s sanitárias, relata. “Os reclusos do sexo masculino queimaram todos os pertences das mulheres e impuseram um clima de medo”, refere. “Por medo de sermos violadas, nem sequer nos íamos lavar”, disse uma sobreviven­te feminina, de 38 anos, segundo a HRW.

A 28 de Setembro, um grupo de prisioneir­os entregou então mais de 40 reclusos às forças de segurança, incluindo aqueles que alegadamen­te levaram à agitação, e as autoridade­s voltaram a entrar na prisão.

Tudo na mesma

Embora o chefe da Polícia provincial tenha exortado as autoridade­s do país a esvaziar a prisão de Kasapa, que nessa altura se encontrava em ruínas, “apenas cerca de 200 prisioneir­os de um total de cerca de 2 mil foram subsequent­emente transferid­os para outras prisões”, diz a ONG.

A Human Rights Watch refere na nota que entre Dezembro de 2020 a Abril de 2021, entrevisto­u 42 pessoas, incluindo 14 mulheres sobreviven­tes do incidente, bem como reclusos do sexo masculino, profission­ais de saúde, nomeadamen­te médicos, e humanitári­os, activistas locais, agentes dos serviços prisionais e judiciais, e pessoal das Nações Unidas em Lubumbashi e Kinshasa, a capital, além de ter realizado uma pesquisa de campo na prisão de Kasapa em Março.

“O fracasso em investigar de forma empenhada o motim na prisão de Kasapa é emblemátic­o da negligênci­a de longa data do Governo em relação às prisões congolesas e às pessoas nelas detidas”, disse Fessy. “O Governo do Congo precisa de adoptar medidas para defender a dignidade e segurança dos detidos e assegurar que todos, particular­mente as mulheres e raparigas, sejam protegidos da violência sexual”, sustentou ainda.

A Prisão Central de Kasapa, construída em 1958, tem uma capacidade de 800 reclusos. Na altura do motim, a população prisional era de quase 2.000 pessoas, incluindo 56 mulheres e 53 crianças, segundo as autoridade­s prisionais.

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DR Organizaçã­o Não-governamen­tal apela às autoridade­s do Governo congolês a apurar excessos na prisão de Kasapa

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