Ministra desiste depois da posse de Abiy Ahmed
Após ter denunciado a ocorrência de violações sexuais durante a guerra de Tigray, a ministra etíope da Mulher apresentou a sua demissão sem dar mais explicações e um dia depois da tomada de posse do reeleito Primeiro-ministro
A ministra etíope da Mulher, a primeira autoridade federal a reconhecer a ocorrência de violações sexuais durante a guerra de Tigray, anunciou ontem sua renúncia sem especificar o motivo, um dia depois de Abiy Ahmed ter sido empossado para um novo mandato de cinco anos como Primeiro-ministro.
“Qualquer situação que comprometa a minha ética é contrária às minhas convicções e valores, e trair essas crenças é uma quebra de confiança para mim e para os nossos cidadãos”, disse Filsan Abdullahi Ahmed num comunicado citado pela AFP.
“Por razões de natureza pessoal que pesam na minha consciência, lamento apresentar a minha carta de demissão com efeito imediato”, acrescentou. Em Fevereiro, esta responsável disse que o estupro “sem dúvida” ocorreu durante a guerra que já dura há dez meses na região Norte de Tigray entre as forças do Governo e rebeldes, e criou uma comissão para investigar.
No mês passado, disse que o relatório da comissão de investigação havia sido já enviado ao procurador-geral e que cabia à polícia determinar a escala dos crimes e quem eram os responsáveis.
Um dia antes, o Primeiroministro etíope, Abiy Ahmed, havia sido empossado para um segundo mandato de cinco anos à frente do Governo, durante o qual terá de enfrentar vários desafios, como a situação conflituosa na região do Tigray. Segundo a Reuters, Abiy Ahmed, cujo Partido da Prosperidade (PP) obteve uma vitória esmagadora em Junho passado, foi empossado na manhã de ontem pela presidente do Supremo Tribunal etíope, Meaza Ashenafi.
O Primeiro-ministro, galardoado com Prémio Nobel da Paz em 2019 por restaurar os laços com a vizinha Eritreia e por defender reformas políticas radicais, enfrenta agora grandes desafios à medida que a guerra na região do Tigray se espalha para outras partes do país, além da continuidade da violência étnica e as práticas repressivas do Governo, que estão de volta.
A guerra de 11 meses na região do Tigray está a enfraquecer a economia da Etiópia, antes uma das zonas com crescimento mais rápido em África, e ameaçando isolar Abiy, que já foi visto como uma pacificadora regional.
Pressões internacionais
Apenas três chefes de Estado africanos – da Nigéria, Senegal e a vizinha Somália – participaram na cerimónia de posse do Primeiro-ministro etíope. O Governo da Etiópia enfrentou na semana passada a condenação das Nações Unidas, dos Estados Unidos e de vários países europeus depois de expulsar sete funcionários da ONU que acusou de apoiar as forças do Tigray, que têm lutado contra forças etíopes e aliadas.
Mais de sete milhões de eleitores escolheram representantes para 47 cadeiras parlamentares federais e 105 regionais, disse a porta-voz do conselho eleitoral, Solyana Shimeles. Dezoito círculos eleitorais na região de Amhara e oito na região de Oromia não votaram. Amhara é afectada por lutas entre tropas do Governo e o grupo rebelde da Frente Popular de Libertação de Tigray, enquanto Oromia luta contra uma insurgência do Exército de Libertação.