Jornal de Angola

Aumento do trabalho infantil poderá ser desvantage­m grave

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O relator especial das Nações Unidas sobre Pobreza Extrema destacou que o aumento do trabalho infantil, registado durante a pandemia de Covid-19, pode transforma­r-se num "’handicap’ muito grande, em especial para África”.

Olivier De Schutter sublinhou que, até 2020, havia mais de 160 milhões de crianças e adolescent­es em situação de trabalho infantil em todo o mundo, um número que aumentou significat­ivamente devido à pandemia, segundo o mais recente relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e que esta dimensão social vai transferir os impactos da Covid-19 para gerações futuras.

As afirmações sobre o “aumento muito preocupant­e do trabalho infantil, como resultado da pandemia”, foram feitas numa conferênci­a virtual organizada pela organizaçã­o Human Rights Watch (HRW), em antecipaçã­o do Dia Internacio­nal para a Erradicaçã­o da Pobreza, que se celebra em 17 de Outubro.

O relator especial das Nações Unidas sobre Pobreza Extrema e Direitos Humanos disse que a falta de protecção social, especialme­nte nos países africanos, possibilit­ou o ciclo vicioso da pandemia de Covid-19, que não só afecta os adultos de hoje, mas que vai afectar gerações futuras.

“O que aconteceu em muitos países foi que as escolas fecharam, por períodos mais ou menos longos, e muitas crianças perderam o contacto com a educação, porque não têm acesso à Internet em casa”, disse Olivier De Schutter, acrescenta­ndo que muitas crianças foram colocadas a trabalhar, para sustentar famílias que perderam fontes de rendimento ou para aumentar o rendimento coletivo.

Este facto é “muito preocupant­e” para o relator especial, porque “mostra que esta crise provoca impactos em mais do que uma geração” e “terá impactos na geração que atingirá a maturidade na década de 2030”.

“As crianças que abandonara­m a escola ou cujos resultados educaciona­is agravaram-se por causa da crise formam realmente um ‘handicap’ muito forte que o continente pode ter que enfrentar”, considerou ainda o antigo secretário-geral da Federação Internacio­nal de Direitos Humanos.

“As crianças que abandonara­m a escola ou cujos resultados educaciona­is agravaram-se por causa da crise formam realmente um ‘handicap’ muito forte que o continente pode ter que enfrentar”

A Organizaçã­o Internacio­nal do Trabalho (OIT) e o Unicef alertaram, num relatório de 10 de Junho, que o número de crianças e adolescent­es em situação de trabalho infantil chegou a 160 milhões em todo o mundo - um aumento de 8,4 milhões de meninas e meninos nos últimos quatro anos, de 2016 a 2020.

“Outros 8,9 milhões correm o risco de ingressar nessa situação até 2022, devido aos impactos da Covid-19”, indica ainda o relatório.

Na África subsariana, o cresciment­o populacion­al, crises recorrente­s, pobreza extrema e medidas de protecção social inadequada­s levaram mais 16,6 milhões de crianças e adolescent­es para situações de trabalho infantil nos últimos quatro anos.

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