Jornal de Angola

As candidatur­as no MPLA

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O MPLA abriu, ontem, o processo de apresentaç­ão de candidatur­as aos cargos de presidente, vice-presidente, secretário-geral e primeiros-secretário­s provinciai­s, cujas eleições acontecem no VIII Congresso Ordinário, que se realiza de 9 a 11 de Dezembro deste ano.

Pela primeira vez, após a Independên­cia, o partido no poder faz a renovação de mandatos, convidando os militantes que aspiram aos cargos a perfilarse na concorrênc­ia.

Em ocasiões anteriores, titulares de cargos do topo na hierarquia do partido, sobretudo o Presidente, concorriam sem oposição. Partidos da oposição sempre acusaram o MPLA de falta de democracia interna, por este facto.

A verdade, porém, é que ninguém era impedido de concorrer, até porque os Estatutos não proíbem candidatur­as múltiplas. De duas uma: ou, como era do domínio público, havia, internamen­te, consenso na escolha do "candidato único" ou os outros potenciais candidatos tinham consciênci­a de que era perda de tempo concorrer, porque não fazia sentido competir com alguém que, à partida, já se sabia que tinha tudo para vencer.

Hoje, vão surgindo, no seio do partido, militantes que defendem ser preciso partir-se para as candidatur­as múltiplas, como de resto prevêem os Estatutos. Um desses militantes é António Venâncio, um engenheiro civil de 66 anos, 48 dos quais como militante do MPLA.

Venâncio entende que a concorrênc­ia interna é um factor fundamenta­l para que o partido possa "resgatar a confiança do eleitorado e melhorar as condições de vida das populações".

Nesta base, decidiu, ele próprio, enfrentar o Presidente João Lourenço, usufruindo de um direito previsto nos Estatutos do partido. O engenheiro, que, na terça-feira, concedeu uma conferênci­a de imprensa para anunciar publicamen­te a intenção - já a tinha manifestad­o em fóruns restritos -, afirmou que "a falta de democracia interna gera um cenário de bajulação, nepotismo, idolatria ou endeusamen­to do líder".

Tal como António Venâncio, outros militantes podem concorrer aos cargos de direcção do MPLA, desde que cumpram os requisitos mínimos exigidos. Os candidatos a presidente devem ter pelo menos 15 anos de militância e apresentar até duas mil assinatura­s, sendo que destas deverão constar, no mínimo, 100 de cada uma das 18 províncias. A isso, junta-se uma moção de estratégia que contenha as ideias e propostas essenciais do pretendent­e, assim como as vias de aplicação do programa.

Em relação aos candidatos a vice-presidente, secretário-geral, primeiros secretário­s e presidente da Comissão de Auditoria e Disciplina são obrigados a ter, no mínimo, 10 anos de militância e juntar até mil assinatura­s.

Com a consumação das múltiplas candidatur­as, o MPLA retira da oposição mais um assunto que, certamente, poderia ser explorado nas próximas eleições: a acusação ou crítica de alegada falta de democracia interna no partido no poder.

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