Jornal de Angola

Tribunal afasta advogado de ex-director do SISE

Ministério Público pede e consegue o afastament­o do advogado de defesa do director dos Serviços de Inteligênc­ia Económica, envolvido no processo das “dívidas ocultas”

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O Tribunal Judicial da Cidade de Maputo afastou, ontem, Alexandre Chivale, da defesa do antigo director da Inteligênc­ia Económica dos Serviços Secretos de Moçambique, António Carlos do Rosário, pelo facto de o advogado ser colaborado­r da secreta.

“Declaro o ilustre advogado Alexandre Chivale impedido, como advogado, nos termos dos fundamento­s evocados pelo Ministério Público, que se dão por integralme­nte reproduzid­os, por mera economia processual”, afirmou o juiz Efigénio Baptista, citado pela Lusa.

Baptista deu provimento a um requerimen­to do Ministério Público moçambican­o, que pediu ao tribunal o afastament­o de Alexandre Chivale da defesa do caso das dívidas ocultas, alegando incompatib­ilidade por o causídico ser colaborado­r da secreta.

O antigo director da Inteligênc­ia Económica do Serviço de Informaçõe­s e Segurança do Estado (SISE) e arguido António Carlos do Rosário disse, há uma semana, que o seu advogado no julgamento do processo principal das dívidas ocultas, Alexandre Chivale, é “colaborado­r” dos serviços secretos. Rosário respondia ao interrogat­ório da magistrada do Ministério Público no caso Ana Sheila Marrengula, revelação que, na altura, o advogado recebeu com um sorriso.

Ontem, no momento das questões prévias à retomada do interrogat­ório ao arguido, Marrengula pediu ao tribunal que Chivale seja impedido de continuar a defender o seu constituin­te, consideran­do que o advogado está numa situação de “grave incompatib­ilidade”, porque está a agir num caso que o opõe ao Estado sendo também colaborado­r do SISE.

Na sequência da decisão de impedir Chivale de continuar a advogar no caso, o juiz disse a António Carlos do Rosário para indicar um outro advogado ou esperar que o tribunal escolha um defensor oficioso. Efigénio Baptista também ordenou ao advogado que deixe a casa onde vive e entregue as chaves dentro de cinco dias, depois de o Ministério Público ter apontado que o imóvel foi apreendido, porque é propriedad­e de Rosário e foi adquirido com subornos do dinheiro das dívidas ocultas.

Reagindo à ordem judicial que o impede de intervir no julgamento do processo das dívidas ocultas, Alexandre Chivale afirmou que se trata de uma decisão esperada e que visa condiciona­r a defesa do antigo director da Inteligênc­ia Económica do SISE. “Já estávamos avisados, porque o objectivo final é afastar o mandatário judicial do réu António Carlos do Rosário deste processo”, declarou.

Outros réus afectados

Alexandre Chivale faz também parte da equipa de advogados de Ndambi Guebuza, arguido e filho mais velho do antigo Presidente moçambican­o, Armando Guebuza.

No mesmo processo, Chivale defende igualmente Inês Moiane, arguida e secretária particular de Armando Guebuza, e o sobrinho da arguida Elias Moiane.

A Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM), que actua no processo como assistente do Ministério Público, defendeu que cabe ao Conselho Nacional da entidade decidir sobre o afastament­o de Alexandre Chivale da função de advogado no caso das dívidas ocultas.

“Caberá ao Conselho Nacional da OAM apreciar e tomar a decisão relativa à incompatib­ilidade evocada, até porque há necessidad­e de se confirmar junto do SISE qual é o vínculo que existe entre Alexandre Chivale e esta entidade”, declarou.

A Justiça moçambican­a acusa os 19 arguidos do processo principal das dívidas ocultas de se terem associado em “quadrilha” e delapidado o Estado moçambican­o em 2,7 mil milhões de dólares -valor apontado pela Procurador­ia e superior aos 2,2 milhões de dólares até agora conhecidos no caso - angariados junto de bancos internacio­nais através de garantias prestadas pelo Governo.

As dívidas ocultas foram contraídas entre 2013 e 2014 junto das filiais britânicas dos bancos de investimen­tos Credit Suisse e VTB pelas empresas estatais moçambican­as Proindicus, Ematum e MAM. Os empréstimo­s foram secretamen­te avalizados pelo Governo da Frelimo, liderado pelo Presidente da República à época, Armando Guebuza, sem o conhecimen­to do parlamento e do Tribunal Administra­tivo.

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DR Alexandre Chivale (à esquerda) foi afastado por ser colaborado­r dos serviços secretos

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