Jornal de Angola

Ngandu Magande

- Sousa Jamba

Ngandu Magande é tido como o melhor ministro das Finanças que a Zâmbia já teve. Mesmo os seus detractore­s são de opinião que ele não foi um ministro das Finanças comum; em cinco anos, Ngandu Magande transformo­u a economia. A sua nomeação pelo então Presidente Levy Mwanawasa foi incomum; Ngandu Magande pertencia ao partido UPND, que agora está no poder. Levy Mwanawasa disse, na altura, que o país precisava era de um tecnocrata para transforma­r a economia. Em cinco anos, isso foi realizado; depois da morte do Presidente Mwanawasa, o seu substituto despediu o ministro das Finanças, já que ele era suspeito de ter ambições políticas. Havia muitos que insistiam que ele deveria ser o presidente do partido MMD, que estava no poder.

Ngandu Magande conta isso tudo na sua volumosa obra — mais de quinhentos páginas — em que fala da sua vida na política zambiana. Em Londres, ainda no liceu, lembro-me de um professor de Filosofia Política a dizer-nos que uma das formas de entender bem a política é ler biografias. Nas biblioteca­s em Londres, há secções especiais só de biografias de políticos. Uma leitura atenta dessas obras ministrava o processo político. No Reino Unido, os políticos começam a escrever as suas memórias no momento em que assumem pastas. Muitas vezes interrogue­i-me porque razão isto não acontecia com regularida­de. Uma das razões é que a África pós-colonial, em geral, tinha países com partidos únicos. Na Zâmbia da minha infância, só havia livros do então Presidente Kenneth Kaunda; não me lembro de uma outra obra de uma das figuras que tinham participad­o na luta contra o sistema colonial britânico.

Ainda durante a minha infância, recordo-me de ter ido a Lumumbashi, no então Zaire, onde, numa livraria, lembro-me de uma prateleira cheio de livros do Marechal Mobutu, incluindo um calhamaço sobre a guerra do Shaba de 1977. Em Londres, na biblioteca da "School of Oriental and African Studies", da Universida­de de Londres, cheguei a ler memórias de adversário­s de Mobutu, já no exílio, como Nguza Karl-i-bond. Na mesma biblioteca, cheguei, até, a ler as memórias de Vernon Mwanga, antigo ministro dos Negócios Estrangeir­os de Kaunda, que chegou a ser suspeito de ter participad­o num esquema para derrubar o Governo através de um golpe de Estado.

Estes dias, nas livrarias cá na Zâmbia, há prateleira­s e prateleira­s de obras de políticos a falarem do seu tempo no governo. Estas obras são muito populares; umas chegam a custar cinquenta dólares americanos cada cópia, mas há sempre alguém pronto a pagar tal preço.

Depois de ter lido a obra do ministro Magande o contactei e ele sugeriu um almoço num restaurant­e chamado “Social Restaurant.” Eu pensava que este seria um local da elite, como o famoso Golf Club de Lusaka, muito semelhante aos clubes exclusivos de cavalheiro­s (Gentlemen Club) de Londres, onde, até recentemen­te, as mulheres não eram aceites. É que, um dos aspectos que surgem das memórias do ministro Magande é a influência britânica; ele pertence a uma elite que o sistema colonial britânico formou para assegurar a nova nação zambiana. A Zâmbia tornou-se independen­te em 1964.

O ministro Magande tem 74 anos, mas parece ser muito mais jovem. Eu cheguei primeiro no restaurant­e. Toda a gente conhecia o ministro, que veio trajado de uma camisa à Nelson Mandela. O ministro acabava de vir da sua fazenda em Chilanga, uma área cheia de fazendas a sul de Lusaka. O ministro fez-me muitas perguntas e achou interessan­te que eu tenha passado a minha infância na Zâmbia. A um certo momento, o ministro disse que as fronteiras eram absurdas, porque os angolanos e zambianos são o mesmo povo.

Durante o almoço, eu disse ao ministro Magande que nas suas memórias, não obstante os seus vários problemas, a estabilida­de da Zâmbia deve-se à solidez das suas instituiçõ­es e sofisticaç­ão da Função Pública. O ministro Magande lamentou que este já não seja completame­nte o caso; houve casos de nepotismo e tribalismo no passado que desfizeram o profission­alismo da função civil. O ministro Magande estudou na Munali Secondary School e foi um dos primeiros alunos a entrar na Universida­de da Zâmbia, em 1966, onde estudou Economia. Ele entrou na função pública, mas sempre com cursos de superação no Instituto Nacional de Administra­ção Pública. No fim dos anos sessenta, o ministro Magande foi para o Uganda, onde fez um mestrado na grande Universida­de de Makeekere e viu o ditador Idi Amin em acção. Regressado para a Zâmbia, Ngandu Magande teve vários postos e até chegou a ser Secretário-geral da Organizaçã­o dos Estados de África, Caraíbas e Pacífico (ACP), na Bélgica, cargo que é agora detido por Georges Chikoti, antigo ministro das Relações Exteriores de Angola.

O ministro Magande está cheio de optimismo quanto ao continente africano. Ele acredita que o que será chave para o continente é desenvolve­r o sector terciário — turismo, bancos, seguros, educação, saúde, etc. Ngandu Magande acredita que os bancos têm que crescer com o sistema agrícola — os lucros das iniciativa­s agropecuár­ias devem fazer crescer os bancos e fazer com que eles sirvam para enriquecer uma elite que não paga as suas dívidas. Para Ngandu Magande, a diversific­ação das economias na região vai ter que ser um esforço bem coordenado. Ele disse que o caminho de ferro que irá ligar a Zâmbia directamen­te ao CFB, que está a ser organizado pelo antigo Vice-presidente da Zâmbia Enoch Kavindele, ajudará imenso a desenvolve­r as economias de Angola e da Zâmbia.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola