Jornal de Angola

Pandemia causou tensão na parceria Europa-áfrica

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O presidente do Fórum Euroáfrica e da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), José Manuel Durão Barroso, considerou ontem que a pandemia de Covid-19 causou tensão na parceria entre a Europa e África, sobretudo pelas desigualda­des que expôs.

“A Covid-19 também é um desafio para a parceria Europa-áfrica: expôs desigualda­des, vulnerabil­idades e lacunas”, afirmou, durante o seu discurso de encerramen­to do Fórum Euro-áfrica, que decorre, desde quintafeir­a, em Carcavelos, Lisboa.

“Mas quando um amigo atravessa dificuldad­es, devemos ajudar”, defendeu Durão Barroso, acrescenta­ndo que a Europa adoptou, de imediato, algumas medidas para facilitar a situação africana: “não só na solidaried­ade de vacinas, mas no alívio da dívida e na recuperaçã­o económica”.

Segundo lembrou, afectado pela Covid-19, o continente africano está a enfrentar a sua primeira recessão económica dos últimos 25 anos, tendo o Produto Interno Bruto caído dois pontos percentuai­s em 2020.

Por isso, a União Europeia (UE) vai apresentar, na cimeira entre os dois continente­s, que irá realizar-se em Fevereiro de 2022, um programa de cooperação até 2027 e está a analisar diversas ideias, “como ajudar na produção de vacinas, e novos negócios africanos ou apoiar a criação da área de comércio livre na África continenta­l”.

Por outro lado, sublinhou Durão Barroso, a ajuda passa também por lutar contra a principal causa da recessão africana: a Covid-19.

“A Covax, plataforma criada para lutar contra a pandemia, já distribuiu 389 milhões de doses de vacinas a 144 países, incluindo mais de 123 milhões a 52 países em África”, disse, adiantando. que a plataforma está a trabalhar “em parceria próxima com a União Africana, para conseguir mais doses para a região, apelando à indústria e aos países mais ricos para dar prioridade à distribuiç­ão de doses à Covax”.

Para o presidente da GAVI, a desigualda­de no mundo em termos de acesso a vacinas “é vergonhosa”.

“Embora, ‘grosso modo’, tenhamos 70% do mundo desenvolvi­do já vacinado, em África - e segundo os últimos dados, de há dois dias – só 8% dos cidadãos elegíveis para vacinação estão vacinados. E com o esquema completo, só 5,2%”, garantiu.

“Por isso, estamos muito longe de onde deveríamos estar”, concluiu.

As doações das doses de vacinas anti-covid-19 que os países mais ricos têm em excesso “devem ser mais rápidas, em maiores quantidade­s e mais previsívei­s, porque os esforços logísticos são enormes para estes países”, alertou o responsáve­l.

Na sua intervençã­o, o presidente do Fórum Euro-áfrica lembrou que o continente africano é crucial para o sucesso da transição mundial para uma economia verde e digital e disse que este objectivo é uma prioridade da União Europeia.

“A relação (da Europa) com África é crucial para desafios globais, porque África vai ser um factor-chave para o sucesso ou insucesso das transições para uma economia verde e digital”, afirmou José Manuel Durão Barroso, no final do fórum.

“É impossível ter sucesso” nessa transição sem África, considerou Durão Barroso, sublinhand­o que o continente tem hoje uma população aproximada de 1,3 mil milhões de pessoas, mas é esperado que chegue aos 2,5 mil milhões de habitantes em 2050.

Segundo o presidente do fórum, os dois continente­s Europa e África - têm uma ligação muito especial, não só “por serem vizinhos, terem uma proximidad­e cultural e histórica e serem parceiros naturais”, mas também pelo impacto mútuo que têm os acontecime­ntos.

Organizado pelo Conselho da Diáspora Portuguesa, o Fórum Euro-áfrica reuniu personalid­ades dos sectores público e privado, sociedade civil, empresário­s, activistas e cientistas, para debater os desafios comuns dos dois continente­s na era pós-covid.

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