CARTAS DOS LEITORES
Cabo Delgado
Escrevo como angolano, que gosta de Moçambique e que se contenta hoje pelo desempenho da força regional mandada para Cabo Delgado. Aqui, abrir um parêntesis para enaltecer a coragem e decisão política do Presidente Paul Kagamé e a aceitação por parte do Governo moçambicano que, como se sabe, resistiu muito a ideia de intervenção de forças estrangeiras na província que vive a braços com a rebelião armada.
Fica-se com a impressão que as autoridades moçambicanas têm hoje sob total controlo a situação militar naquela província, uma realidade proporcionada pela intervenção das forças regionais. Uma das coisas que muito me anima, nesta iniciativa em que prevalece a ideia de "soluções africanas para os problemas africanos", é o que está agora a suceder no Rwanda. É verdade que Moçambique é um Estado soberano e nenhum outro ou conjunto de Estados podia intervir naquele país irmão a menos que o Governo do Presidente Filipe Nyusi formalmente endereçasse o convite. Espero que o engajamento, para que rapidamente Moçambique se veja livre da rebelião armada de cariz religioso, ocorra rapidamente e que o "nosso irmão do Índico" regresse à nromalidade de paz e estabilidade. Mas depois de recorrer a empresas privadas do ramo de segurança, entre elas a Dyck Advisory Group, de um zimbabweano, a sul-africana Wagner e aos mercenários russos, julgo que as autoridades moçambicanas parecem determinadas a aproveitar o tempo perdido. Felizmente, a ajuda internacional está a acabar por servir como uma solução que peca por tardia, mas que está mesmo a resultar. As inquietações iniciais das autordades moçmabincanas eram completamente compreensíveis, quando hesitavam a recorrer oficialmente à ajuda externa.
Por um lado, receiavam que o pedido de ajuda externo, mesmo que ao nível da SADC, fosse encarado como um certificado de incompetência ao Governo e por outro temiam que passasse para a opinião pública moçambicana a ideia de que a solução veio de fora, em detrimento de dentro. Esta última perspectiva, de a ajuda vier de fora, poderia "manchar" eventualmente a credibilidade das autoridades moçambicanas, mas, na verdade não porque se tratavam de situações pontuais e conjunturais. Nenhum Estado é obrigado a estar preparadao para lidar com tudo e mais alguma coisa que aos seus desafios dizem respeito. Nenhum Estado, por mais preparado económica e financeiramente, está necessariamente preparado para lidar com todas as contingências. Basta ver como a Covid-19, ao lado de outras calamidades e imprevistos, colocou de "joelhos" realidades económicas mais avançadas.
Em Cabo Delgado, atendendo ao impacto da situação de ataques da dimensão de guerra propriamente dita, as autoridades moçambicanas não precisavam de "se esconder" ou de se resguardarem orgulhosamente em busca de soluções exógenas para o problema do Cabo Delgado.
O problema em Cabo Delgado está a longe de ser apenas um problema moçambicano e isso é que é preciso de ser entendido por todos aqui ao nível da sub-região. Espero que Angola, o meu país, esteja também, ao seu nível, a fazer a sua parte para levar paz e estabilidae em Cabo Delgado. Como angolano penso que Cabo Delgado é também nosso problema.