AI pede a EUA para retirar acusações a Julian Assange
A Amnistia Internacional (AI) pediu aos Estados Unidos que retirem as acusações contra o fundador da Wikileaks, Julian Assange, e ao Reino Unido que evite extraditá-lo, pedido feito, ontem, antes do início, hoje, de nova fase do julgamento.
A organização de defesa e promoção dos direitos humanos, com sede em Londres, lembrou que, hoje, começam, em Washington, as discussões sobre o recurso dos Estados Unidos à decisão da justiça britânica, que recusou extraditar o activista.
Num comunicado, a secretária-geral da AI, a activista francesa Agnès Callamard, pede, também, que Assange, detido na prisão britânica de Belmarsh, seja libertado imediatamente.
Os apelos de Callamard surgem após a conclusão de uma investigação recente realizada pelo portal Yahoo News, que revelou que os serviços de segurança dos Estados Unidos consideraram a possibilidade de “sequestrar ou de matar” Assange quando o activista se encontrava asilado na Embaixada do Equador em Londres.
“Esta conclusão enfraquece ainda mais as já duvidosas garantias diplomáticas de Washington de que Assange não será colocado em condições que possam constituir maus-tratos se extraditado”, sublinhou Callamard.
“As garantias do Governo dos Estados Unidos de que Julian Assange não será admitido numa prisão de máxima segurança ou sujeito a medidas administrativas especiais abusivas foram desacreditadas, ao admitir que se reserva o direito de revogá-las”, acrescentou, sublinhando que essas novas evidências “trouxeram ainda mais dúvidas sobre a fiabilidade das promessas” norte-americanas.
Por isso, para a secretáriageral da Amnistia Internacional, as novas evidências “puseram a nu a motivação política que está subjacente a este caso”.
“É grotesco que, quase 20 anos depois, praticamente nenhuma pessoa responsável pelos alegados crimes de guerra cometidos pelos Estados Unidos durante as guerras no Afeganistão e no Iraque tenha sido responsabilizada, muito menos julgada”, sustentou.
A activista francesa também qualificou, nos mesmos termos, como “grotesco”, o facto de um editor, Assange, que trouxe esses crimes à luz do dia, “possa ser condenado a prisão perpétua”.
A audiência de hoje deve examinar cinco fundamentos do recurso apresentado por Washington, que inclui a confiabilidade das garantias oferecidas pelo Governo dos Estados Unidos depois de o tribunal de magistrados de Westminster (Londres) ter decidido negar a extradição de Julian Assange, em Janeiro de 2021.
A AI lembra que os Estados Unidos acusam Assange de conspirar com a analista de informação militar norteamericana Chelsea Manning para obter ilegalmente informações confidenciais e querem que seja julgado no país de acordo com leis que podem levar a uma sentença de até 175 anos de prisão.
A Amnistia Internacional considera que o processo iniciado por Washington “representa uma grave ameaça à liberdade de imprensa, tanto nos Estados Unidos quanto no exterior”, pois “descreve condutas que incluem actividades profissionais realizadas no dia-a-dia por editores e profissionais da imprensa no jornalismo de investigação”.
Callamard defendeu ainda que a “implacável perseguição” a Assange, feita pela Administração norte-americana, “deixa claro” que a acusação é uma “medida punitiva”, mas que também representa “motivos de preocupação que vão muito além do destino de um homem” e que “colocam em risco a liberdade de imprensa e liberdade de expressão”.