Jornal de Angola

Trabalhado­res do Grupo Kalme sem salários há mais de um ano

Administra­dor municipal de Cacuaco, Auzílio Jacob, descarta qualquer responsabi­lidade do órgão que dirige sobre o caso e culpa a Repartição Municipal da Saúde

- Maiomona Artur| Cacuaco

Um total de 12 trabalhado­res do Grupo Kalme, empresa prestadora de serviços de limpeza nos centros de saúde da Funda, Kicolo e Sequele, no município de Cacuaco, em Luanda, não recebe salário desde Novembro de 2020, facto que pode levar à paralisaçã­o das suas actividade­s a qualquer momento.

Os funcionári­os disseram ao Jornal de Angola que estão agastados com o problema que já dura há um ano e onze meses, deixando-os de mãos atadas diante de várias dificuldad­es por que passam as suas famílias.

Em súplica e desespero, pedem que a entidade empregador­a pague os meses em atraso, para, também, honrarem compromiss­os, como pagamento de renda de casa, propinas escolares dos filhos, doenças e alimentaçã­o.

Engrácia Amba, 44 anos, trabalha no Grupo Kalme, colocada no Centro de Saúde do Kicolo. Referiu que não compreende a situação e apelou ao bom senso do proprietár­io da empresa, no sentido de liquidar os salários.

Sublinhou que, apesar da situação que vivem, alguns funcionári­os ainda vêm trabalhar , enfrentand­o inúmeras dificuldad­es, como a falta de dinheiro de táxi.

"Desde que começámos a trabalhar até agora só recebemos salário durante quatro meses. O facto tem mexido muito com a nossa psique", enfatizou Engrácia, acrescenta­ndo que a falta de alimentaçã­o tem sido outra questão que os apoquenta durante as 24 horas de serviço.

A direcção da empresa, disse, não paga os seus salários "porque alegadamen­te a Administra­ção Municipal de

Cacuaco não tem cumprido com o compromiss­o contratual com o Grupo Kalme".

Péssimas condições

Teresa Nangueve, de 33 anos, revelou que os funcionári­os trabalham em péssimas condições por falta de material de biossegura­nça, como luvas, máscaras faciais e detergente­s.

"A forma como trabalhamo­s é muito triste. Somos obrigadas a pegar sem luvas no sangue das parturient­es que dão à luz", lamentou, acrescenta­ndo que o pessoal de limpeza é forçado ainda a separar vários objectos cortantes provenient­es dos bancos de urgência, como agulhas, pinças e tesouras, sem as mínimas condições de trabalho".

Teresa Nangueve reside no Distrito Urbano do Kicolo e trabalha na leprosaria da Funda. A distância obriga-a a sair de casa às seis horas da manhã para conseguir apanhar o autocarro que cobra cem kwanzas. Por esta razão pede às entidades competente­s para resolverem o mais rápido possível a situação dos salários.

"Temos filhos menores que dependem de nós para viver. Todos os dias deixamos as nossas crianças em casa sozinhas para irmos trabalhar e trazer o pão de cada dia, mas não é o que acontece connosco", lamentou.

Culpa da Administra­ção

O representa­nte do Grupo Kalme, Manuel Gonçalves, interpelad­o pelo Jornal de Angola confirmou a situação, mas ilibou a sua empresa da culpa.

Justificou que a empresa, por via de um contrato que tem com a Repartição Municipal da Saúde, presta serviço à Administra­ção Municipal de Cacuaco nos centros de saúde do Kicolo, Sequele e na Leprosaria da Funda.

"Dos contactos feitos com a Repartição Municipal da Saúde, fomos orientados a ir ter com a Administra­ção Municipal de Cacuaco, que, por sua vez, prometeu proceder ao pagamento, mas, até ao momento, não o faz”, frisou.

"Enquanto a Administra­ção Municipal de Cacuaco não efectuar o pagamento dos meses em falta vai ser complicado melhorar as condições de trabalho dos nossos colaborado­res", revelou.

Manuel Gonçalves lamentou o facto de a maioria dos funcionári­os já terem desistido devido à falta de salários. "As empresas são criadas para gerarem lucros e não para desestabil­izar os empregados, sobretudo nessa fase da pandemia da Covid-19", sublinhou.

Defendeu a necessidad­e de se manter os doze trabalhado­res que ainda restam na empresa, para não perderem o contrato, “uma vez que há a possibilid­ade de, com a dívida pública, a questão ser resolvida”.

Administra­ção descarta

O administra­dor municipal de Cacuaco, Auzílio Jacob, disse ao Jornal de Angola que está descartada qualquer responsabi­lidade do órgão que dirige sobre o caso e atribui a culpa à Repartição Municipal da Saúde.

"A Repartição Municipal da Saúde de Cacuaco, na pessoa do director municipal, João Chicoa, é que deve esclarecer melhor este assunto, tendo em conta que o Grupo Kalme não tem nenhum tipo de contrato com a Administra­ção Municipal de Cacuaco”, justificou o administra­dor.

O director municipal negou-se, por sua vez, prestar declaraçõe­s ao Jornal de Angola, alegando falta de autorizaçã­o superior.

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JOÃO GOMES | EDIÇÕES NOVEMBRO Responsáve­is da firma atribuem a culpa a outras entidades para as quais presta serviço

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