Jornal de Angola

Enviado da ONU esteve com o Primeiro-ministro deposto

Enquanto o Conselho de Segurança das Nações Unidas está dividido na condenação ao golpe militar ocorrido no Sudão, surgiram notícias a dar conta que o Primeiro-ministro deposto, Abdallah Hamdok, já se encontra na sua residência em Cartum, para onde foi es

-

O enviado das Nações Unidas para o Sudão, o alemão Volker Perthes, encontrou-se, ontem, com o chefe das Forças Armadas sudanesas e com o Primeiro-ministro deposto, que “não é livre de se deslocar”, segundo o porta-voz da ONU.

Volker Perthes “encontrou-se com o general Alburhan para discutir os recentes desenvolvi­mentos” no Sudão, afirmou o porta-voz da Organizaçã­o das Nações Unidas, Stéphane Dujarric, no ‘briefing’ diário, citado pela Agência France-press.

Perthes “reafirmou” os desenvolvi­mentos exigidos pela ONU, em particular “um regresso ao processo de transição”aoabrigodo­sdocumento­s constituci­onaise,“obviamente, uma libertação imediata de todos aqueles que foram arbitraria­mente detidos”, acrescento­u Dujarric.

O porta-voz disse ainda que o enviado da ONU se encontrou “com o Primeiromi­nistro Abdalla Hamdok na sua residência, onde permanece sob guarda”.

“Ele está sob uma espécie de prisão domiciliar. Não é livre de se deslocar, e deveria ser”, defendeu o porta-voz da ONU.

O general Abdel-fattah alburhan, chefe das Forças Armadas sudanesas, anunciou, na segunda-feira, na televisão estatal do país, a dissolução do governo e do Conselho Soberano - o mais alto órgão executivo do país -, a suspensão de vários pontos da carta constituci­onal aprovada em Agosto de 2019 e que estabelece um roteiro para a realização de eleições, e a instauraçã­o do Estado de Emergência.

A tomada segunda-feira do poder pelos militares, amplamente condenada pela comunidade internacio­nal, seguiu-se a semanas de crescente tensão política no país, intensific­adas como uma tentativa de golpe de Estado em 21 de Setembro último.

Esforços de membros civis do Governo em reformar o sectordase­gurançanop­aísgeraram uma forte reacção dos militares, inclusive de Al-burhan.

Os militares deixaram de participar em reuniões conjuntas com membros civis, o que atrasou, por exemplo, a aprovação por parte do Conselho de Ministros de entregar o antigo ditador Omar albashir e outros dois responsáve­is do regime deposto em Abril de 2019 ao Tribunal Penal Internacio­nal (TPI).

Protestos nas ruas

Enquanto isso, as manifestaç­ões mantêm-se nas ruas das cidades sudanesas em protesto contra o golpe de Estado militar e a prisão de dirigentes civis, nomeadamen­te do Primeiro-ministro retido em casa.

O director do Serviço de Aviação Civil anunciou que o aeroporto de Cartum deveria reabrir ao meio do dia de ontem.

Na sequência do golpe de Estado, Washington suspendeu parte da ajuda financeira ao país, um dos Estados mais pobres do mundo, e a União

Europeia admite adoptar a mesma medida.

Para a diplomacia de Moscovo, os acontecime­ntos no Sudão “são resultado lógico de uma política fracassada”.

Ontem, quatro manifestan­tes morreram na sequência de disparos da Polícia, em Cartum.

As forças de segurança desmantela­ram algumas barricadas e, segundo os repórteres da France Press, estão a prender manifestan­tes que se opõem ao golpe de Estado.

Em 2018 e 2019 as manifestaç­ões de protesto - que fizeram mais de 250 mortos - levaram ao afastament­o, pelos militares, do ex-presidente Omar al-bashir.

De acordo com a AFP, na capital sudanesa os militares ocupam posições com veículos blindados nos arredores da cidade.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas voltou, ontem, a não conseguir alcançar um acordo para uma declaração conjunta sobre o Sudão, com a Rússia a opor-se a uma forte condenação do golpe militar.

“Infelizmen­te, ainda não temos um consenso”, lamentou o actual presidente do Conselho, o embaixador queniano Martin Kimani, que, citado pela agência Francepres­s, disse estar a falar na qualidade nacional.

Kimani disse que a União Africana condenou “veementeme­nte a tomada do poder pelos militares sudaneses e a dissolução do governo de transição”.

 ?? DR ?? Abdallah Hamdok tem o perímetro da residência vigiado mas não se sabe se está em prisão
DR Abdallah Hamdok tem o perímetro da residência vigiado mas não se sabe se está em prisão

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola