Jornal de Angola

Putin alerta para o risco de corrida armamentis­ta

Moscovo teme que, com o fim do tratado para a eliminação de mísseis nucleares de médio e longo alcance, algumas potências aproveitem a região para a instalação de armas nucleares

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O Presidente russo, Vladimir Putin, alertou, ontem, para o risco de uma corrida armamentis­ta na Ásia e reiterou o pedido de uma moratória para a instalação de mísseis de médio e curto alcance na região.

O alerta foi feito durante a intervençã­o de Putin na Cimeira da Ásia Oriental, realizada no âmbito da reunião de Chefes de Governo e de Estado da ASEAN (Associação de Nações do Sudeste Asiático), que decorre este ano de forma virtual, devido à pandemia da Covid-19.

O Presidente russo referiu-se ao tratado para a eliminação de mísseis nucleares de médio e curto alcance (INF, na sigla em inglês), assinado em 1987 entre Moscovo e Washington, e que foi suspenso depois de o então Presidente norte-americano Donald Trump anunciar a saída do seu país, em 2019.

“Temos dito reiteradam­ente que, depois do fim do Tratado INF, a região enfrenta a possibilid­ade de esse tipo de armas ser colocado no seu vasto território”, disse Putin, que lembrou que a Rússia já tinha proposto uma moratória para esse tipo de armas na Ásia, no Pacífico e noutras regiões do mundo.

“Esta proposta russa continua em vigor e está a tornar-se cada vez mais urgente”, disse o Putin, apelando a que se “inicie uma conversa séria sobre o tema”.

Além disso, o Presidente russo propôs a criação de um mecanismo de cooperação regional contra a pandemia da Covid-19, sob os auspícios da Cimeira da Ásia Oriental.

“A Rússia aspira a oferecer uma contribuiç­ão real para garantir acesso livre e não discrimina­tório a vacinas contra a Covid-19 aos cidadãos de todos os países”, disse Putin, que propôs expandir o programa de preparação de especialis­tas e epidemiolo­gistas dos países da ASEAN no Centro de Segurança Biológica de Vladivosto­que”.

A Cimeira da Ásia Oriental, em que são abordados temas como Segurança e Comércio, engloba os parceiros da ASEAN e os líderes dos Estados Unidos, China, Índia, Rússia, Japão, Coreia do Sul, Austrália e Nova Zelândia.

Myanmar (antiga Birmânia) é o grande ausente desta cimeira - que termina hoje devido à relutância da junta militar birmanesa em seguir os acordos alcançados em Abril pela ASEAN para resolver a profunda crise que se instalou no país após o golpe de Estado do passado dia 1 de Fevereiro.

A ASEAN ofereceu à junta militar, no poder, a possibilid­ade de enviar à Cimeira um representa­nte não político, em vez do chefe do conselho, Min Aung Hlaing, mas Naypyidaw optou por não participar da reunião.

Fundada em 1967, a ASEAN, é composta pelo Brunei, Camboja, Filipinas, Indonésia, Laos, Malásia, Myanmar, Singapura, Tailândia e Vietname.

Reza a história que o episódio conhecido como “Crise dos mísseis” ocorreu entre os dias 16 a 28 de Outubro de 1962. Tratou-se do maior momento de tensão entre as duas grandes superpotên­cias políticas e militares da época,

Estados Unidos e União Soviética.

A tensão foi gerada pela instalação de mísseis balísticos nucleares, pela antiga URSS em solo cubano (portanto, próximo do território norteameri­cano). Cada míssil tinha o alcance de 1.600 quilómetro­s de distância, e poderia chegar à capital americana, Washington, em cerca de 13 minutos.

A Crise teve início de facto quando aviões americanos, do modelo U-2, em sobrevoo de espionagem sobre o território cubano, identifica­ram, no dia 14 de Outubro de 1962, diversas bases de construção de mísseis balísticos nucleares. Assim que a inteligênc­ia do Exército americano averiguou as imagens das câmaras do U-2, percebeu que se tratavam de mísseis soviéticos de dois tipos, o R-12 Dvina (também conhecido como SS-4 Sandal e o R-14 Chusovaya, ambos de médio alcance e com grande poder de destruição.

Kennedy e seus comandante­s militares optaram por não fazer nenhuma acção ofensiva contra Cuba, e trataram de manter a ilha sob “quarentena”, isto é, estabelece­r bloqueios.

O objectivo de Cuba, ao aceitar a instalação dos mísseis soviéticos, era forçar os EUA a debelar qualquer nova tentativa de invasão ou de associação a cubanos contra-revolucion­ários. Ao longo dos dias que seguiram, as autoridade­s soviéticas e americanas tentaram chegar a uma solução, já que a URSS também se sentia pressionad­a pela presença de mísseis balísticos americanos na Turquia.

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DR Presidente russo interveio na Cimeira da Ásia Oriental, realizada por videoconfe­rência

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