Jornal de Angola

Fogueiras da vergonha

- Luciano Rocha

As fogueiras ateadas em pneus, símbolos de ignorância, recalcamen­tos, vinganças, cobardia, oportunism­o, vergonhas da maioria dos angolanos, que pensávamos serem hediondeze­s do passado, voltaram, como horrores presentes ... e futuros caso não sejam tomadas medidas.

As fogueiras ateadas nos centros de pneus destinados, segundo falsos justiceiro­s, movidos por várias razões, menos as da verdade, destinam-se a castigar pessoas, muitas delas inocentes, suspeitas de delitos narrados por seres exaráveis sem pinga de decência.

Mesmo a serem verdadeiro­s os crimes imputados aos acusados, sem direito a defesa, não podem ser seres ignorantes e abjectos a julgá-los e condená-los, como volta a suceder em várias das nossas províncias, incluindo a de Luanda.

Angola, recorde-se, foi dos primeiros países africanos a abolir, oficialmen­te, sentenças de morte, mas, na verdade, antes desse marco histórico, aplaudido pela maioria das nações, já abandonara essa prática, comutando penas capitais.

A justiça por mãos próprias, com acusados, tantas vezes de delitos que nunca cometeram, não pode continuar a ser uma realidade num país como nosso, com tribunais, onde cada um tem o direito de se defender de suspeitas de práticas criminosas.

Os defensores deste género de justiça já pensaram que, por qualquer motivo mesquinho, um dia destes, um grupo de energúmeno, os acusa de serem, por exemplo, bruxos, causadores das desgraças na própria casa, que construiu ou comprou com tanto custo, ou nas de familiares e vizinhos? E que, num abrir e fechar de olhos, por mais que grite inocência, sente o corpo estorricar entre chamas ateadas a um pneu perante o aplauso da multidão?

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