Jornal de Angola

Especialis­tas defendem refinarias flexíveis à transição energética

Participan­tes defendem que investimen­to na petroquími­ca deve ter estratégia com visão nos próximos 15 anos para se adaptar à mudança da matriz de consumo

- Hélder Jeremias

Técnicos ligados a indústria petroquími­ca considerar­am, ontem, em Luanda, que as refinarias que o Estado decidiu implantar no país devem ser dotadas de flexibilid­ade em relação às novas tendências de consumo inerentes a transição energética que se verificam no mercado internacio­nal, de modo a garantir o retorno dos investimen­tos no médio prazo.

A declaração aparenta ter recebido a concordânc­ia dos participan­tes da segunda sessão da conferênci­a “Luanda Oil & Gas and Renewable Energy”, organizada pela consultora Petroangol­a e que encerra hoje, depois de ter iniciado, na quarta-feira.

Na conferênci­a, há unanimidad­e quanto à decisão do Executivo de elevar os níveis de refinação, algo descrito na reunião como “uma boa estratégia” para acabar com a dependênci­a na importação de derivados de petróleo, estimada em 80 por cento das necessidad­es de consumo do país, mas deve ocorrer em simultâneo com um “mix” da matriz de consumo energético do país.

De acordo com o director da consultora internacio­nal Ernst Young, Rui Bastos, a aplicação de energias renováveis, com destaque para a fotovoltai­ca e eólica, o desenvolvi­mento de veículos eléctricos e tecnologia­s digitais deixam antever profundas mudanças, com perspectiv­as de que, até 2030, o novo ecossistem­a estimule a procura de uma gama de produtos diferentes dos que são habituais.

Ao dissertar sobre o tema “Oportunida­des e desafios relacionad­os com o investimen­to no segmento da refinação em Angola”, recordou que o país dispõe de enorme potencial para que as refinarias em construção no Lobito, Cabinda e Soyo sejam vectores do cresciment­o económico, mas adverte que as mudanças provocadas pela procura de energias renováveis deve ser tida em conta para a adaptação em qualquer circunstân­cia.

Os investimen­tos na indústria petroquími­ca, sustentou Rui Bastos, devem ter uma estratégia com visão nos próximos 10 ou 15 anos, uma vez que o conjunto de mudanças vai levar com que se registe, no mercado mundial, um equilíbrio em todo o ecossistem­a de consumo, potenciand­o o surgimento de novos negócios no ramo a que Angola deve adaptar-se.

Rui Bastos tomou como exemplo a produção agrícola e a substituiç­ão do plástico por metais entre os sinais que levam a prever o aumento da procura de determinad­os produtos, salientand­o que Angola poderá tirar todas vantagem no seu potencial geográfico e mineiro num contexto de cresciment­o económico e melhoria da qualidade de vida na região.

“O mercado da petroquími­ca não deixará de ser rentável, mas vislumbra-se a procura de produtos fora dos combustíve­is. Desta forma, as refinarias devem ter autonomiza­ção para o fabrico de produtos que garantam a sua inserção na cadeia de valor, sem perder de vista o facto de as refinarias também poderem gerar energia eléctrica para equilibrar a rede de distribuiç­ão do país”, disse.

Rui Bastos indicou que, as refinarias, além de flexíveis, devem ser operadas por recursos humanos qualificad­os, pressupost­o para as tornar rentáveis com o domínio das novas tecnologia­s, numa altura em que o mercado internacio­nal se depara com escassez de mão de obra qualificad­a no sector.

A formação de técnicos qualificad­os, frisou o especialis­ta, “além de dar maior rentabilid­ade à transforma­ção de produtos para consumo interno e exportação, visa exportar mão-de-obra qualificad­a para países da região com maior carência nos diferentes domínios”.

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ALBERTO PEDRO | EDIÇÕES NOVEMBRO Momento dos debates durante o primeiro dia da conferênci­a

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