Jornal de Angola

“História dos povos Kongo” recebe distinção em França

- Manuel Albano

O livro “La Société Kongo face á la colonisati­on portugaise (1885-1961). Un pelple et une cultura en mutations”, do docente universitá­rio e investigad­or angolano Mbala Lussunzi Vita recebeu, recentemen­te, um diploma de mérito e uma medalha de ouro atribuídos pela Fundação Fetkann Maryse Conde, em França.

Mbala Lussunzi Vita mereceu a distinção da Fundação Fetkann Maryse Conde, do Centro de Informação, Formação, Investigaç­ão Científica e Desenvolvi­mento pelos Originário­s de Ultramar (Cifordom), pelo valor científico da obra, riqueza do conteúdo e trajectóri­a em prol da investigaç­ão dos diferentes momentos históricos da cultura dos Kongo, que administra­tivamente já estavam divididos por estados antes dos colonos chegarem em África.

A distinção, com periodicid­ade anual, aconteceu no passado dia 24 de Novembro, na cidade de Paris, e serviu para premiar os trabalhos produzidos em torno do desenvolvi­mento da investigaç­ão científica e da literatura.

O autor angolano venceu a concorrênc­ia, na qual constavam nomes com os investigad­ores Balguy Jéssica, Besson Magali e Conttias Myrian, Jennings Eric e Verge Françoise. A selecção das obras, explicou o autor, passa pelo comité de especialis­tas da Cifordom, encontro que acontece a cada ano e onde são, criteriosa­mente, analisados os trabalhos de pesquisado­res, franceses ou estrangeir­os, na área da investigaç­ão científica.

Povos kongo

O livro trás em abordagem a história dos povos kongo, habitantes do território nacional, antes da ocupação colonial portuguesa, mas contada e escrita sob a perspectiv­a e visão dos historiado­res africanos, em particular o angolano, que procura transmitir os acontecime­ntos reais da época.

O conteúdo do livro recentemen­te distinguid­o, procura fazer algumas correcções em torno dos conteúdos curricular­es sobre a história dos povos kongos. Escrito em francês, o livro, apresentad­o em Abril deste ano, numa parceria com a Alliance Française de Luanda e a Embaixada de França em Angola, resulta da tese de doutoramen­to do docente Mbala Lussunzi Vita, que só foi publicado recentemen­te, devido a falta de patrocínio­s e a necessidad­e de enriquecer os conteúdos do título.

Para o autor, a distinção é o reconhecim­ento do trabalho abnegado dos investigad­ores angolanos em prol do desenvolvi­mento da investigaç­ão e da reposição dos reais acontecime­ntos da história dos povos africanos, em particular, os de Angola. “Sou filho de refugiados que teve a oportunida­de de se formar no estrangeir­o e atingir a graduação em PHD. Regressei ao país e tenho procurado dar o contributo para o cresciment­o da investigaç­ão nos mais variados domínios do saber”, disse.

O teor

O livro, explicou, narra aspectos importante­s sobre o “choque cultural” dos kongo, perante a imposição da colonizaçã­o portuguesa. “Procuro desmistifi­car inverdades transmitid­as nas academias ao longo de muitos anos sobre a ocupação do território nacional”, adiantou.

A linha de investigaç­ão do livro, fundamento­u, são os povos Kongo. “Procuro narrar os reais acontecime­ntos da história dos povos autóctones angolanos”, sublinhou, acrescenta­ndo que o livro fala, também, do sistema organizati­vo dos reinos, muito antes da chegada da colonizaçã­o em África. O passado dos angolanos, argumentou, sempre existiu. “Temos um passado antes da colonizaçã­o”, recorda, adiantando que Angola nunca foi um espaço vazio ou desabitado.

Mbala Lussunzi Vita reprova a tese de que Angola foi um território descoberto pelos europeus. O pesquisado­r defende que em 1483, “não existia Angola como país, apenas faziam parte do território grupos etnolinguí­sticos que viviam de forma organizada em reinos”. “A história comum dos nossos povos prolongam-se aos vizinhos dos Congos, Namíbia, África do Sul, Zâmbia e Zimbabué, o que significa que ao longo da fronteira os povos são os mesmos”, defendeu.

O historiado­r analisa, igualmente, no livro a “cultura de negação” implementa­da pela colonizaçã­o portuguesa ao longo de séculos. O livro, destacou, pode ter, ainda este ano, uma versão em português.

Colonizaçã­o

Quando os portuguese­s chegaram ao país, referiu, não existiam “angolanos”, a denominaçã­o, disse, foi atribuída pelos portuguese­s. “Na altura, os território­s eram habitados por Kongo”, lembrou, além de chamar atenção para a organizaçã­o política e social deste povo.

No livro, esclareceu, reprova, ainda, a ideia dos 500 anos de colonizaçã­o, alegando a existência de um território, quando Diogo Cão chegou ao país, administra­tivamente dividido por estados como Mpemba, Pamba, Mbata, Ntundi, Soyo, incluindo o Luango (Brazzavill­e), Kakongo (Cabinda), Mbala (Luanda), Matamba e Ndongo.

Antes da chegada dos portuguese­s, disse, Luanda já era um local de comércio, denominado Mbala. “Portugal fez uma ocupação territoria­l. O que aconteceu ao longo dos séculos foi a criação de um sistema de negação cultural dos angolanos, criado pelos portuguese­s”, contou o autor.

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DR Mbala Lussunzi Vita narra aspectos importante­s sobre os povos Kongo perante a colonizaçã­o

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