Palavras da pandemia
Pandemia, Covid, infecções, contágios, óbitos, máscaras, distanciamentos, recolhimento, vacinas, testes, lavagem, água, sabão, gel, temperatura e teletrabalho são, por motivos óbvios, das palavras mais ouvidas, no Mundo, há dois anos, mais coisa, menos coisa.
Àquelas doenças podem juntar-se todas as que lhe estão associadas e neologismos, entre os quais sobressai o “negacionista”, o que se recusa a respeitar medidas governamentais preventivas e de combate à pandemia. Em alguns países, designadamente, nos considerados mais desenvolvidos, funcionam em grupos organizados e, frequentemente, violentos.
Os “negacionistas”, tal como a pandemia que assola o Globo, não segregam, estão de braços abertos a todos os grupos sociais, profissionais e etários. Também não são esquisitos quanto a géneros. As causas é que nem sempre são coincidentes. Uns agem por ignorância “pura e dura”, estupidez absoluta, incapacidade, mínima, de discernir; outros, por oportunismo, cujas actuações variam consoante circunstâncias e interesses. Em ambos os casos, contam-se responsáveis políticos de ideologias distintas e respectivos “militantes fervorosos”, bem como religiosos e seguidores de todos os credos e deuses. Igualmente, ateus e agnósticos.
O coronavírus tem um inimigo que o constrange, afasta: o asseio, arma que nem todos os países podem usar, por não disporem dela como deviam, o que realça a diferença entre os clamados mais desenvolvidos e os outros.
Angola, com os meios de que dispõe, tem conseguido, enfrentar, com aceitável êxito, o vírus que move a pandemia que mantém o Mundo em alerta constante. E não se tente justificar o facto com o clima que a bafeja. Outros países, com temperaturas semelhantes, têm registos da doença que contrariam tal tese.
Angola, das primeiras nações a adoptar medidas preventivas em relação ao coronavírus, como a de do encerramento do aeroporto internacional de Luanda - a maior porta de entrada e saída de nacionais e estrangeiros - antes dele chegar até nós, podia, apesar de tudo, teoricamente, ter um registo menor de infecções e óbitos. Bastava que o maior aliado da pandemia, o lixo, fosse combatido, o que é possível.
Luanda, província na qual se situa a capital do país, a cidade com maior densidade populacional -mais de sete milhões, segundo o censo de 2014 -, a que regista, naturalmente, o maior número de nascimentos, continua a ser um emaranhado de focos de doenças, igualmente assassinas, relegadas, todas delas, quase para o esquecimento, face ao eco causado pelo coronavírus.
Além dos focos de lixo, visíveis à vista de quem os quer ver, que a enxameiam, a província de Luanda regista outros atentados à saúde pública e em, simultâneo, à ordem por estabelecer. As filas nos locais de paragem dos transportes públicos, muitas deles ilegais: em cima de passadeiras de peões, curvas, filas paralelas, que encurtam o espaço de circulação de outras viaturas.
As filas em frente a multicaixas, sem que quem as forma respeite o distanciamento decretado; águas, saídas de canalizações públicas, algumas há anos, com brevíssimas interrupções, aproveitadas para lavar roupas, louças, carros em pleno dia, em artérias de engarrafado trânsito rodoviário e pedonal; restos de refeições, cascas e caroços de fruta espalhados por tudo quanto é sítio, menos onde deviam ser deixados, são outros focos de imundice e contágios de enfermidades.
Todos estes desafios ao bom senso, impunidade e ordem pública, ocorrem, há anos, com frequência, à vista de quem devia zelar pelo espaço público, mas faz exactamente o contrário.
Angola continua a enfrentar, com relativo êxito, a pandemia que assola o mundo, mesmo sem autorização para fabricar vacinas, mas podia ter, apesar de tudo, muito melhores resultados se todos cumprissem as obrigações que cada um tem e... houvesse mais água para tomar banho.
O coronavírus tem um inimigo que o constrange, afasta: o asseio, arma que nem todos os países podem usar, por não disporem dela como deviam, o que realça a diferença entre os clamados mais desenvolvidos e os outros