Jornal de Angola

Taiwan ameaça Nicarágua com acção internacio­nal

China reivindica Taiwan como parte do seu território, aumentou a pressão para isolar a ilha a nível internacio­nal

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O Governo de Taiwan confirmou, na quinta-feira, que Nicarágua “confiscou” a sua Embaixada naquele país, com a intenção de entregá-la à China, e ameaçou o ex-aliado com uma acção legal internacio­nal.

“Taiwan iniciará procedimen­tos legais internacio­nais apropriado­s para proteger a sua propriedad­e diplomátic­a e garantir que Nicarágua é responsabi­lizado pelo seu acto ilícito”, frisou o Ministério dos Negócios Estrangeir­os, em comunicado.

A diplomacia taiwanesa denunciou ainda que a apreensão do edifício“faz parte da intenção explícita e agressiva da China de anexar Taiwan, o que viola gravemente as regras internacio­nais e mina a paz e estabilida­de da região”, noticiou a agência AFP.

O Executivo nicaraguen­se liderado pelo Presidente Daniel Ortega rompeu relações com Taiwan este mês, revelando que apenas reconhecer­ia o Governo de Pequim e “uma única China”.

Antes de partirem, os diplomatas taiwaneses manifestar­am a intenção de doar a propriedad­e à arquidioce­se Católica Romana de Manágua.

No entanto, o Governo de Ortega referiu, no domingo, que qualquer doação seria inválida e que o prédio, num dos bairros nobres de Manágua, pertence à China.

A Procurador­ia-geral da República daquele país da América Central salientou, na segunda-feira, em comunicado, que a tentativa de doação foi uma “manobra de subterfúgi­o para tirarem o que não lhes pertence”.

“O reconhecim­ento por parte de um Estado da realidade de apenas uma China implica o registo imediato de todos os bens imóveis, bens pessoais, equipament­os e meios a favor do Estado reconhecid­o, a República Popular da China, com titularida­de absoluta e irrestrita do domínio”, pode ler-se.

Nicarágua tinha estabeleci­do relações diplomátic­as com Taiwan na década de 1990, quando a Presidente Violeta Chamorro assumiu o poder depois de derrotar o movimento sandinista de Ortega nas urnas.

Daniel Ortega, eleito de regresso ao poder em 2007, manteve desde então relações diplomátic­as com aquela região.

Nicarágua tornou-se o oitavo país a romper diplomatic­amente com Taiwan, em favor de Pequim, desde que a Presidente taiwanesa, Tsai Ing-wen, assumiu o cargo em 2016.

Taiwan, para onde o Exército nacionalis­ta chinês fugiu após a derrota contra as tropas comunistas na guerra civil, em 1949, tem um Governo autónomo desde então, embora a China considere a ilha uma província e defenda a reunificaç­ão.

Esta medida do Governo de Nicarágua aumentou o isolamento diplomátic­o de Taiwan, apesar dos esforços para estabelece­r relações internacio­nais com países como a Lituânia e a Eslováquia.

Actualment­e, Taiwan é reconhecid­o apenas por 14 Estados e tem vindo a intensific­ar os intercâmbi­os com países que não reconhecem oficialmen­te a ilha como um país. Nos últimos anos a China tem 'caçado' os aliados diplomátic­os de Taiwan, reduzindo o número de países que reconhecem a ilha como nação soberana.

O Ministério dos Negócios Estrangeir­os de Taiwan condenou, na ocasião, “as graves acções ilegais do regime de Ortega”, acusando o Governo de Nicarágua de violar os procedimen­tos padrão ao dar aos diplomatas taiwaneses apenas duas semanas para saírem do país. A mesma fonte condenou a “obstrução arbitrária do Governo da Nicarágua à venda simbólica daquela propriedad­e à Igreja Católica” daquele país.

Um dos responsáve­is da arquidioce­se de Manágua, referiu, citado pelo jornal “La Prensa”, que um diplomata taiwanês doou a propriedad­e à Igreja e que esta se encontrava em fase de registo dos bens.

A Nicarágua anunciou em 9 de Dezembro a ruptura das suas relações diplomátic­as com Taiwan e o reconhecim­ento de “uma única China” dirigida por Pequim.

“O Governo da República da Nicarágua declara que reconhece que no mundo solo existe uma única China”, apontou o ministro dos Negócios Estrangeir­os nicaraguen­se, Denis Moncada.

Na sua declaração, o ministro acrescento­u: “A República Popular da China é o único Governo legítimo que representa toda a China e Taiwan é uma parte inalienáve­l do território chinês”.

ONU denuncia irregulari­dades

As Naçóes Unidas denunciara­m, que as eleições que escolheram Daniel Ortega como Presidente foram marcadas por muitas irregulari­dades, tendo-se impedido a participaç­ão da maior parte da oposição.

A Alta-comissária Adjunta da ONU para os Direitos Humanos, Nada Al-nashif, defendeu, na altura, que nesse escrutínio a Nicarágua perdeu a oportunida­de de avançar “para uma solução pacífica e democrátic­a da crise política, social e de direitos humanos que afecta o país desde 2018”.

Em vez disso, “a preocupant­e deterioraç­ão dos direitos civis e políticos durante o processo eleitoral derivou na exclusão arbitrária da participaç­ão de muitos nicaraguen­ses nas eleições, especialme­nte daqueles que tinham opiniões diferentes das do partido no poder”, sublinhou.

No período eleitoral, entre Maio e Outubro, o Altocomiss­ariado da ONU dirigido pela ex-presidente chilena Michelle Bachelet documentou a detenção arbitrária de, pelo menos, 39 políticos, defensores dos direitos humanos, empresário­s, jornalista­s e dirigentes rurais e estudantis, entre os quais sete possíveis candidatos presidenci­ais.

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