Jornal de Angola

Ruas de Luanda privadas da corrida pelo segundo ano

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Pelo segundo ano consecutiv­o, em 67 anos, Angola viuse privada da tradiciona­l corrida pedestre de atletismo, denominada “São Silvestre”. Religiosam­ente disputada anualmente num dia como ontem, 31 de Dezembro, a prova, avançou o presidente da Federação Angolana de Atletismo (FAA), Bernardo João, pode ser disputada entre Março ou Abril de 2022.

A data, fora do período tradiciona­l, foi encontrada na sequência do último Decreto Presidenci­al sobre o Estado de Calamidade Pública, que proíbe, até 15 de Janeiro, o desporto federado para evitar a propagação da Covid-19, noticia a Angop, na edição de ontem.

Na sequência, também foi anunciada a data para a disputa do meeting internacio­nal “Demóstenes de Almeida”, marcado inicialmen­te para amanhã, no Estádio Municipal dos Coqueiros.

O país registou, nas últimas semanas, um aumento de casos de contaminaç­ão pela pandemia, subindo para três dígitos pela primeira vez desde que foi anunciada variante do vírus SARS-COV2, designado Ômicron.

Assim, os quase dois mil fundistas já inscritos, entre os quais da República Democrátic­a do Congo (RDC), Quénia e Gâmbia, terão de esperar pela melhoria do actual quadro pandémico para desfilarem pelas ruas de Luanda, numa prova disputada desde o período colonial, isso em 1954.

A São Silvestre, cancelada pela quarta vez, é a maior competição do calendário da Federação. A corrida não saiu às ruas em 2020 igualmente devido à Covid-19. Em 1978, foi por questões organizati­vas, enquanto em 1961, foi em função da situação política no território nacional, então colónia portuguesa.

O evento secular é uma iniciativa mundial da igreja Católica que rende tributo à figura do Papa Silvestre, considerad­o o responsáve­l pelo fim da perseguiçã­o sofrida pelos cristãos no início do Cristianis­mo, no Império Romano.

Silvestre – que morreu a 31 de Dezembro – foi o 33º papa da Igreja Católica por mais de 20 anos (314 a 335 d.c).

Em Angola, esta prova de atletismo nacional já sofreu inúmeros reveses. Inicialmen­te, a prova era disputada às 22 horas, passando posteriorm­ente o tiro de largada para as 18h00 e a seguir para as 16h00. O evento já teve inclusive outra denominaçã­o e percurso.

De São Silvestre virou “Demóstenes de Almeida”, em 1985, em homenagem ao símbolo do atletismo angolano, Demóstenes de Almeida Clington. Volvido algum tempo, voltou à forma inicial por questões de marketing.

O evento contou com a participaç­ão de atletas estrangeir­os a partir de 1964 primeiro no sector masculino e anos depois no feminino.

O recorde da corrida pertence ao ex-fundista etíope Hailé Gebrsalass­ie, na altura ao serviço do Kabuscorp do Palanca, com o tempo de 28:04 minutos.

O angolano Isidoro Louro foi o vencedor das três primeiras edições de âmbito nacional (1954,1955 e 1956), no entanto, superado pelo compatriot­a António Esperança, com quatro títulos consecutiv­os (de 1957 a 1960).

João Ntyamba, vencedor em 1999 e 2000, detém, entre os nacionais, o melhor tempo da corrida de fim-de-ano, com a marca de 31:33:09 minutos.

Os angolanos Alexandre João, com o tempo de 31 minutos e 26 segundos, e Ernestina Paulino (36 minutos) são os detentores dos títulos de 2019, competição nacional mas que contou com a presença de estrangeir­os residentes no país.

Disputada agora num percurso de dez quilómetro­s, a São Silvestre começa no Largo da Mutamba, passa pelas avenidas Amílcar Cabral, Revolução de Outubro e Ho-chi-min.

Segue pela Alameda Manuel Van-dúnem, Largo do Kinaxixi, Rua da Missão, Avenida 4 de Fevereiro, Largo do Baleizão, Rua Francisco das Necessidad­es e termina no Estádio dos Coqueiros.

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