Pandemia e extremos
A pandemia, que continua à solta pelo mundo, driblando cientistas e restrições, vestindo-se, para isso, com novas roupagens e usando artimanhas nunca vistas, como se não nos bastasse o vírus que a transporta ser incolor, inodoro e invisível.
Esta pandemia, além de coleccionar óbitos, como raramente doenças conhecidas causaram, superando as relacionadas com guerras, calamidades naturais e as provocadas pela inconsciência humana, arrasa economias, desfaz projectos, despedaça sonhos, escarnece de poderosos, abrevia calvários dos pobres.
A pandemia alterou os hábitos das sociedades, todas elas: as tidas como mais desenvolvidas e as do fundo da tabela do progresso engendrada por quem tem dinheiro, tempo e interesse para as mandar fazer.
A pandemia que comanda o mundo teve, igualmente, capacidade de encurtar vocabulários, aumentando uso de palavras relacionadas com ela. Entre estas, está “negacionistas”, os que se recusam, com os mais variados e disparatados argumentos, a cumprir determinações destinadas a combatê-la, pondo em risco não somente as vidas deles e dos que lhes são mais próximos, como de todos os outros.
Os “negacionistas” estão, contudo, cada vez menos sozinhos no que toca a desvarios. A oporem-se-lhes despontam, agora, os “alarmistas”, que descortinam focos de contágios em cada canto. Para eles, ninguém devia pôr o pé na rua sem estar coberto da cabeça aos pés, tal e qual apicultores. Enfim, como soe dizer-se, “nem tanto à terra, nem tanto ao mar” ou entre uns e outros “venha o diabo e escolha”.