Da experiência de Teddy Nsingui à boa presença em palco de Lethus
Foi ao som de “Pôr-do-sol”, a primeira música do concerto “Ré-clássicos”, que o Show do Mês abriu a Nona Temporada. A produção “De angolanos para angolanos” está de volta e coube à Casa das Artes de Talatona receber as duas primeiras noites, nos dias 3 e 4 de Junho. A Nova Energia “baptizou” e deu visibilidade nacional a Dennis Samaya, Heróide dos Prazeres e Luwawa, artistas que se juntaram a Tony do Fumo Filho, Lethus, Neide da Luz e Raquel Lisboa.
De salientar que o último concerto da VIII Temporada aconteceu no dia 18 de Dezembro de 2021, no Royal Plaza, espaço que testemunhou o arranque do projecto Show do Mês, no dia 31 de Janeiro de 2014. Com as restrições impostas pela pandemia da Covid-19, em 2020 e 2021, o projecto passou a ser realizado em formato live (transmissão em directo nas televisões e nas plataformas digitais), no início na Brasom e depois no CHE - Complexo Hoteleiro da Endiama, que acolheu grande parte dos concertos.
Notou-se, mais uma vez, a ousadia nos arranjos “arrojados” em temas que resistiram ao longo dos anos. A escolha de músicos desconhecidos do grande público foi um desafio e demonstrou que o trabalho de pré-produção resultou.
Se fosse no desporto, Teddy Nsingui seria o capitão da equipa e o jogador com mais actuações e, pela idade, dificilmente partilharia o campo com Omar, um baterista com pouco menos de 19 anos. Foi o mestre da guitarra e “Doutor da Música de Angola” que, em “Pôr-dosol”, deu o pontapé de saída ao tocar o instrumental que Zé Keno deixou. Durante o concerto, Teddy recordou Francó em “12600 Letters”, para a alegria dos amantes da Rumba Congolesa. Como companheiros na guitarra, Teddy teve Nzangu Nza e Berlin, no baixo, jovens instrumenti s t a s q u e v i v e m momentos de sonho.
Mas de jovens não é tudo. O lançamento do puto Omar na bateria, ao lado do percussionista Xiko Santos foi outra aposta que resultou. Omar é oriundo da escola de música do MAPTSS e um dos produtos do cubano Yasmane.
Dennis Samaya e Luwawa foram os primeiros estreantes a subirem ao palco da Casa das Artes e quem assistiu ou assiste ao espectáculo (online) sentiu o seu nervosismo e timidez nos temas “Mu Ndengue Uami” e “Olwali Hinene”.
Com o violão, Dennis Samaya “lutou” com o kimbundu na composição de António Fortunato, interpretada por Rui Mingas, “Éme Ngó”. Soltou-se um pouco e encontrou a sua praia em “Nzambi”. Sem o seu instrumento, o baixista Luwawa foi o escolhido para interpretar os temas em Umbundu, sua língua materna.
Heróide dos Prazeres, outra estreante, proporcionou uma performance a pedir um regresso. Foi ela que interpretou o último tema, “Kuikitukele”, mais uma obra de António Fortunato e um Semba para levantar poeira. Em “Athu Munjila” prendeu os presentes ao adaptar a versão de Yola Semedo deste tema revolucionário.
Raquel Lisboa e Neide da Luz são duas cantoras que são reconhecidas como coristas, com presenças em trabalhos de estúdio e em espectáculos de vários artistas angolanos. Em “Ré-clássicos” foram chamadas para algumas interpretações. Raquel Lisboa, senhora da Dikanza, emprestou a voz em “Za Boba” dos Kiezos, e Neide da Luz, a dona da “Vizinha da Zungueira”, pegou em “Morro da Maianga” de Rui Mingas.
Tony do Fumo Filho, descendente do artista que foi vocalista dos Kiezos e dos Jovens do Prenda, saiu da sua genealogia e bebeu, de Sabú Guimarães, “Ngala Ni Jienda”. Das obras deixadas pelo pai mexeu a sala com “Lamento de Mãe”, e, bem na recta final, interpretou “Wavalelela ó Mona”.
Lethus, mais uma vez, mereceu a confiança e agradou aos presentes que foram ao encontro do desconhecido em “Ré-clássicos”. Tem presença em palco, tal como o demonstrou no primeiro tema, “Ó kudizola Kuetu”, um Kilapanga deixado por Zé Kafala, e saiu-se bem em “Mu Sanzala”, uma revisitação ao reportório de Carlos Burity, com a secção de cordas e de sopros em grande estilo.