Governo etíope e rebeldes selam acordo para Tigray
Nas conversações de paz em Pretória, segundo o mediador da UA, as partes acordaram, também, em um desarmamento suave e coordenado
O governo etíope e os rebeldes de Tigray concordaram ontem, com uma "cessação das hostilidades" na Região Norte da Etiópia, em conflito há dois anos, nas conversações de paz em Pretória, anunciou o mediador da União Africana (UA), citado pela CNN. "As duas partes do conflito etíope concordaram formalmente em cessar as hostilidades", disse Olusegun Obasanjo, o alto representante da UA para o Corno de África, numa conferência de imprensa em Pretória, na África do Sul, onde decorriam, desde 25 de Outubro, as conversações de paz.
O ex-presidente da Nigéria adiantou que o governo do Primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, e as autoridades do Tigray chegaram também a acordo num "desarmamento ordenado, suave e coordenado", juntamente com o "restabelecimento da lei e da ordem", o "restabelecimento dos serviços" e o "acesso sem entraves aos fornecimentos humanitários".
Horas antes do anúncio do acordo, o Primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, afirmou que há uma "pesada interferência estrangeira" nas negociações entre o Governo e a administração Tigray, mas continuava esperançoso de que um pacto de paz seja alcançado. Falando à China Global Television Network (CGTN), Abiy disse que os etíopes podem resolver os seus problemas apesar da pressão internacional por um cessar-fogo.
Por sua vez, uma portavoz do presidente da Comissão da União Africana, Moussa Faki Mahamat, afirmava na véspera que "não houve limitação de data" nas negociações, segundo a AFP. As conversações, lideradas pela União Africana, procuravam uma cessação das hostilidades numa guerra que os Estados Unidos afirmam ter matado já centenas de milhares de pessoas, uma estimativa feita por académicos e trabalhadores na Saúde. As conversações de paz formais começaram na terça-feira da semana passada e o Governo da África do Sul começou por informar q ue t e r minariam e s t e domingo. Representantes das partes beligerantes não responderam a perguntas e nada se sabe sobre o que tem sido discutido.
A Eritreia, cujas forças estão a lutar ao lado do Exército Federal etíope, não fizeram parte nas conversações, e não é claro se o país respeitará um eventual acordo alcançado. A comunidade internacional está a tentar juntar as partes beligerantes à mesma mesa há quase dois anos. Em Junho, o PrimeiroMinistro etíope, Abiy Ahmed, anunciou a criação de um comité, chefiado pelo ministro dos negócios estrangeiros e pelo vice-primeiro-ministro, Demeke Mekonnen, para preparar eventuais negociações de paz, negando ao mesmo tempo que tenha havido quaisquer discussões com a Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF, na sigla em inglês), partido que governa o estado do Tigray, eleito em Setembro de 2020 por muito larga maioria em eleições não reconhecidas por Addis Abeba.
De acordo com várias fontes, porém, as partes beligerantes encontraram-se já por três ocasiões, uma vez nas Seychelles e duas no Djibouti. A delegação governamental presente em Pretória é chefiada por Demeke Mekonnen e a tigrínia é composta por sete membros, incluindo um porta-voz das autoridades do Estado, Getachew Reda, e um líder militar, o general Tsadkan Gebre-tensae. A Eritreia, um aliado do Exército Federal etíope e inimigo da TPLF desde uma sangrenta guerra fronteiriça em 19982000, quando o partido governou a Etiópia, não foi convidada.