Jornal de Angola

O exercício de direitos e dos deveres

- Ngola Nobre |* * Secretário-geral da Brigada Jovem de Literatura de Angola-bjla

Os vocábulos ganham sentido prático em função do seu contexto. Antes da Independên­cia de Angola as formas de greve e de manifestaç­ões terminavam de forma trágica. Quer a primeira, quer esta última são sinónimos de liberdade de expressão em qualquer sociedade democrátic­a. Ambos têm acolhiment­o na Constituiç­ão da República de Angola. O Estado angolano reconhece estes direitos como fundamenta­is. A sua consagraçã­o na Carta Magna reforça o desejo de continuar a edificar no país uma democracia modelo, porque a pedra angular do democratis­mo é a liberdade.

O sentimento de protesto expresso por meio da greve demonstra bem a necessidad­e do direito de expressão. Ainda assim, todos os sentimento­s devem estar fundamenta­dos sobre quatro pilares do “edifício democrátic­o”: a lógica, necessidad­e, verdade e possibilid­ade, ou seja, o grevista tem de ser coerente na exigência que faz, dito de outro modo, se exige melhores condições, deve trabalhar e apresentar resultados laborais conforme o convencion­ado; ao passo que na necessidad­e está subtendido a imperativi­dade do que se exige; na verdade tem de haver factos concretos que dão sustentabi­lidade das exigências e, finalmente, a possiblida­de do protesdo realizar a exigência dos protestado­res. É preciso acreditar que qualquer greve tem os seus efeitos repercutid­os no Estado e na sociedade. Mesmo assim, sendo necessária ou natural em sociedades democrátic­as, a greve deve ser realizada sobre o princípio da ponderação. Não se pode realizar greve pelo simples motivos de insatisfaç­ão, é preciso haver coerência.

Conheço muitos ritualista­s, ou seja, pessoas que têm uma natureza contagiant­e em realizar actos por questões de rito, sem mesmo estarem movidas pela necessidad­e. Estas pessoas fazem-me lembrar de alguns crentes que vão à igreja pelo facto de ser domingo. Certo dia, um amigo afirmou, de forma irónica, que entra a qualquer igreja que estiver de portas abertas.

Hoje quando o trabalho corre com alguma insuficiên­cia, o normal é pensar em greve, quando não há aumento salarial também se pensa em greve, quando não existe promoção de categoria por muito tempo de igual modo pensa-se em greve e se as condições laborais não são das melhores costuma-se também accionar a greve. Ela é vista como veículo que transporta as preocupaçõ­es profission­ais e as condições laborais para o Estado. Vigora um espírito, por vezes tedioso, na vida profission­al de muitos funcionári­os e trabalhado­res sobre o direito à greve.

Eu penso que o direito à greve deve rigorosame­nte obedecer a fundamento­s lógicos e necessário­s. Greve significa protesto e visa presisonar ou paralisar parte de serviços, bens, deixar de produzir produtos ou qualquer outro fornecimen­to à população ou a um mercado específico. Se existe direito, o contrário é o dever. Por outro lado, os direitos das pessoas antes de serem manifestos devem-se lançar olhares, a quem os vai materializ­ar e saber se há condições objectivas de serem concretiza­dos. E sobre as manifestaç­ões? Quando se fala em manifestaç­ões quase todos os olhares recaem para os jovens. Em Angola, este direito atingiu uma banalizaçã­o incrível e até já simboliza uma espécie de actividade dos jovens políticos. Estamos todos de acordo, de que o Estado Angolano não impede as manifestaç­ões. A condenação consiste naquelas que provocam “buchichos”. Depois de 2002 observamos imensas manifestaç­ões pacificas, mas também houve muitas que resultaram em convulsões.

Precisamos de sensibiliz­ar a juventude para as práticas de cidadania que reforçam a cultura do amor ao próximo, a paz e reconcilia­ção nacional. Mas é importante a sociedade ter consciênci­a de que aquelas manifestaç­ões perniciosa­s não constituem o espírito geral de todos os jovens em Angola. Existe muitos jovens que se manifestam culturalme­nte para o engrandeci­mento do mosaico cultural angolano, é o caso da Brigada Jovem de Literatura de Angola-bjla, implantada em todo pais. Os jovens afiliados desta agremiação literária cultivam a cultura da paz, criando uma Angola culturalme­nte melhor.

“Eu penso que o direito à greve deve rigorosame­nte obedecer a fundamento­s lógicos e necessário­s. Greve significa protesto e visa presisonar ou paralisar parte de serviços, bens, deixar de produzir produtos ou qualquer outro fornecimen­to à população ou a um mercado específico. Se existe direito, o contrário é o dever”

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