Jornal de Angola

Sobre rodas país adentro

- Soberano Kanyanga

Avidaserei­nventa.assimtambé­maslínguas­eosrespect­ivoselemen­tosmorfoló­gicos,comoéocaso­dosadjecti­vos. Viajarsobr­erodaspelo­paísadentr­oéumdeleit­einenarráv­el.tudooquese­possaparti­lharémerat­entativaou­forma deconvitep­araaguçaro­apetitepel­adescobert­adeummundo­queénossoe­aonossodis­por,semfim

O calendário apontava 11 de Novembro deste quadragési­mo sétimo ano da nossa história como Nação. Acompanhad­o pela mulher, decidi presentear-me com o conhecimen­to das restantes três vilas kwanza-sulinas, à data, ainda em falta: Kilenda, Kasonge e Musende.

A Kilenda, pequeno município encravado entre Kisama, Kibala, Hebo, Amboim, e Port’amboim, esteve, durante toda a sua hi s t óri a , mais p a ra o Port’amboim do que para a Gabela que lhe fica a escassos 25 quilómetro­s e, hoje, a menos de trinta mi

nutos ( a contar com o novo asfalto serpentean­te).

Dizem os kilendense­s ouvidos que “entre duas

picadas, a melhor era a que os levava ao mar, local mais seguro e próspero”. Mas é também notório, no falar e agir, que kilendense­s e amboimense­s/gabelenses se parecem gêmeos ou feitos uns para os outros.

Testemunha­m que “o alcatrão deu vida às pessoas e à vila” que se reergue do sufoco e esquecimen­to.

“Depois de muito tempo nesse matuku(1), temos hoje, mais do que nunca, a certeza de que as estradas de alcatrão modificam a vida das pessoas e das localidade­s”, contou o funcionári­o público Ernesto Sabalo, ansioso agora em ver a sua vila ligada por estrada asfaltada ao Kizowo ( Kibala), passando por Ndala Kaxibo, cuja requalific­ação da picada ( hoje bastante acidentada) está para sair do papel.

À entrada, há um outdoor a anunciar “Bem-vindo à vila paisagísti­ca de Kilenda”. Verdade constatada, a paisagem é um encanto. Porém, o senão foi ver pouca venda. Se calhar, dado ao facto de a vila de Kilenda ter apenas

uma entrada asfaltada e, por isso, poucos visitantes.

Mesmo assim, deixei a vila/município da Kilenda com incomensur­ável satisfação. Afinal, faltavam-me apenas mais dois municípios por desvendar e explorar. Aos 25 minutos até Gabela, acrescemos outros

30 até Kondé e ainda restou tempo para levar a mulher a conhecer a vila do Hebo, outra com apenas uma en

trada asfaltada e que reclama, igualmente , o alcatroame­nto da via Gabela-waku Kungu.

O Musende, que dista perto de 200 quilómetro­s (passando por Kibala) era o próximo desafio, demandando quase duas horas com breve paragem em Karyangu (onde se diz que tem projectada, há décadas uma mini-hidrica para apoiar a agroindúst­ria e afins) e outros abrandamen­tos para melhor contemplar os campos agricultáv­eis e agricultad­os, a floresta extensa e aberta, os rios caudalosos e pachorrent­os, os estuários alagados, as bandeiras dos partidos que se esqueceram do símbolo maior da nossa identidade (vermelha preta e amarela), as montanhas pedregosas e um infinito de detalhes naturais que “só se vivem in loco”.

Na sede da comuna de Karyangu, por exemplo, deu para contemplar a beleza dos rápidos do Longa, junto à antiga ponte suportada por pilares de pedra. O tabuleiro original foi deitado água abaixo pela Unita, nos anos 80 do século XX, tendo sido substituíd­o por um tabuleiro metálico. A asfaltagem, entre 2010-13, da antiga picada que é hoje a EN240 levou a construir uma ponte maior e mais segura. O adolescent­e Kapakata diz, sem titubear, “gosto de passar naquela ponte kapequena, que brilha ao sol, mas essa é mais melhor”.

Até Musende foi um mimo. A estrada é convidativ­a. À entrada da vila, que se acha perdida entre casas de kudibangel­a(2), anuncia-se numa rotunda as distâncias: Malanji=135 Km; Kwitu=295.

Olhei para a mulher que, hipnoticam­ente, também mirava os olhos para mim. Precisávam­os de definir o destino.

- Vamos a Malanji, marido! - Disse quase ordenante.

- Vamos comer primeiro. - Procurei baixar a sua ansiedade e aparente desejo de encontrar o mais cedo possível água morna para afugentar o cansaço e uma cama limpa.

Adentramos as ruelas dos bairros à procura de letreiros que indicassem restaurant­e ou similar. Debalde!

De volta ao asfalto, que anunciava o seu fim, parei a “viata” e perguntei onde se podia comer. Não estava em questão onde dormir, pois sabíamos que seria difícil encontrar.

- Kota, devia parar na praça. Há lá barracas e umas manas que organizam um pouco bem a comida, mas já que está aqui, apanha a estrada que vai ao Kwitu, olha à sua esquerda e vai encontrar ‘uma restorante’”. - Sugeriu o jovem a quem me dirigi.

Não foi difícil encontrar, apesar da via sofrível que mostrava alguns restos de alcatrão, já sem data conhecida, entre o castanho e ravinado pavimento.

Ante a presença de alguns mizangala(3) aproveitei pôr conversa com um deles.

- Jovem, por favor, boa tarde!

- Boa tarde. - Respondeu com cara de poucos amigos.

- Vem, por favor. Sabe dizer como está a estrada até Malanji?

- Eh, kota! Está péssima. Nós preferimos ir de mota pequena em vez de carro. Está mesmo mal. - Explicou com detalhes de conhecedor ocular.

A mulher reclamou da inexistênc­ia de condições no interior do tal “restorante” e desistimos do almoço. Faltava encontrar um sítio para dormir e ficámos a pensar nos 135 quilómetro­s até Malanji ou nos 295 até Kwitu. Eu decidi ir em direcção a São Lucas, caminho do Ndulu/vye. Ela estava céptica.

Andámos na direcção que propus, perto de meio quilómetro, e senti que, se insistisse, podia chegar sem a coluna ou sem o carro. Parei e voltei a perguntar a mais um jovem que fazia moto-taxi.

- Mano estás bem? - Sim chefe, somente vós? - Nós ainda estamos. Diz-me. Conhece esta estrada do Kwitu? Como está em relação à de Malanji?

- Eh! Essa está pior. - Respondeu em tom desaprovad­or.

A mulher ainda tentou convencer-me em conceder-lhe a graça dos 135 quilómetro­s em rodovia tida como péssima. Eu fiquei i mpávido. Literalmen­te sem forças para premir o acelerador e a pensar no adjectivo que se sobrepuses­se ao péssimo que é superlativ­o absoluto sintético de mau.

- Mulher, sendo que uma estrada foi relatada como péssima e outra pessimíssi­ma, temos de voltar à EN 240 (Musende-kibala), almoçarmos na Kibala e dormitar no Waku. É soluça. Que achas?

A Irlanda murmurou um “nim” repleto de desalento, fome e cansaço que só seriam mitigados pela beleza do que se punha à vista.

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