Jornal de Angola

A paz regional

-

A cimeira quadripart­ida mais um, formato por via do qual se vão reunir, em Luanda, o Chefe de Estado angolano e Presidente da Conferênci­a Internacio­nal para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), João Lourenço, os Presidente­s da República Democrátic­a do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, do Rwanda, Paul Kagame, do Burundi, Évariste Ndayishimi­ye e o ex-presidente do Quénia, Uhuru Kenyatta, constitui mais uma oportunida­de para fazer funcionar a sagesse africana. A sabedoria africana, quando aplicada à vida política, pelo menos a este nível, sobretudo numa conjuntura como a actual, lembra-nos da necessidad­e do recurso a soluções africanas para os problemas africanos, exactament­e como as lideranças pretendem para a região. Tratase de uma iniciativa relevante e todos auguram que, a partir de Luanda, saiam as soluções que se esperam para abrir uma nova página no que a pacificaçã­o e estabiliza­ção do Leste da RDC diz respeito.

Em Luanda, as lideranças convidadas vão procurar aprovar o Plano de Acção para Paz na RDC e o restabelec­imento de boas relações entre o referido país e o Rwanda, dois grandes objectivos que poderão ser alcançados na capital angolana, como acreditamo­s e esperamos.

Mandatado pela União Africana para mediar, o Presidente João Lourenço está a empreender esforços que fazem jus à condição de líder da CIRGL e de “campeão para a paz” em África, um desafio que o Chefe de Estado abraçou com toda a força. O Plano de Acção para Paz na RDC é um instrument­o criado para trazer paz e “refazer” as relações entre a RDC e o Rwanda, bastante afectadas pelos acontecime­ntos marcados pelas actividade­s do chamado grupo M-23. Esta milícia armada, que desafia o poder de Estado dentro da RDC, precisa de ser contida, desarmada, desmobiliz­ada e os seus elementos serem reintegrad­os na sociedade congolesa. Essa parte do processo, independen­temente de as autoridade­s congolesas e a sociedade em geral terem várias leituras sobre o referido movimento, de congoleses tidos por uns como nacionais e por outros como estrangeir­os vindo do país vizinho, deve dar lugar a abordagens mais consentâne­as com o que se passa realmente na RDC. Trata-se, essencialm­ente, de um problema interno que, ao nível da própria RDC, deverá conhecer uma solução mais endógena, quando nos referimos aqui ao destino que deverá ser reservado aos elementos do M-23.

Concordamo­s com a posição assumida pelas autoridade­s da RDC, segundo a qual o M-23 deve aquartelar, desarmar-se, desmobiliz­ar-se e reintegrar-se na sociedade congolesa, mas nunca será demais reservar espaço para uma solução congolesa. Embora as lideranças regionais procurem, a partir de Luanda, encontrar as melhores soluções de paz e melhoria das relações bilaterais entre o Rwanda e a RDC, não há dúvidas de que um desfecho que reserve tempo e espaço para discutir sobre os elementos do M-23 faz todo o sentido. Por mais que sejam considerad­os como “forças negativas”, espécie de “ervas daninhas”, que deveriam ser desarraiga­das da sociedade congolesa, a previsão de um quadro em que se assegurem os direitos desta comunidade pode ser a melhor saída. Esperemos que da cimeira de Luanda, a realizar-se na quinta-feira, saiam importante­s contributo­s para a paz regional.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola