A paz no Leste da RDC é vital para Angola
Mais do que uma visão da realidade de então, a célebre frase do engenheiro agrónomo francês, René Dumont, traduzida num livro, “l´afrique noire est mal partie” (África Negra começou mal, em tradução livre), 1962, assenta ainda hoje que nem uma luva quando olhamos para o que se passa em vários países da região subsariana, de forma particular para a zona mais central do continente.
Falo, por isso, de modo particular da República Democrática do Congo (RDC) onde depois da morte de Lumumba, por agitação ocidental, o país não mais se reencontrou e desde que Mobutu ascendeu ao poder parece estar ainda a viver uma maldição. Na verdade, é o que muitos chamam a maldição dos recursos, em particular dos recursos do Norte e Leste da RDC que, volta e meia, é agitada com insurreições e outros movimentos que de conflito com envolvimento de países limítrofes, quando não também sob influência de outras forças.
O recrudescimento do conflito na RDC, nos últimos meses, faz ressuscitar as correntes que defendem uma solução baseada na fractura do país, ignorando assim a partilha de África ocorrida na conferência de Berlim e as fronteiras herdadas do colonialismo, aceites sob as convenções da União Africana. Quando se olha a fundo as reivindicações do M23, fica subjacente essa intenção. A existência de elementos da etnia tutsi na região do Kivu Norte tem sido o pretexto da evocação de um antigo reino único naquela zona e a sua reaproximação ao Rwanda e Uganda poderá ser um passo nessa direcção, e daqui a acusação do envolvimento dos países limítrofes no apoio àquele e outros movimentos insurgentes.
Para já, vale o esforço e a vocação do peace maker que Angola assume, desde Agostinho Neto e José Eduardo dos Santos, agora também no mandato de João Lourenço que não poupa esforços para devolver a paz e a estabilidade naquela região.
Se em termos políticos e diplomáticos Angola assume desse modo um papel importante no continente, o mesmo racional é válido em termos económicos. Angola tem um interesse particular para que a RDC esteja em paz e estável na medida em que a sua aposta no corredor do Lobito pode ser condicionada em termos de resultados ao que se passar ali.
Por outro lado, não podemos ignorar os laços culturais e transfronteiriços existentes entre Angola e a RDC. A capital do Reino do Kongo situa-se em Angola, mas aquela entidade sociopolítica de África tem maior expressão geográfica na RDC. Ademais, a RDC é o país com o qual Angola tem a sua maior fronteira, exceptuando, obviamente, a costa atlântica.
Vemos todos, com grande expectativa, os esforços diplomáticos do Presidente João Lourenço, com apoio de outros estadistas para que se consiga um entendimento entre os beligerantes e os seus apoiantes, evitando-se assim ofensivas e contra-ofensivas ao nível militar. A concertação política é então um caminho importante e salutar numa altura em que está prevista para hoje, em Luanda, uma cimeira que poderá juntar Tchisekedi e Kagame.
Os relatos populares de ataques às cidades e vilas de Kivu Norte pelas milícias fortemente armadas do M23 deixam uma grande preocupação. Espera-se que o bom senso prevaleça, mas acima de tudo que os esforços diplomáticos de Angola sejam confirmados com a resolução definitiva do diferendo, permitindo assim a instauração de um clima de paz salutar para todos.
Vemos todos, com grande expectativa, os esforços diplomáticos do Presidente João Lourenço, com apoio de outros estadistas para que se consiga um entendimento entre os beligerantes e os seus apoiantes, evitando-se assim ofensivas e contra-ofensivas ao nível militar