Jornal de Angola

Ordem quer maior participaç­ão na solução de problemas do país

Classe apela para maior eficácia no combate às construçõe­s anárquicas, numa altura em que cerca de 80 por cento da população angolana vive em habitações erguidas nas periferias e com pouca qualidade nas infra-estruturas urbanas

- Edivaldo Cristóvão |

dos Engenheiro­s de Angola (OEA) pretende estar, cada vez mais, alinhada às recentes recomendaç­ões do Conselho de Ministros sobre o Plano de Acção para a província de Luanda, concretame­nte, nos problemas mais preocupant­es e na implementa­ção de soluções que contribuam, de facto, para a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos.

O bastonário da Ordem, engenheiro Paulino Neto, que f al ava, ontem, em Luanda, durante o I Encontro do Colégio de Engenharia Civil, defendeu a criação de bases para definir o futuro das cidades, como erradicar os bairros com habitações precárias e os também designados por musseques.

Relativame­nte às cidades em Angola, considera essas são perímetros formados pelo casco urbano, consolidad­o por uma extensão de bairro, onde a população, por sua espontânea iniciativa, foi resolvendo uma das suas necessidad­es primárias, que consiste no direito à habitação.

“Mas, com a guerra iniciou- se um processo de migração do campo para a cidade, que, posteriorm­ente, cresceu de forma exponencia­l e, na maior parte dos casos, descontrol­adamente, com a população rural à procura de segurança, melhores

c o ndições d e v i da, de emprego, saúde e acesso ao ensino”, esclareceu.

O bastonário salientou que, hoje, a realidade angolana é muito mais de casas precárias do que de habitações tradiciona­is.

Neste momento, cerca de 80 por cento da população angolana vive em habitações construída­s nas periferias e com pouca qualidade nas infra-estruturas urbanas.

Em função dessa realidade, sublinhou o engenheiro, o Estado perdeu o controlo do cresciment­o das cidades, da sua organizaçã­o, da capacidade de dotá-las de infra-estruturas condignas para o cidadão, que procura a satisfação de um direito básico em ter uma habitação.

O bastonário alertou que esta realidade deve ser invertida e pede aos engenheiro­s para apresentar soluções imediatas. “Hoje, sabemos que quem vive na periferia sofre, diariament­e, com a

distribuiç­ão de energia elétrica e água”.

Paulino Neto referiu, ainda, boa parte das casas não possui sanitários, nem as urbanizaçõ­es que as servem dispõem de saneamento básico, pelo que os seus habitantes adoecem mais vezes, o que implica menos dias produtivos, ou seja, um ciclo vicioso de pobreza.

Durante o encontro, que decorreu sob o l ema “A Engenharia Civil na Vanguarda do Desenvolvi­mento de Angola”, o bastonário acrescento­u que, em consequênc­ia deste fenómeno, acresce o facto destes aglomerado­s populacion­ais não possuírem acessos francos ao seu interior, causando, muitas vezes, problemas de segurança pública.

No evento, que congrega académicos, profission­ais do sector, estudantes, instituiçõ­es de ensino, associaçõe­s profission­ais, empresas e pessoal do sector da Saúde, estão a ser abordados temas sobre “Infra-estruturas de Transporte­s e a Zona de Livre Comércio Continenta­l Africana”, “Infra-estruturas de Água e Saneamento” e “A Indústria Arquitectu­ra, Engenharia, Construção e Operação em Angola”.

O bastonário destacou se tratar da primeira vez, em 30 anos, que o Colégio de Engenharia Civil organiza o seu primeiro encontro e espera que continua a ser seguido pelos restantes grupos que constituem a Ordem.

Construçõe­s anárquicas

Paulino Neto alertou que tem sido frequente a construção anárquica em terrenos privados, sem as devidas licenças de construção ou habitabili­dade e, sobretudo, a ocupação de espaços públicos para uso privado (geradores, habitação e escolas), sem que as devidas licenças e direitos de superfície revertam a favor do Estado.

Realçou, ainda, ser notório o desenvolvi­mento de negócios em espaços públicos, com o aproveitam­ento dos avultados investimen­tos em infra-estruturas já executadas pelo Estado, como por exemplo, bares em passeios e outros negócios em praias, sem que o Estado seja devidament­e compensado, impossibil itando- o de assumir as suas funções de segurança, manutenção e reinvestim­ento em infra-estruturas.

“Estas verbas provenient­es das licenças resultante­s dessas regulariza­ções poderão financiar as propostas de impacto socioeconó­mico imediato, bem como contribuir para a geração de empregos, com a construção e manutenção de vários serviços públicos”, avançou.

O bastonário considera que as regras da urbanidade no país foram abandonada­s, desde a elaboração do processo do proprietár­io do terreno e no tratamento da licença de construção.

As regras, prosseguiu o engenheiro, foram ignoradas, retirando a capacidade financeira ao Estado de gerir e direcionar o cresciment­o das urbes e dotá-las em infra-estruturas adequadas.

Considera que o círculo vicioso da pobreza e o desinvesti­mento no futuro tem que ser invertido. Para tal, é necessário implementa­r estratégia­s concretas que permitam inverter este quadro.

Paulino Neto apontou que, para erradicar os bairros com habitações precárias e os também designados por musseques, deve ser uma missão a ser conduzida por engenheiro­s civis, desde o planeament­o à execução e tem de envolver arquitecto­s, urbanistas, sociólogos e assistente­s sociais, colocando, em primeiro lugar, a dimensão humana.

O bastonário salientou, igualmente, que a construção de habitações pode ter um grande impacto no desenvolvi­mento, na criação de emprego, dignidade, segurança e na diminuição da pobreza de todos angolanos.

“A construção de habitações pode ter um grande impacto no desenvolvi­mento, na criação de emprego, dignidade, segurança e na diminuição da pobreza”

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DR Apenas cerca de 20 por cento da população angolana vive em habitações nas zonas urbanas

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